Minissérie
Número de episódios: 8
[Contém spoilers]
A minissérie Unbelievable dá-nos a conhecer a história verídica – que, aliás, já tinha sido exposta por duas organizações sem fins lucrativos ligadas à área do jornalismo – de uma adolescente que foi acusada de mentir sobre ter sido violada. Li algures que esta era a série de que o movimento #MeToo precisava e tenho que concordar.
Antes de navegarmos pela história, quero ressalvar que uma das criadoras da série é Ayelet Waldman, autora de um livro que adoro, As Coisas Impossíveis do Amor, e que uma das realizadoras e produtoras executivas dá pelo nome de Lisa Cholodenko, do filme The Kids Are All Right, que também recomendo.
O que dizer de Unbelievable? É inacreditável que a sociedade ainda esteja num ponto em que se lida tão pobremente com uma denúncia de violação que a vítima acaba a dar-se como mentirosa. É inacreditável que dois polícias estejam tão mal treinados para fazer bem o seu trabalho que arquivam um caso só porque não gostaram de certas inconsistências que encontraram. É inacreditável que a vítima seja ainda mais vitimizada. É inacreditável que as pessoas que deviam ser o sistema de apoio de uma jovem que teve uma vida difícil desde sempre sejam aquelas que não acreditam nela e que lhe viram as costas. É inacreditável que haja coisas que ainda aconteçam desta forma. É inacreditável tudo aquilo por que Marie Adler teve de passar e outras como ela, que se viram violadas, nas suas próprias casas, o sítio onde deviam poder sentir-se seguras. Custa-me especialmente o quanto Marie não tem direito ao benefício da dúvida por parte de ninguém que está à volta dela. É através dela que entramos nesta história e é também com ela que fechamos o círculo de uma narrativa que expõe a dura realidade de ser uma vítima de agressão sexual, mas também a perseverança de uma investigação policial feita por duas polícias extraordinárias que levaram o responsável à justiça e fizeram tudo aquilo que se pode pedir pelas suas vítimas.
Unbelievable é uma série forte, com um tema delicado, mas por isso mesmo extremamente relevante e que prima por contar a sua história de uma forma realista. Muito bem conseguida, com protagonistas fortes e uma narrativa cativante que me envolveu a cada episódio, não precisou de recorrer a reviravoltas típicas de séries policiais e grandes finais felizes. Afinal, quantas vezes é que a vida real é recheada deles?
Espero que a série seja capaz de abrir os olhos para o quanto pode ser fácil descredibilizar uma vítima. Já que não vivemos num mundo perfeito em que este tipo de crimes não existem, ao menos que possamos construir um mundo em que as vítimas e as investigações são levadas a sério.
Melhor Episódio:
Episódio 7 – Gosto sempre de evitar o cliché de escolher o último episódio e consegui fazê-lo mais uma vez. Este é um episódio de vitórias, mas também com um certo tom melancólico, deprimente, talvez porque nos estamos a aproximar do fim. Grace e Karen partilham um jogo de cartas, enquanto trocam confidências, com a segunda a explicar o porquê de fazer sempre aquilo que sente que deve fazer. Apesar de a investigação ter começado muito cedo como uma coisa a duas, Grace, a detetive mais experiente, deixa a Karen a oportunidade de ser ela a fazer a detenção do suspeito. Há provas fortes de que apanharam o tipo responsável por todas aquelas violações. Mais do que nunca, temos a sensação de que Marie está sozinha no mundo e que é exatamente assim que ela se sente, mas consegue abrir-se com a psicóloga à qual é obrigada, pelo tribunal, a ir. Vê-se que é extremamente importante para a jovem sentir que acreditam nela, para variar. O episódio termina em chave de ouro quando as detetives descobrem que o caso de Marie está ligado aos que já andavam a investigar, mas não sem que antes tenham sido sujeitas à dura tarefa de ver as sórdidas imagens encontradas na posse do violador.
Personagem de destaque:
Karen Duvall – É óbvio desde o início que Karen é o tipo de polícia que qualquer pessoa quereria a investigar um crime da qual tivesse sido vítima. Só a conhecemos no segundo episódio, mas a forma como a vemos lidar com a jovem que acabara de ser violada está num polo completamente oposto à dos detetives mais velhos do caso de Marie. Ela leva a vítima a sério, é respeitadora, atenciosa e extremamente profissional. Todo o empenho que coloca na investigação é essencial para a resolução do caso e nota-se que se importa genuinamente com as pessoas, não querendo apenas descobrir o culpado.
Diana Sampaio