Dark – Review da 2.ª temporada
| 24 Jun, 2019

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Temporada: 2

Número de episódios: 8

Contém spoilers!

Após uma 1.ª temporada de qualidade inegável e com um final que deixou muitas expectativas para este segundo ciclo, Dark regressa com a mesma força com que nos deixou no final de 2017.

Com uma narrativa complexa, mas ao mesmo tempo interessante, a 2.ª temporada abre-nos a porta para mais oito episódios que nos deixam a cabeça a borbulhar de tanto tentarmos fazer sentido das coisas e a ansiar por mais.

É sempre uma experiência bastante interessante ver um episódio desta série. Nunca sabemos o que vai acontecer, por que caminho nos vão levar os argumentistas ou que reviravolta imprevisível vai suceder. Todos os pormenores contam; mesmo quando no início nos parecem simples características de uma pessoa ou de um lugar, está tudo interligado, mesmo quando parece não estar. Quando menos esperamos surge uma ligação de uma certa personagem a outra de que não estávamos à espera e a nossa curiosidade aguça-se de tal modo que nos impele a continuar a descobrir mais. Tudo isto é característica de uma narrativa bastante bem estruturada e pensada com poucas ou nenhumas falhas e que nos faz dizer que estamos perante uma obra de arte moderna e que merece ser vista pelo maior número de pessoas possíveis. Dark conseguiu um feito que poucas séries não norte-americanas conseguem, atingiu um nível de sucesso que poucas séries europeias atingem, mesmo tendo uma narrativa que precisa da atenção total do telespectador e não sendo de “consumo rápido”.

A ficção científica, a questão do tempo, do Universo, da filosofia e da física são todas temáticas que me interessam bastante e ao juntar a isso um argumento bastante inteligente e bem pensado, assim como desempenhos extraordinários por parte dos atores, temos uma aposta bastante rica a todos os níveis, conseguindo congregar em si tudo o que é preciso para fazer uma série de qualidade e ao mesmo tempo apelativa para o público.

A banda sonora e a música são um aspeto que tem indiscutivelmente de ser realçado. Não se pode falar de Dark sem se falar de todo o som que envolve a criação desta série. É impressionante como cada música, cada som, cada tique-taque nos ajuda a imergir naquele mundo e a absorver melhor o ambiente de mistério e drama que rodeia toda a cidade de Winden. O tique-taque constante não nos deixa esquecer da presença do tempo, essa “coisa” do qual parecemos ser escravos, a música da Nena, que já nos tinha acompanhado na temporada anterior, as composições sonoras que traduzem em notas musicais o que os nossos olhos apenas veem… É raro observar-se tanta mestria no que toca à banda sonora de uma série e Dark utiliza a música como um dos seus pontos fortes durante toda a narrativa, um narrador que não precisa de palavras para ser compreendido.

Ao terminarmos de ver a série, o nosso cérebro continua a trabalhar, a tentar juntar as peças todas do quebra-cabeças e a montá-las de forma a que consigam construir uma imagem que faça sentido aos nossos olhos. Contudo, é bastante difícil completar esta imagem, porque a explicação não nos é dada e o Universo tem as suas próprias leis, que nos são (quase) impossíveis de entender. Como pode a mesma pessoa estar no mesmo sítio que o seu eu mais velho e mais novo? Não deveria acontecer um paradoxo? Como pode uma mãe ser filha da sua filha? Quem nasceu primeiro? Pode-se falar em nascimento? Somos realmente escravos do tempo? O nosso destino já está traçado? Podemos mudar as coisas ou elas vão sempre acontecer como já aconteceram? São estas apenas algumas das perguntas que nos vão acompanhar até que a 3.ª temporada chegue e nos volte a bombardear com mais questões para as quais, provavelmente, não obteremos respostas, pois é assim o Universo, um terreno desconhecido com imenso por explorar. „Die Frage ist nicht aus welcher Zeit, sondern aus welcher Welt.“ (A pergunta não é de que tempo, mas sim de que mundo.)

Melhor episódio:

Episódio 6 – Este episódio é passado no dia do suicídio do Michael Kahnwalh, o pai de Jonas. É o episódio mais emocionante de todos. Temos o encontro de Jonas com o pai, a revelação do seu verdadeiro papel no regresso a 2019, o encontro com Martha… Todo o episódio consegue conciliar uma sensação de alegria e bem-estar, se pensarmos nos momentos passados no lago e na festa, e um clima dramático criado pela presença do Jonas do futuro. Temos a ilusão (que nós próprios sabemos ser uma mera ilusão) de podermos estar a presenciar um episódio mais leve em termos de narrativa, mas que se vai adensando no decorrer do mesmo, o que também transparece no próprio clima: começamos com um dia solarengo e com uma palete de cores mais vivas e fortes e terminamos numa noite de tempestade com as características cores escuras.

Personagem de destaque:

Jonas Kahnwald – Escolha difícil. Cada personagem tem um papel relevante na história e os atores desempenharam-nos todos bastante bem. Houve personagens que evoluíram ou ganharam maior destaque em relação à temporada anterior como Hannah Kahnwald ou Claudia Tiedemann, mas, para ser coerente comigo mesma, terei de escolher o Jonas. É a personagem principal e é à volta dele que se desenrola toda a narrativa, quer seja interpretado por Louis Hofmann, Andreas Pietschmann ou por Dietrich Hollinderbäumer (Adão). Destaco a interpretação de Louis Hofmann no episódio 6, que nos conseguiu dar dois Jonas completamente diferentes e credíveis num só episódio: um com uma carga emocional imensamente pesada, ao interpretar o Jonas do futuro, e a timidez, ingenuidade e despreocupação do Jonas de 2019.

Cláudia Bilé

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