Temporada: 7
Número de episódios: 13
[Contém spoilers]
O ano passado, por esta altura, perguntava-me se OITNB duraria muito mais tempo. Para todos os efeitos, esta série tinha começado com a história de Piper e com ela fora da prisão pensei que pudéssemos estar a aproximar-nos do fim. Uns meses depois, a Netflix confirmou as minhas suspeitas de que esta 7.ª temporada seria a última e, sinceramente, foi a decisão certa. Acho que a série não teria beneficiado de uma extensão da sua história e esta foi a altura certa para terminar, até porque acho que a narrativa começa a acusar alguma exaustão. Pelo menos, é essa a minha sensação, ao fim de uma maratona longa de três dias.
Ora, Piper está então fora da prisão e a adaptar-se novamente a uma vida normal, com as condicionantes de estar em liberdade (perdoem-me a redundância) condicional. A adaptação não é fácil e a tentativa de ajustamento à sua nova realidade com Alex revela-se frustrante. Acho que ainda estávamos no primeiro episódio quando eu dei por mim a pensar: “não vai resultar”. E não resultou durante muito tempo. Não é segredo para ninguém que elas são o meu casal preferido da série, mas tive que ser capaz de admitir o que era óbvio. Cada uma delas teria precisado de um bom par de estalos para andar na linha, visto que o esforço foi muito pouco para fazer as coisas resultarem. Compreendo que a situação seja muito complicada, mas em momento algum me pareceu que se estivessem a esforçar, mesmo no início. Tanto que dei por mim a dar a relação como perdida e a desfrutar pouco do facto de, para todos os efeitos, terem ficado juntas no final.
No entanto, há muito mais em Orange Is the New Black do que a sua personagem principal e muitas outras tiveram destaque. Do lado das inmates, não posso deixar de mencionar Pennsatucky. Entrou na série como uma das personagens mais irritantes e percorreu um longo caminho de crescimento que a tornou numa pessoa bem melhor. O esforço que ela fez para conseguir o diploma de equivalência do secundário foi notável. Só tenho pena que não tenha sido possível ver os frutos do seu trabalho! Esta temporada trouxe-nos vários finais felizes, mas os infelizes também abundaram. Partiu-me especialmente o coração ver Nicky perder Morello e Red e lidar com o que lhes estava a acontecer às duas sem realmente poder fazer nada para melhorar a situação. No entanto, fico contente porque acho que Nicky se vai aguentar e que também ela irá fazer coisas boas naquela cozinha.
Tenho a confessar que esta temporada me desiludiu. Houve poucos episódios a prenderem-me ao ecrã, poucas vezes senti verdadeira emoção, e acho que isso fez muita falta nesta temporada de despedida. Acho que, também, a série tem o problema de ter um leque muito vasto de personagens e acaba por se dispersar muito de narrativas e personagens que poderiam ser mais bem exploradas. A série pega sempre em assuntos relevantes para a sociedade, muito atuais, mas acho que depois lhe falta a forma ideal de os abordar. Por exemplo, foi escolhida uma nova warden negra e jovem para a prisão que fez coisas boas durante o tempo em que esteve no cargo, mas acabou despedida e foi um perfeito idiota que nunca devia ter sido guarda prisional a substituí-la. Pode ser um bom retrato do tipo de coisas que acontecem na realidade, mas ainda assim…
De um lado mais positivo – positivo em termos de narrativas bem conseguidas – esteve a abordagem ao movimento #MeToo. Já não me recordava muito bem do que tinha acontecido a Fischer e da forma como Caputo a tinha tratado, mas foi uma abordagem interessante, porque aqui temos um homem bom com quem é fácil simpatizar. Caputo não é um Harvey Weinstein, mas errou, assediou uma mulher, fez uso da sua posição de poder em relação a ela e isso é inaceitável. No entanto, as coisas mudaram muito nos últimos anos e acredito que Caputo já não é mais o homem que fez aquilo. Tal como nós mulheres já não aceitamos coisas que há quatro ou cinco anos atrás engoliríamos.
Uma coisa que também não consigo engolir são as políticas americanas dos últimos anos, às mãos de um homem que devia ter-se limitado a continuar a ser mais um milionário, mas que decidiu almejar o cargo de presidente. Com isto quero chegar ao seu deplorável tratamento daqueles que tentam fugir dos seus países de origem para levarem uma vida melhor nos Estados Unidos. Através de outras séries já tinha sido familiarizada à ICE e as notícias na televisão já nos tinham apresentado a todos a inaceitável situação destes migrantes, mas ver a forma como funcionam estes centros de detenção é terrível. Estas mulheres são tratadas como criminosas (eu sei que tecnicamente entrar num país de forma ilegal constitui crime, mas não consigo encará-lo dessa forma), algemadas nas audiências que decidem o seu destino, quando tudo o que querem é escapar ao que quer que seja que as faz deixar tudo aquilo que conheciam. Karla é só uma dessas histórias, em muitas outras, mas é tão triste! Cá em Portugal somos um país de emigrantes, acho que todos nós temos alguém lá fora, mas somos também um povo que, no geral, acolhe bem aqueles que vêm para cá. É uma sorte nascer-se num país seguro, mas nem todos a têm e podemos mesmo recriminar aqueles que fogem à guerra, à fome, à pobreza ou à violência dos gangues? Não me parece.
Se tivesse sido só isto, a série poderia ter tido uma boa temporada final, mas tivemos uma boa dose de telenovela prisional, com Daya novamente armada em gangster e reclusas a envolverem-se com guardas, vários flashbacks que considero terem acrescentad0 apenas minutos e não relevância aos episódios, os cansativos dramas entre Piper e Alex, mais galinhas… A entreter-me verdadeiramente esteve o novo casal sensação, Fig e Caputo. Gostei tanto que tivessem decidido adotar uma criança! Cindy e Blanca também são uma agradável presença no ecrã e foi bom rever, embora que brevemente, muitas das personagens que tínhamos acompanhado nas primeiras temporadas e das quais não sabíamos nada há muito tempo. Nem todos tiveram direito a finais felizes, mas também não faria sentido. Se há coisa que esta série mostrou é que a vida, muitas vezes, é injusta. Nunca deixará de o ser.
Despeço-me desiludida, porque Orange Is the New Black já foi uma das minhas séries preferidas e não me deu um final verdadeiramente emocionante. Senti falta de chorar, de me arrepiar, de me rir a bandeiras despregadas. Queria a sensação de que, durante semanas, não seria capaz de pensar em mais nada. Vou procurar recordar-me daqueles momentos que para mim forjaram a alma da série e a tornaram especial.
Melhor Episódio:
Episódio 11 – Com a temporada perto do final, estava a ter dificuldade em escolher um episódio. O 10.º foi o primeiro que me provocou algumas emoções, mas este pelo qual acabei por me decidir suplantou-o. Não teria havido mais nenhuma hipótese, porque os restantes episódios não se conseguiram destacar, na minha opinião. Este God Bless America é um título que só pode ser ironia, porque a América que vemos aqui não é a do “sonho americano”, mas a de pesadelo, a América de Trump. Há mais coisas a acontecer no episódio, claro está, mas o seu foco de maior interesse prende-se com os acontecimentos relacionados com os centros de detenção do ICE. Karla é deportada para o seu país de origem, enquanto os filhos continuam nos Estados Unidos, com uma família que não é a deles. Como é que se separa crianças de pais que apenas tentaram construir uma vida melhor num país no qual reservavam esperanças? E como é que se leva crianças pequenas, sozinhas, a tribunal? Ver aqueles meninos ali sentados deu cabo de mim. Não conhecemos a história deles, mas é óbvio que, seja como for, estão sozinhos neste mundo. Nenhuma criança devia passar por isso. Muito menos se isso acontece por políticas desumanas que encaram as pessoas como um número de um processo. Também deportada para o país de origem foi a namorada de Nicky, enquanto esta tinha de se desdobrar entre Morello e Red. São as duas pessoas mais importantes da vida de Nicky e apesar de estarem presentes, não são mais elas mesmas. Revelou-se que uma das detidas num centro do ICE estava grávida, resultado de uma violação, e Fig, que mostrou não ser, de todo, indiferente aos problemas dos outros, ajudou-a com medicação para abortar. Resumindo, o mundo é um lugar merd*** e Fig apercebeu-se que não quer trazer uma criança a ele. Consigo identificar-me com o sentimento. Para além de ter sido um episódio a apelar às emoções, foi relevante em termos sociais e fez aquilo que uma série deve também fazer para além de entreter: dar-nos lições de humanidade.
Personagem de destaque:
Tasha “Taystee” Jefferson – A escolha não podia ser outra. Não é de agora que Taystee se revela uma das melhores personagens da série, mas nesta temporada ela volta a mostrar-se. Para já, esta rapariga (chamo-lhe rapariga porque é mais nova que eu) tem um coração de ouro. Não consigo deixar de pensar que se tivesse tido a sorte de crescer numa casa com uma família que tivesse cuidado dela teria chegado muito longe na vida. No entanto, mesmo na prisão, ela consegue fazer a diferença. Mesmo quando tudo aquilo que a vida pode ter-lhe reservado são as quatro paredes daquele sítio horrível, ela arranja uma maneira de fazer algo pelos outros e que acaba também por ser uma forma de se salvar a ela própria. Taystee foi, sem dúvida, uma das melhores coisas no ano de despedida da série e vai deixar saudades.
Diana Sampaio