Dracula – Review da Minissérie
| 21 Jan, 2020

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Minissérie

Número de Episódios: 3

[Contém spoilers]

O início de 2020 foi marcado pela estreia de Dracula, mais uma adaptação relativa ao famoso personagem, desta vez pelas mãos dos criadores de Sherlock, Mark Gatiss e Steven Moffat. A adaptação, por estes criadores, da história do célebre vampiro concebida por Bram Stoker, não poderia ter criado mais expectativa nos fãs, podendo ser este o motivo do porque da desilusão aquando da visualização do último episódio da minissérie.

As inúmeras adaptações já feitas à história de Drácula levam a que seja difícil criar algo novo ou até mesmo surpreendente, a não ser que os espectadores sejam como eu e em pleno século XXI ainda não tenham lido o livro de Bram Stoker ou visto alguma dessas adaptações já feitas sobre o vampiro. Dessa forma, e colocando a possibilidade anteriormente referida de lado, essa variedade de conteúdo pode levar a que a tentativa de pegar na história já imensamente conhecida se torne um fracasso, ao cair no erro de forçar algum tipo de novidade com a intenção de conseguir o tão esperado efeito surpresa.

Penso que foi isso que aconteceu com a minissérie produzida pela Netflix em parceria com a BBC, uma vez que apesar de ter tido um magnífico primeiro episódio, que elevou ainda mais as expectativas, começou a despencar em queda livre em termos de qualidade nos restantes episódios, culminando num terceiro desastroso. Este apresenta um estilo totalmente diferente dos dois primeiros episódios, mostrando um Conde Drácula, que após ficar adormecido no fundo do mar durante 123 anos, acorda no ano de 2020.

Não vou mentir e dizer que a ideia não me agradou, no entanto, estando perante uma minissérie de somente três episódios, colocar um vampiro de 1897, com uma imensa história, no ano de 2020, apenas no último episódio, leva a que seja tudo muito precipitado (mesmo o episódio tendo a duração de 90 minutos) e muitas vezes totalmente fora do contexto (como por exemplo o facto de Drácula saber usar a internet assim do nada e aprender a usar o Skype igualmente do nada, acabando por usar este meio para chamar o seu advogado, a fim de este o ajudar na sua libertação, uma vez que o Conde tinha sido preso por Zoe, parente da freira Agatha). Sendo que ele é um vampiro antiquado, não me parece plausível que aprenda a fazer todas essas coisas num abrir e fechar de olhos, adaptando-se assim tão facilmente a essa nova realidade. Já para não falar que essa nova realidade não trouxe somente toda a questão da adaptação do vampiro, mas também trouxe personagens novas, que tinham tudo para serem importantes e acrescentar algo à narrativa, mas que tiveram uma passagem tão efémera na história, que quase nem demos por elas, ou pela sua importãncia. Além disso, não se pode esquecer que já vinha toda uma história de trás e tentar conjugar todos estes pontos num único episódio não me pareceu ter um resultado favorável.

Do meu ponto de vista, e correndo o risco de ser crucificada, se era para seguir essa abordagem, o melhor seria ter utilizado o cliffhanger do final do segundo episódio no último, dando bases a que essa nova realidade fosse abordada numa 2.ª temporada, sendo assim possível apresentar algo com mais pés e cabeça, muito mais fundamentado e muito menos apressado. Eu prefiria bem mais que mesmo que não houvesse uma 2.ª temporada, essa realidade tivesse sido apresentada no final, deixando-nos a ponderar o que poderia sair dali (e depois caso fosse confirmada uma nova temporada, constatar se as expectativas correspondiam ou não), do que ter este episódio avulso, que tentou terminar a história não só de forma rápida, mas também desleixada, perdendo-se assim uma oportunidade de se conseguir algo que até poderia vir a ser muito bom (se fosse bem feito, claro).

Contudo, eu não desgostei totalmente da adaptação, mas estava à espera de mais, não só por causa do primeiro episódio, que se revelou bastante bom, mas também por saber que era uma adaptação dos criadores de Sherlock (série de que tanto gosto) e portanto as minhas expectativas estavam muito elevadas. Mais do que um vampiro sarcástico e wanna be sensual, estava à espera de um vampiro cruel, que demonstrasse que o terror apresentado no primeiro episódio era somente um aquecimento (e olhem que para quem não gosta de terror, estar a dizer algo assim significa bastante) e não o contrário (sendo que, a meu ver, o segundo e terceiro episódio perderam bastante o fator terror). Para além disso, estava à espera que a adaptação desse um conhecimento ainda mais profundo desta criatura e dos mitos que a envolvem, algo que até estávamos a conseguir através da Agatha Van Helsing, mas que com um final tão célere nem deu para aproveitar bem.

Sendo assim, Dracula deixou-me ligeiramente desapontada, com a sensação que podia ter sido feito muito mais, mesmo sabendo que é dificil dado a vasta variedade de histórias já apresentadas sobre o vampiro. No entanto, não penso que se perde nada em ver, sendo que nem tudo foi mau, existindo momentos, e personagens, pelos quais vale a pena visualizar a adaptação.

Episódio de Destaque:

Episódio 1 – O episódio inicial começa por contar a história do Conde Drácula, sendo esta relatada por Jonathan Harker, o advogado que fica refém do Conde após ter viajado para o seu castelo na Transilvânia, a fim de tratar de um contrato imobiliário em Londres, local para onde o vampiro se queria mudar. O episódio faz um bom trabalho em prender a atenção do espectador, conjugando uma narrativa interessante (intercalando passado e presente), com boas atuações (principalmente da freira Agatha), bons momentos de terror (e nojentos também), cenas divertidas e reviravoltas inesperadas.

Personagem de Destaque:

Agatha Van Helsing (Dolly Wells) – Sem dúvida que acrescentar a freira foi uma mais valia para a minissérie. Para além de ser engraçada, proporcionando momentos bastante divertidos, Agatha consegue transparecer uma personagem forte e destemida, que não tem medo de fazer o que for necessário (inclusive morrer), a fim de conseguir o que quer. Isto torna-a, sem dúvida, uma rival à altura de Drácula e, portanto, a personagem de maior destaque da adaptação.

Cármen Silva

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