Conta-me Como Foi – Review da 6.ª Temporada
| 26 Abr, 2020

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Conta-me Como Foi não precisa de apresentações. É a série portuguesa mais querida do povo português e regressou no final do ano passado para mais uma temporada, desta vez passada dez anos após o final da quinta, nos anos 80. Durante 19 episódios, voltámos a acompanhar a vida da família Lopes e companhia, personagens desempenhadas pelos mesmos atores de há dez anos.

Quando anunciaram o regresso da série, fiquei um bocado cética. Conta-me Como Foi era uma daquelas séries que acompanhava em família e trazia-me muito boas recordações, além de que tinha um elenco fantástico e uma história que nos prendia ao ecrã. A série tinha terminado em 2011 e nestes oito anos mudou muita coisa, tanto na série como na minha vida, pois agora vi a série com outros olhos, de um ponto de vista mais adulto, mudança que também aconteceu com as personagens da série.

Podendo a minha memória estar a enganar-me, senti que esta 6.ª temporada de Conta-me Como Foi não conseguiu igualar a qualidade das primeiras. Não querendo com isto dizer que esta temporada foi má. Continua a ser a minha série portuguesa preferida.

Seguindo o mesmo esquema, com o Carlitos como narrador e tentado incluir uma parte histórica na trama da série, Conta-me Como Foi podia ter sido um pouco mais ambicioso na abordagem de alguns os assuntos. Eu sei que é uma série para toda a família, mas faltou ali qualquer coisa para algumas histórias e cenas parecerem reais. Por exemplo, o caso do consumo de drogas do Emídio (Tiago Delfino). O que foi retratado na série foi uma versão muito leve de um problema que deteriora imensamente as pessoas tanto por dentro, como por fora. A personagem não me pareceu deteriorada nem por dentro nem por fora, além de que as recuperações e recaídas aconteciam de forma bastante rápida, o que na realidade não acontece. Também é idealista a recuperação da personagem nos últimos episódios. A série passou uma mensagem de que é fácil largar um vício, quando não o é, através de uma personagem que poderia ter sido muito interessante se melhor explorada, coisa que nem o argumento nem o ator conseguiram fazer.

Outro caso de mau desenvolvimento da história e das personagens foi o caso dos problemas de casamento entre o António (Miguel Guilherme) e a Margarida (Rita Blanco). Tanto um como o outro são excelentes atores e voltaram a desempenhar estas duas personagens de forma superior, mas se não nos fosse dito que eles estavam com problemas graves no casamento, não teria feito essa interpretação. O que é mostrado ao público são discussões normais entre um casal, nada do que testemunhei me pareceu razão para uma possível separação. Se tivessem explorado mais a relação entre os dois, talvez isso tivesse ficado evidenciado, mas infelizmente isso não aconteceu.

A relação da Luz (Madalena Almeida) com o Carlos (Luís Ganito) também me pareceu demasiado superficial. Tão depressa estão juntos como não estão; tão depressa não se querem ver à frente um do outro, como um pedido de desculpas basta para fazerem as pazes? Não me pareceu nada real e é uma pena, até porque Madalena Almeida fez um trabalho excelente com a personagem.

Penso que uma solução para estes dois problemas teria sido abordarem mais profundamente algumas histórias, em vez de haver tantas ao mesmo tempo, o que causa problemas de veracidade e diminui logo aqui um pouco a qualidade da série.

Em termos mais técnicos, tenho duas coisas a apontar: o som é a primeira. Principalmente nos primeiros episódios, a qualidade do som era bastante baixa, era difícil perceber o que as personagens diziam e, numa série destas, isso não devia acontecer. O segundo aspeto é os planos dos edifícios, que muitas vezes aparecia com as fachadas cortadas, mostrando apenas a parte de cima. Opção que estou em crer que foi feitas por a paisagem ter elementos que não existiam nos anos 80, mas que não foi uma opção feliz. Não é a primeira série portuguesa em que sinto que esta opção foi tomada por esta razão e este é o ponto menos positivo em toda a realização.

Um dos pontos altos da série é a dinâmica entre a Amparo (Mafalda Vilhena) e o Zé (Rui Melo). As cenas n’A Francesinha nunca ficaram aquém do que era pedido. Também de realçar a interpretação de João Reis como Inácio. Sempre com aquele ar de superior aos outros, o ator conseguiu com que eu odiasse a personagem.

É de realçar o trabalho dos cabelo e maquilhagem e do guarda-roupa, assim como os cenários. Apesar de não ter vivido nos anos 80, muito dos elementos de decoração, dos móveis e das roupas eram parecidos ou idênticos a alguns que pertencem aos meus pais ou avós, contribuindo assim para uma representação visual bastante fiel ao original.

Em geral, a minha avaliação é positiva. Grande parte do elenco teve prestações sólidas, tirando uma ou outra exceção do elenco mais jovem e as histórias das personagens conseguiram cativar. Gostei do facto de terem abordados alguns temas sérios, como as drogas, o cancro ou o preconceito de que o psicólogo é só para maluquinhos. Foi bom poder ouvir alguns dos clássicos da música portuguesa durante os episódios e não podia ter havido melhor escolha do que a canção “Dunas” do GNR para o genérico inicial. Agora, resta esperar por outubro, para ver o que se segue na vida da família Lopes.

Melhor episódio:

Episódio 19 – Não achei que houvesse um episódio que se destacasse mais do que os outros. Houve uns de que gostei menos e outros de que gostei mais, mas, no geral, estiveram todos praticamente ao mesmo nível. Escolhi o último episódio, porque foi o que considerei mais entusiasmante. Toda aquela tensão de se descobrir que o Inácio estava metido em maus lençóis e se se contava ou não à Isabel (Rita Brutt), e se ia haver casamento deixaram o telespectador curioso com o desfecho do mesmo.

Personagem de destaque:

Luz (Madalena Almeida) A Luz começa por nos ser apresentada como a típica menina rica e mimada, mas depressa percebemos que a filha do Inácio tem ambições e quer romper com os estereótipos ligados a si. Não tarda a começar a trabalhar no parque de campismo dos Lopes, apaixona-se pelo Carlos, que não é do mesmo estatuto social que ela e, mais tarde, mostra ambições de seguir uma carreira no mundo da dança e ir estudar para Londres. Este crescimento da personagem fez com que a minha opinião sobre ela fosse mudando ao longo da temporada, fazendo dela uma das personagens que mais cresceu e se destacou ao longo destes 19 episódios.

Cláudia Bilé

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