When They See Us – Review da Minissérie
| 05 Jul, 2019

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Minissérie

Número de episódios: 4

When They See Us é uma minissérie da Netflix que retrata o caso decorrido em abril de 1989 e que ficou conhecido nos EUA como Central Park Jogger. Nesse dia, pode-se dizer que seis pessoas estavam no local errado à hora errada: a rapariga que foi violada e os cinco jovens acusados do crime. Com três nomes de peso na produção, Ava DuVernay, Oprah Winfrey e Robert De Niro, esta minissérie transporta-nos a uma altura em que a cor da pele era um factor decisivo no julgamento de alguém, neste caso, de crianças, e leva-nos a pensar e a temer que hoje em dia as coisas não estão assim tão diferentes.

Nos últimos tempos tenho visto maioritariamente minisséries, todas elas de elevado nível. When They See Us faz parte desse conjunto e acho que não consigo apontar uma coisa negativa que seja. Creio que o facto de a história estar condensada em apenas quatro episódios só abona a favor desta e doutras séries semelhantes. Por vezes, menos é mais e talvez se houvessem mais episódios a história não teria tido tanto impacto nem estaria tão bem contada. Provavelmente o ponto menos positivo que encontro é o facto de não terem mostrado o que aconteceu à equipa policial depois de se descobrir que os jovens foram acusados injustamente.

Séries documentais despertam em mim sentimentos que produções puramente ficcionais não conseguem. O facto de estar a pensar constantemente que estas coisas que me estão a passar pelos olhos aconteceram realmente toca-me no âmago. Não consigo expressar verdadeiramente o que senti durante as quase cinco horas que o conjunto dos episódios formam. Desde uma raiva quase incontrolável, a um sentimento de pena por estas crianças cuja adolescência foi roubada, até a uma sensação de impotência perante as injustiças que ocorrem diariamente no mundo. Desde o primeiro minuto do primeiro episódio até ao momento em que os créditos finais do último (e algum tempo depois disso, confesso) não parei de chorar. No shame here.

Custa a acreditar que a entidade cuja função é proteger possa ser a causa de tanto sofrimento. A delegação encarregada de investigar a violação simplesmente não fez o seu trabalho. Aquela Linda nojenta (é o mínimo que posso dizer sobre ela aqui), interpretada por Felicity Huffman que, diga-se de passagem, ultimamente não anda com a melhor das reputações depois do escândalo sobre as admissões em universidades americanas, aproveitou-se do facto de um grupo de jovens, que por acaso eram negros, estar em Central Park à mesma hora que descobriram o corpo da jovem para os acusarem do crime. Simplesmente ridículo! Mesmo quando se aperceberam que nada do que os jovens diziam batia certo com as poucas pistas que tinham impediram que aqueles abusos fossem cometidos. Acredito que se os jovens fossem caucasianos nada daquilo tinha acontecido.

Não só é só a produção de When They See Us que está de parabéns, também o elenco merece todos os louvores possíveis. Especialmente Jharrel Jerome. O jovem ator de 21 anos interpretou ambas as versões de Korey, o adolescente de 16, que acompanhou o amigo até à esquadra e acabou por passar a maior quantidade de tempo preso, e o adulto que esteve doze anos atrás das grades por um crime que não esteve sequer perto de cometer. A transformação de Jerome é quase inacreditável. Pensei realmente que seriam dois atores diferentes com uma semelhança facial quase perfeita. Quando descobri que não era o caso fiquei de boca aberta.

Para terminar, deixo aqui expresso o meu profundo ódio, nojo e desprezo por Donald Trump. Esta coisa teve o descaramento de afirmar com toda a confiança que Anton, Yusef, Kevin, Raymond e Korey tinham sido os autores da violação macabra ocorrida naquela noite. Esta coisa que já foi acusado de inúmeras violações! Faço-me entender? Esta coisa que é hoje Presidente da suposta maior nação do mundo. Land of the free my ass. A ironia da situação é de fazer saltar os olhos das órbitas. Nem teve a lata de pedir desculpa depois de tomar posse.

Melhor episódio:

Episódio 4 – Sem dúvida o episódio mais marcante emocionalmente. Foi uma hora e meia a chorar nonstop. Dos cinco, Korey foi talvez o mais injustiçado. Este episódio é uma daquelas produções que nos faz questionar a justiça, a lógica, a moral e a ética. Pensamos que o mundo está perdido e que não há solução para os males que por aí se espalham. Olhamos para a televisão e vemos uma coisa como Trump à frente de um país que tem tanto poder de decisão sobre a política mundial e qualquer esperança de um futuro mais colorido esvai-se. Ainda assim, neste episódio percebemos que, apesar de todo o sofrimento por que passaram, estas cinco pessoas não se perderam e mantiveram-se verdadeiros a si mesmos.

Personagem de destaque:

Korey Wise (Jharrel Jerome) – A escolha não foi nada difícil. Ainda que ao início a personagem que me desperta mais interesse seja Kevin, quando percebo que Korey é incluído nos planos da polícia simplesmente porque acompanhou Yusef e se deixou dormir na esquadra faz-me prestar-lhe mais atenção. A interpretação de Jerome consolida esta escolha irreversivelmente; é de um talento inegável.

Beatriz Caetano 

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