Contém spoilers!
Temporada: 1
Episódios: 10
Assim que estreou deixei-vos a minha opinião sobre o piloto e, logo à partida, levantei bastantes dúvidas sobre a evolução do enredo e a qualidade com que as personagens foram criadas. Embora tenha partido para o resto da temporada com algumas dúvidas relativas à qualidade de Origin, reiterei a dificuldade de uma série, sobretudo de ficção-científica, criar um piloto perfeito, onde a apresentação do elenco, a localização espácio-temporal e a realidade política, económica, cultural e social decorra de forma harmoniosa.
Já no piloto foi fácil perceber que a ação do presente era complementada, ou até mesmo contextualizada, com flashbacks sobre os personagens que ficaram para trás esquecidos na nave Origin. Repetindo o desenvolvimento do enredo em forma de cliché, tivemos flashbacks que ocorreram de igual modo e quase me fizeram revirar os olhos, já que de todos os guionistas nos tentaram mostrar que fazer maldades significa que, a seu tempo, teremos o nosso castigo. Não referindo nomes, para evitar spoilers, vou citar os que considerei mais importantes: um membro da máfia decide tornar-se bonzinho dada a insistência do irmão polícia (conveniente, não?) e, no momento em que decidem fugir, o bonzinho é assassinado. O ex-membro da máfia jura vingar-se e, mais tarde, embarca na Origin para recomeçar do zero; uma agente de segurança envolve-se com o homem que jurou proteger e, durante um ataque, mata a filha dele e consome-se de culpa… a agente, mais tarde, embarca na Origin para recomeçar do zero; um rufia muito mal caracterizado é enviado para um lar de idosos/hospital de cuidados paliativos e trava com uma das pacientes (a dada altura pareceu-me que se iam enrolar de forma intensa, ou talvez apenas de forma moderada, pois a senhora estava doente e apresentava já algumas limitações físicas), ela decide eutanaziar-se e o rufia, mais tarde, embarca na Origin para recomeçar do zero. Agora o que mais gostei: um burlão entra num esquema para recuperar uma joia valiosa, apaixona-se pelo contratante e é burlado por este. Com o coração partido, mais tarde, embarca na Origin para recomeçar do zero.
A partir do segundo episódio vão-nos chegando respostas relativamente aos motivos do abandono da nave. Se o pequeno asteroide parecia ser o principal motivo, enganaram-se. Nele estava uma forma de vida que utiliza humanos como hospedeiros, cuja única forma de deteção é através das memórias, já que este parasitismo destrói parte das memórias do afetado. A determinada altura, de tão entediado que estava com algumas partes do episódio, desejava que houvesse motivos para abrirem mais cérebros em busca de parasitas extraterrestres malvados. Com um parasita a bordo, a missão até ao episódio final foi simples, encontrá-lo e exterminá-lo. E o que é certo nesta demanda tão difícil é que a pessoa infetada acaba por ser aquela que passou despercebida aos olhos de todos (será que ainda não tinha mencionado a palavra “cliché” vezes suficientes?). Trocando por miúdos, o cliché de que suspeitei desde que se soube da troca de hospedeiro.
Em suma, a série esteve longe de ser perfeita e cedo nos apercebemos disso. O guião que parecia promissor ficou-se pelo mediano e manteve-se numa evolução lenta e constante sem grandes surpresas, já que tudo o que foi acontecendo era previsível. Houve ligeiras melhorias nos episódios finais, o que acabou por me dar alento para terminar a temporada. Em relação a Tom Felton, a grande estrela da série, era expectável que fosse alvo de uma evolução significativa, já que a sua prestação no piloto foi, no mínimo, descartável. É verdade que evoluiu, contudo, não me parece que tenha sido da melhor maneira, fruto daquele guião limitado. A determinada altura, sobretudo após o flashback, o seu Logan entrou numa relação amorosa que tentou surtir o efeito de choque purificador. A minha opinião sobre ele acabou por alterar-se muito pouco, já que o enredo não permitiu a tão preciosa ligação espectador/personagem. Atenção, esta falha de identificação com os personagens estendeu-se a todo o elenco, não foi uma situação pontual.
A forma como Origin terminou, tal como a premissa inicial da série, tem um potencial enorme para uma 2.ª temporada de sucesso. Agora só nos resta esperar pela possível renovação e assistir ao caminho escolhido pela produção executiva para o futuro dos sobreviventes desta viagem interestelar.
Melhor episódio:
Episódio 10 – Sei que parece cliché escolher o episódio final da temporada como o melhor, mas foi o que se destacou pela diferença e, talvez, aquele que aguçou a minha curiosidade relativamente a uma 2.ª temporada. I Am mostrou-nos o outro lado, o lado do extraterrestre que, mais que uma vez durante a temporada, proferiu “apenas quero viver”. A história da humanidade provou-nos que somos intolerantes à novidade e que, no desconhecimento da situação, respondemos de modo agressivo. Num episódio cheio de revelações, finalmente se percebe a razão pela qual apenas pessoas problemáticas foram escolhidas para habitar este novo mundo… porque ele pode ser novo, mas está longe das paisagens paradisíacas prometidas no vídeo publicitário. No que foi descortinado, a empresa Siren esteve inicialmente num planeta vizinho de Thea, Iris, talvez o local de origem dos parasitas. Apesar de saber que tanto Iris como Thea são ambientes nocivos ao Homem, não pela atmosfera, mas pela fauna autóctone, Siren prossegue com os seus interesses corporativos. Nos minutos finais percebemos que Thea não é a solução ideal, deixando um cliffhanger colossal no ar que poderá ser o ponto de partida para a eventual 2.ª temporada.
Personagem de destaque:
Lana Pierce – Esta foi uma escolha muito difícil e que foi decidida apenas no episódio final. Aliás, na realidade a personagem verdadeiramente selecionada acaba por ser o extraterrestre que vive no seu cérebro e não o hospedeiro em si. Lana começa como uma personagem monocórdica e boazinha, daquelas que foi talhada para liderar o elenco, ou parte dele, numa série mediana. Contudo, no episódio final temos o devido aprofundamento de uma personagem que passou de vilã a sobrevivente. Quando ainda estava no corpo de Eric, o pequeno alien já tinha provado que não era um assassino frio, mas é com Lana que temos a oportunidade de espreitar a sua mente e conhecer as suas fragilidades. É estranho, mas a personagem que mais criou empatia acabou por estar num ser pequeno com um aspeto nojento e que controla a mente do humano que escolheu para hospedeiro.
Rui André Pereira