Temporada: 3
Número de episódios: 8
[Contém spoilers]
O maior fenómeno televisivo da Península Ibérica e arredores voltou aos pequenos ecrãs e não poderia ter tido um regresso melhor! La Casa de Papel poderia ser apenas mais uma série espanhola que ninguém a não ser os espanhóis vê. Contudo, o impensável aconteceu e tornou-se num enredo que cada vez mais pessoas foram vendo até se tornar em algo que podemos considerar mainstream. Mesmo aqueles alheios a séries a viram e em ocasiões propícias a disfarces (Comic Con Portugal, Carnaval, festas temáticas) os fatos de macaco vermelhos e a máscara de Dalí foram a visão mais comum.
Aquilo que agradou e prendeu tanta gente à primeira e segunda temporadas (ou apenas à primeira, dado que a Netflix a dividiu em duas partes) foi a história batida e ao mesmo tempo fora do normal que estava a ser contada. Filmes e séries sobre assaltos é o que não falta por aí. Quem não se lembra do icónico Inside Man (O Infiltrado) com Clive Owen e Denzel Washington e de ficar pasmado com o nível intrincado de planeamento para o assalto ao banco? Apesar de serem narrativas bem conhecidas do público, prendem e levam-nos a torcer pelos assaltantes (na maior parte dos casos), porque na vida real este tipo de coisas não acontece e quem não sonhou já em poder assaltar um banco e sair impune? Eu já!
Quando anunciaram esta nova temporada muita gente ficou receosa de que fossem estragar a perfeição que foram as duas primeiras. Confesso que essa ideia também me passou pela cabeça, mas a curiosidade em saber o que os assaltantes mais famosos do mundo fizeram com todo aquele dinheiro e qual seria o mote para a 3.ª temporada superou qualquer receio. E, na verdade, não havia que ter medo. La Casa de Papel soube aproveitar todo o burburinho criado à sua volta.
Outro fator que poderia arruinar a série eram as novas personagens. Estava um pouco na dúvida em relação aos três novos assaltantes, contudo, e mais uma vez, revelaram-se uma boa escolha. Creio que quiseram tornar Palermo numa espécie de Berlin 2.0, com aquele modo de liderar que só desperta em mim a vontade de lhe dar um murro na cara. Inicialmente, a personalidade de Berlin também teve esse efeito em mim, contudo, com o passar dos episódios, comecei a gostar dele. Com Palermo isso não aconteceu. É simplesmente desprezível, com toda aquela raiva suprimida devido a Berlin nunca ter olhado para si como ele claramente olhava para ele. Bogotá também teve os seus momentos, mas não desvendaram o suficiente sobre ele para ter uma opinião formada e o mesmo acontece com Marsella. Mas gostei que fosse um defensor aceso dos animais. Alicia Sierra foi uma adição agridoce – eficiente no seu trabalho (talvez demais), mas horrível enquanto pessoa! É daquelas personagens feitas para que as odiemos.
Algo que é inegável é o facto de a história estar mais condensada e acelerada do que nas temporadas anteriores. O que não quer dizer que seja algo negativo. Se fossem fazer tudo igual, a história perderia a graça. O assalto anterior foi planeado ao milésimo de segundo. Este não teve as mesmas características. Era óbvio e natural que algo corresse mal. Uma coisa que resultou muito bem da condensação destes oito episódios foi a quantidade de ação presente logo desde o primeiro episódio. Passaram imediatamente à ação e deixaram as explicações e pormenorizações para depois. Ainda assim, a essência de La Casa de Papel manteve-se.
Não fosse o espírito selvagem de Tokio e esta temporada não existiria. Calculo que muitos a tenham julgado pelas suas consecutivas atitudes que colocaram todos em risco, mas eu gosto dela. E, afinal de contas, por alguma razão o Professor a escolheu. Primeiro age, depois pensa e arca com as consequências. É esta sua maneira de ser que fez com que Rio percebesse que talvez não tenha capacidades para lidar com ela, se bem que eu ache que os dois se equilibram.
Chego agora à conclusão de que esta temporada foi feita de casais e das suas dinâmicas. Também Denver e Mónica, ou Estocolmo, como preferirem, tiveram os seus altos e baixos. Contudo, fazem uma família super querida e foi das interações que mais gostei de ver. Denver colocou-se sempre “à frente das balas” para proteger Mónica e Cincinnati (a cena do nascimento está mesmo engraçada e a parte em que ele explica o porquê do nome também!), o que me levou sempre a pensar que algo de mal lhe iria acontecer, como aconteceu com o seu pai.
Nairobi e Helsinkí já me tinham deixado com a pulga atrás da orelha na temporada anterior, mas como ele é homossexual (o que não invalidava que a coisa de desse) calculei que fossem apenas bons amigos. Turns out que a Nairobi gosta a sério de Helsinkí. Apesar de estranha, percebo a conexão. Mesmo com aquela aparência de brutamontes, Helsinkí é um ursinho de peluche, tal como Nairobi, de certa forma. Por detrás da imagem de líder e mulher de armas, ela tem uma vida sofrida e é frágil.
Por fim, Professor e Raquel, ou Lisboa (o que acharam de toda a propaganda por cá e da vinda de Itziar Ituño a Portugal?). Tudo parecia perfeito enquanto os dois se encontravam na Tailândia. Mas quando o assalto entrou em cena, as diferenças entre os dois tornaram-se óbvias e foram várias as vezes que pensei que Raquel iria traí-los. Felizmente, isso não aconteceu. Ainda assim, a renitência de Professor em levar Raquel para o backstage do assalto provou-se fundada. Caiu na sua própria armadilha ao pensar que a polícia a tinha executado. Confesso que também eu acreditei que ela tinha morrido. Foi uma sequência extremamente bem conseguida.
Com esta temporada percebemos que este grupo de pessoas tão díspar e que inicialmente nem sabiam os seus verdadeiros nomes, se tornaram numa família. Tudo por que passaram criou uma ligação inquebrável. Desta vez não foi o desejo por uma boa quantia de dinheiro na conta bancária ou a perspetiva de uma vida melhor que os levou a arriscar tudo o que construíram nestes dois anos; foi a necessidade de ajudar um membro da família. Mesmo que tenha ficado em perigo por uma razão estúpida.
Gostei dos flashbacks com Berlin e como intercalaram essas cenas com as do decorrer do assalto. Foi interessante perceber em como a ideia original partiu do irmão mais arrojado e não do mais ponderado. Outra coisa que também esteve on point foi a banda sonora! Aguardo, agora, ansiosamente a estreia de novos episódios que, em princípio, chegarão em 2020.
Melhor episódio:
Episódio 3 -Tive alguma dificuldade em eleger o melhor episódio desta temporada. Todos tiveram o seu mérito e em todos houve momentos louváveis. Contudo, o terceiro, intitulado 48 Metros de Profundidade foi aquele que teve o “pacote” completo. Teve ação, suspense e comédia, havendo uma mistura de emoções ao longo destes 48 minutos.
Personagem de destaque:
Denver (Jaime Lorente) – Terei de destacar Denver como a personagem desta temporada. Pode não ser a escolha mais óbvia, mas já desde as temporadas anteriores que o adoro! Depois de conhecer um pouco da vida de Jaime Lorente e também de o ver noutro registo, em Élite, passei a admirá-lo mesmo. É um ator de qualidade e que não vai ficar preso a esta personagem para o resto da sua carreira. Quanto a Denver, gostei do seu desenvolvimento e crescimento, apesar de ter tomado algumas decisões inconscientes. Ainda assim, acho-o um sweethart!
Beatriz Caetano