Temporada: 1
Nº de Episódios: 8
[Esta review pode conter spoilers!]
Depois de um primeiro episódio bastante positivo e prometedor, cuja review podes ler aqui, Sex Education percorre, durante oito episódios, um caminho um pouco incerto, com partes muito boas e partes bastante medíocres e até más, culminando em dois últimos episódios um pouco desapontantes e de fazer torcer o nariz.
Como escrevi na review do piloto, achava que Otis tinha todo o potencial para ser um bom personagem assexual, o primeiro protagonista a representar esta parte do espectro da sexualidade humana. Mas claro, seria esperar demasiado de uma indústria, e em particular de uma série, que usa o sexo como mote e conquistador de visualizações. Deve ser difícil arranjar motivações para um personagem que não tenha interesses românticos e/ou sexuais, portanto, opta-se antes por traumas de infância e drama relacional para apelar ao público. Ainda assim, a personalidade e os problemas íntimos e psicológicos de Otis continuam a torná-lo um personagem intrigante e interessante durante a maioria da temporada. Mas quando aparentemente tudo o que era necessário para os resolver era beijar uma rapariga, a coisa deixa um bocadinho a desejar, na minha opinião. Foi um culminar fraco deste assunto que parece que se tornou uma pedra no sapato, que os guionistas preferiram eliminar assim facilmente, para poderem agora tornar Otis num explorador sexual na 2.ª temporada, digo eu.
A relação que o protagonista e Maeve desenvolvem traz muitos bons momentos e embora não desiluda também não apresenta muito de novo, caindo no monte de “histórias de amor que já vimos ou lemos N vezes”. De qualquer modo, vale a pena destacar Maeve, acho que esperava menos dela no início e até consegui nutrir um carinho especial por ela.
No geral, a temporada até é capaz de merecer uma nota relativamente mais alta do que a que lhe atribuo aqui, contudo aquele final foi demasiado mau para não baixar a média.
Aquela relação que inventaram entre Eric e Adam nos últimos episódios é completamente forçada, caída do céu, e desnecessária. Fazer deles amigos ou confidentes (pelo menos primeiro!) teria tido bastante mais impacto emocional e servido bem melhor se o objetivo era mostrar que Adam tem sentimentos. Mas, novamente, às vezes esqueço-me que esta série se aproveita do tema “sexo” e, portanto, claro está que seria esta a via que iam seguir primeiro.
Tenho que mencionar o papel de Lily, a rapariga que inicialmente nos apresentam obcecada por pénis, tentáculos e criaturas sexuais alienígenas e que depois revela sentir uma pressão enorme de não se iniciar sexualmente e de “ficar para trás”. Embora ache que haja falhas enormes e até sem sentido na sua história, a personagem de Lily toca em dois pontos que, na minha opinião, são ainda muito tabu e têm uma importância tremenda: as fantasias sexuais, bem como a dualidade que pode existir entre o plano da fantasia e o plano físico e a irracional pressão social, muitas vezes autoimposta, para se ter experiências sexuais, por medos de julgamentos ou consequências posteriores.
Continuo sem me arrepender de ter seguido toda a temporada, volto a dizer que tem momentos muito bons e que toca em assuntos muito importantes, tanto para os adolescentes que a possam ver, como mesmo para a malta mais velha, em especial na importância de uma comunicação clara e sincera nas nossas relações interpessoais e, especialmente, amorosas.
Melhor Episódio:
Episode 5 – É o episódio do dia de aniversário de Eric e do caso da ameaça de exposição da vagina pic e é sem dúvida o ponto mais alto da temporada. Chorei baba e ranho neste episódio como há muito já não fazia a ver uma série. A troca que Otis fez do amigo pela sua apaixonada e pelo “caso”, deixando Eric numa posição de risco que acaba por terminar de uma forma não muito boa; Eric ligar para a mãe de Otis em vez dos próprios pais; e mesmo o caso da fotografia de Ruby, com aquela cena final do “It’s My Vagina”, foram momentos bastante tocantes e poderosos. Uma nota especial só a esta cena, que toca numa questão que às vezes se pensa que só os homens têm, relativa à insegurança sobre os seus genitais. Com aquela cena final com todas as raparigas (e até rapazes) a levantarem-se, para além de protegerem Ruby da embaraçosa revelação, a série pretende reforçar um momento de união perante as inseguranças e reconhecimento da diversidade, e ainda assim universalidade, dos nossos corpos e das suas formas.
Personagem de destaque:
Eric Effoing – Como previ no piloto, o Eric foi o personagem cujo percurso por esta temporada mais me tocou. Desde os tumultos na sua amizade com Otis, à luta por se poder expressar livremente na sua maneira de ser, tocando na repressão que a sociedade e a própria família ainda fazem pela diferença. Não digo que seja o melhor personagem da série, mas foi realmente aquele que mais se destacou.
Mélanie Costa