Desde há muito tempo que gosto especialmente de histórias à volta da Segunda Guerra Mundial e fiquei bastante entusiasmada em relação a World On Fire. Muitas das vezes essas histórias são sobre o Holocausto, a parte mais negra do conflito, e esta prometia algo de diferente. A série começou bastante bem, com três primeiros episódios bastante sólidos onde somos levados até à Polónia, o primeiro país a ser invadido e tomado pelas tropas nazis, mas também até Inglaterra, França e Alemanha. Conhecemos as histórias de pessoas comuns cujas vidas são completamente mudadas pelo conflito, mas para alguns a guerra é algo distante e a vida continua. No entanto, a partir de meio, parece que há alguma coisa que muda na série. Deixa de ser tão excitante, acho que é perdido demasiado tempo com personagens e situações que poderíamos ver em qualquer tipo de série, passada em qualquer altura. É claro que nunca deixamos de ver a luta dos resistentes polacos, nem aqueles que estão a combater e se arriscam a morrer, mas dá-me a sensação de que fica ali a faltar alguma coisa. Sei que isto se deve também ao facto de não ter conseguido estabelecer uma proximidade com a maioria dos personagens.
Precisávamos de mais momentos como os que andam à volta dos Rossler, uma família alemã que se distancia em muito dos ideias nazis, mas cujo patriarca se vê forçado a integrar o Partido para proteger a filha de uma morte quase certa. Vê-se o quão difícil era ser oposição num país em que o mal se tinha tornado lei. Deu cabo de mim a cena em que o filho dos Rossler, um jovem combatente do exército alemão, diz que é um deles porque está a lutar por eles e Nancy lhe diz que não tem escolha, ao que ele responde que tem, só que não é corajoso para fazer a escolha certa. No entanto, também não vejo como é que ele podia ter grande escolha. Podia fugir? OK, talvez, mas não poderia nunca voltar ao seu país e no primeiro ano da guerra ninguém imaginava que a Alemanha pudesse sair derrotada. O que é que o esperava se voltasse ou se simplesmente fosse apanhado? A morte por ter traído o país ou por ter desertado, certamente.
Quando acabou a guerra, os Aliados fizeram uma diferenciação entre os soldados comuns e os SS, entre outros grandes responsáveis pelas atrocidades cometidas. Uns foram obrigados a lutar – embora muitos o quisessem também -, enquanto outros foram os arquitetos do Holocausto e os responsáveis pela grande máquina assassina nazi. A diferença é muita. É precisamente quando nos faz pensar nestas questões que a série se torna bem sucedida e quando explora o quanto era difícil sobreviver-se quando se era diferente, quer porque se é negro, judeu, homossexual ou simplesmente porque não se partilha dos asquerosos ideais nazis. Deixa-me também a pensar como é que houve uma percentagem tão grande da população a apoiar os nazis. Muitas das atrocidades só terão sido conhecidas depois de a guerra terminar, mas será que o mundo era completamente alheio ao que se passava nos campos de concentração, nos guetos e pelas ruas dos países invadidos? Ou será que o mundo preferiu fechar os olhos e acreditar que tal maldade não era possível? A resposta, seja ela qual for, assusta-me.
E assusta-me ainda mais porque a verdade é que o mundo não parece ter aprendido muito com a História. Diz-se esta frase muitas vezes, mas só porque é verdade e, agora mais do que nunca, faz sentido repeti-la vezes sem conta. Os extremismos estão aí em força por toda a Europa e digamos que não estou nada contente com algumas surpresas que chegaram ao nosso Parlamento.
World On Fire tinha tudo para ser uma série extraordinária, mas acho que se fica apenas pelo boa. Confesso que também fiquei um pouco desagradada por uma série que tinha sido anunciada como mini ter sido renovada. Quando estabeleço um compromisso de poucos episódios com uma série não estou à espera de que tal passe a um compromisso a longo prazo. Parece que há planos para seis temporadas – mais cinco, portanto – de World On Fire, portanto suponho que iremos ver abordados os seis anos do conflito, de 1939 a 1945, mas apesar de o meu balanço ser positivo, não fiquei conquistada para voltar para uma 2.ª temporada.
Melhor Episódio:
Episódio 3 – Não foi difícil escolher um episódio, porque este terceiro revela-se o mais ‘forte’ de todos. Em termos de ação, temos um navio inglês a ser atacado pelos alemães, cujo poderio parece inesgotável em todas as frentes, seja no ar, em terra ou na água. No entanto, é pelos momentos que mais apelam à emoção que este se mostrou um episódio memorável. Por um lado, temos Jan, o menino polaco, a sofrer de bullying na escola. É sabido o quanto as crianças podem ser cruéis e, para todos os efeitos, Jan não é visto como um deles. Os miúdos ingleses pensam que ele é alemão e veem-no como um inimigo, mas Robina, um pouco inesperadamente – se bem que sempre suspeitei que há um bom coração debaixo daquela maneira de ser emproada – defende-o com unhas e dentes, explicando que a família dele está a lutar contra Hitler, coisa que não podia ser mais verdade. No entanto, o melhor do episódio, embora mais difícil de assistir também, é quando vemos Nancy tentar descobrir os planos dos nazis para as pessoas com deficiências ou com certas doenças que eles consideram uma ameaça à sua superioridade racial. Não me surpreendeu, já tinha lido um livro que relatava muitas das atrocidades que o III Reich cometeu neste campo, mas ver estas pessoas – mesmo que sejam fictícias – a viver nessa altura e a aperceber-se que a maldade dos nazis não tem limites não deixa de ser devastador.
Personagem de destaque:
Nancy Campbell – A série tem muitos personagens centrais que se vão destacando mais ou menos conforme os episódios ou o decorrer da própria narrativa, mas Nancy é a personagem que, desde o início, mais me cativou. Ela é uma destemida jornalista americana que se encontra na Europa para difundir a realidade da Segunda Guerra Mundial. São várias as vezes em que ignora ordens superiores e conta a verdade como ela é, ao invés da ‘verdade’ que convém fazer passar cá para fora. Embora ciente daquilo que os alemães são capazes, Nancy está determinada em não se deixar intimidar e é a prova viva de que o jornalismo é o quarto poder.