Engrenages – Review da 7.ª temporada
| 25 Nov, 2019

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Temporada: 7

Número de episódios: 12

[Contém spoilers]

Depois de uma 6.ª temporada bastante inferior às anteriores, esta 7.ª temporada de Engrenages começa bastante bem, trazendo uma investigação interessante de homicídio e que toca de alguma forma, porque se trata de Herville, personagem que já conhecíamos bem, o antigo chefe da equipa da Polícia Judiciária. Com histórias interessantes dos personagens principais a serem também trazidas à baila, os dados para uma boa temporada estão lançados.

Esta temporada de Engrenages arranca então com a equipa, agora liderada por Gilou na ausência de Laure, a debruçar-se na busca pelo assassino de Herville. Nesta série, os casos resolvem-se de uma forma mais realista do que nas séries americanas, com investigação feita nas ruas, a vigiar suspeitos, com escutas telefónicas, e não através de informações descobertas em bases de dados improváveis no computador. O ritmo inicial é bastante bom, mas a segunda metade da temporada perde algum desse ‘fogo’ e há até alturas em que a investigação começa a tornar-se um pouco confusa.

Lembram-se da Laure incrivelmente obstinada – e obcecada – da 3.ª temporada? Essa Laure está de volta e em força, com o apoio incondicional de Gilou. Se tantas vezes Joséphine pode ser acusada de não evoluir, o mesmo se pode dizer destes dois, em especial de Laure. Eu sei que desta vez o caso é pessoal, que se trata de um deles, mas o completo desrespeito pelas regras torna-se um pouco revoltante. Põem o resto da equipa de parte, tornando-se a frente unida que Tintin se ressente por eles serem – não sem razão, para ser justa – e ao desrespeitarem os procedimentos esquecem-se de que podem pôr em causa toda a investigação. Esquecem-se ainda de que há outras pessoas à volta deles que sempre lhes mostraram lealdade e que também querem apanhar os culpados, mas que preferem seguir pelo caminho correto. Não quero de forma alguma fazer dos dois os maus da fita, até porque eles têm o coração no sítio certo e boas intenções, mas pecam pela forma como agem. Até aqui não houve grandes consequências, mas agora Gilou está metido em grandes sarilhos e não sei se se safará com facilidade da prisão. Apesar de tudo, em muitos aspetos, ele é uma boa influência para Laure, tentando-lhe fazer ver que tem uma vida para aproveitar com Romy. Não estou a imaginá-la a cuidar da filha a tempo inteiro, mas acho que se descartar completamente a menina da sua vida, Laure acabará por arrepender-se. No entanto, acho que o primeiro pequeno passo está dado para recuperar algum do tempo perdido.

Não querendo estar a revelar demasiado da investigação, nem do enredo no geral, não posso deixar de ressalvar que a série continua a trazer para cima da mesa questões bem atuais e relevantes para a sociedade. Na temporada anterior tivemos a violação de Joséphine e o facto de esta não estar disposta a revelar o que lhe tinha acontecido mesmo que isso prejudicasse a sua defesa e agora tivemos a sua colega de cela a lidar também com a mesma situação. Lola nunca quis usar como defesa as violações sofridas às mãos do namorado da mãe quando ainda era adolescente e que podiam servir de atenuante no seu caso em tribunal. Acho importante que estas histórias sejam contadas. Não se trata apenas de denunciar estes crimes, mas também de permitir que as suas sobreviventes vivam com aquilo que lhes aconteceu da forma que lhes causar menor dor possível.

Engrenages não tem nesta 7.ª temporada um dos seus maiores sucessos, mas está longe de não conseguir entreter e de não conseguir interessar-me pelas histórias destes polícias, advogados e juízes que unem esforços – uns mais do que outros – na luta contra o crime.

Melhor Episódio:

Episódio 4 – Neste episódio temos Laure a lidar com momentos difíceis, sendo chamada a aparecer perante uma juíza para que ela e Brémont, o pai de Romy, resolvam a questão parental da criança. Laure tem tido dificuldade desde o início em estar presente para a filha – tanto fisicamente como em termos emocionais – e a guarda da criança acaba por ser entregue ao pai, sem que a mãe ofereça qualquer espécie de objeção. Ela sabe que Brémont e a sua mulher podem oferecer à bebé a estabilidade de que ela não parece ser capaz, mas conhecendo Laure sabemos que não lhe pode ser fácil lidar com isto. Simplesmente é menos difícil abdicar da filha do que ficar com ela. Tudo na vida dela parece correr mal, à exceção do trabalho na Polícia. Dá-se o funeral de Herville, uma cerimónia que não deixa nenhum dos presentes indiferente e na qual as palavras bonitas fazem todo o sentido, porque ele era um bom homem e um bom profissional. No funeral, voltamos a ver Tintin, o antigo colega e amigo de Laure e Gilou. Sem saber que os dois amigos já não estão juntos, ele diz-lhes que não estraguem aquilo que têm. Mais um golpe duro para Laure! A investigação avança, com uma descoberta interessante que acelera o ritmo da temporada, e Joséphine lida com o seu confinamento na solitária, depois de ter feito a coisa certa, mas tendo tido que lidar com as consequências de enfrentar uma guarda prisional.

Personagem de destaque:

Joséphine Karlsson – Muito do protagonismo desta 7.ª temporada de Engrenages dividiu-se entre três personagens, Gilou, Laure e Joséphine, mas esta última sempre foi a personagem da série que mais me cativou, portanto a escolha acaba por recair sobre ela. Além disso, nesta temporada, vemos Joséphine numa situação completamente nova, na prisão, acusada de tentativa de homicídio do verme que a tentou violar. Tentativa de que todos sabemos que é culpada, mas acusação que o advogado dela consegue desconstruir (adorava saber o que Edelman sussurrou a Vern e que resultou na libertação de Joséphine). Contrariamente ao que eu teria esperado, Karlsson consegue aguentar-se bastante bem na prisão, fazendo uso da garra que tantas vezes mostrou quando estava lá fora. No entanto, vimos-lhe até um pouco de humanidade (algo não muito frequente) e uma certa fragilidade em reajustar-se à sua vida em liberdade, mas Joséphine acabou por voltar àquilo que é habitual. Audrey Fleurot é uma atriz brilhante, mas nem sempre é fácil gostar da sua personagem. Joséphine parece personificar todos os estereótipos associados aos advogados, de pessoas sem qualquer tipo de princípios ou escrúpulos. Quando parece estar no caminho certo para se tornar alguém melhor, lá recua e volta a desiludir-nos porque parece não aprender nunca. No entanto, de alguma forma, parece sempre ser capaz de se redimir, nem que seja apenas um bocadinho.

Diana Sampaio

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