Temporada: 6
Número de episódios: 8
“There are two kinds of pain. The sort of pain that makes you stronger, or useless pain. The sort of pain that’s only suffering. I have no patience for useless things.” Descobrimos agora que existe um terceiro tipo de dor. A dor de ver uma série que já voou tão alto a chegar tão baixo.
Robin Wright, que dá vida a Claire Underwood, tem um papel ingrato – o de tentar substituir O Frank Underwood de Kevin Spacey, mas a sua sombra continua sempre lá. Não me interpretam mal, o propósito desta review não é abordar os temas que levaram ao seu afastamento da série, mas sim fazer uma apreciação geral da temporada e esta sem ele foi horrível. Tratava-se de um excelente ator que trazia uma personalidade e qualidade. Todos os restantes detalhes estavam na série, desde os discursos para o espectador como se fizéssemos parte da série, o mundo da política e os jogos de poder. No entanto Claire Underwood não tinha estofo para tornar estes dicursos impressionantes.
A série tentou afastar-se o mais possível da polémica que envolveu Kevin Spacey, mas o caminho em si que escolheu, a nível do enredo da última temporada de House of Cards, foi bastante fraco. Numa temporada anterior ficamos no ponto em que Claire toma o poder e não perdoa Francis, nesta de repente o ex presidente está morto e ninguém sabe bem o que lhe aconteceu. A temporada toda é acerca de Claire tentar sair da sombra e do passado de Frank. Claire pode conseguir um pouco, mas House of Cards não sai da sombra do Kevin. Não por falta de tentativa, uma vez que com Claire no poder a série segue um rumo muito mais ligada a movimentos feministas, e sobre o tema de mulheres no poder. Se fosse bem explorado seria, sem dúvida, um tema importante e interessante, mas o que acontece é que é fácil de perceber que foi uma solução de recurso, a história toda de Claire parece um penso rápido numa ferida que não para de sangrar.
Algo positivo sobre a temporada foi a inserção da família Shepherd, que surge como uma nova presença, um vilão quando era preciso um que pouco tivesse a ver com Francis. São uma família que está ligada ao mundo empresarial, mas com muita influência dentro do senado e na casa branca. Mesmo quanto ao escândalo em questão ou ao vilão, esta temporada é fraca. Com apenas 8 episódios consegue alterar o tema umas três vezes e ainda haver um salto temporal. Esta temporada consegue condensar os jogos de poder entre Claire e Shepherd, o terrorismo praticado pela organização ICO e as crises políticas com a Rússia nestas 8 horas de televisão. O resultado é aquele que se vê pelas reviews e críticas todas.
Um dos inúmeros discursos que Frank já fez para o espectador, que para mim se tornou um favorito, foi “Such a waste of talent. He chose money over power. In this town, a mistake nearly everyone makes. Money is the McMansion in Sarasota that starts falling apart after 10 years, power is the old stone building that stands for centuries. I can not respect someone who does not see the difference.” Para mim nesta frase conseguimos ter uma leve ideia do centro de House of Cards, daquilo que tornou esta série fenomenal, a procura incessante por poder de alguém inteligente, psicopata e sem escrúpulos. Fomos acompanhando o percurso de Frank enquanto subia na hierarquia, mas havia uma coisa clara em cada temporada. O seu objetivo e o grande obstáculo. Quer fosse tornar-se secretário de estado ou manter a presidência. Com Claire não fica claro o que a move, se a mesma sede por poder, se a imagem que quer deixar.
Personagem de Destaque:
Douglas Stamper – O enredo à volta de Doug não está nada mau, é o único que sente verdadeiramente a falta de Frank, uma vez que a sua vida foi construída para servir o ex-presidente Underwood. Ele e Claire saltam à corda, tanto sendo aliados num momento, como logo de seguida esta está a tentar ver-se livre dele. Doug serve como uma brisa fresca ligeira, no sentido em que é a personagem mais semelhante ao que era nas outras temporadas anteriores e o único que me faz lembrar o que a série tinha sido. Seth também não está mal, apesar de não ter muito protagonismo, sempre gostei da interação entre ele e Doug. Quando há o salto temporal, apenas a mudança no seu aspeto foi suficiente para perceber que tinha tomado uma decisão que iria levar ao final da temporada e da série.
Pior episódio:
Chapter 73 – É muito difícil eleger o melhor episódio porque nenhum se destaca, talvez um momento preferido tenha sido quando o Doug decide atacar e corta a barba, voltando a ter o seu aspeto normal, ou algumas das interações que o presidente Russo tem com Claire. Mas são momentos esporádicos e fracos para contarem para a eleição do melhor episódio. Assim presenteio-vos com o que é para mim o pior episódio, o final da temporada. E é por isso mesmo, pelo final. A temporada tentou o seu melhor para ir atando algumas pontas soltas, mas termina de uma maneira muito anti-climática e muito pouco definitiva. Parece quase que não tiveram coragem para fazer o final ao contrário, pondo um fim definitivo ao reinado dos Underwood. Só sei que parece tudo um bocado aleatório e colado junto.
Para vos dar uma ideia, no IMDB antigamente a série estava cotada acima dos 9, agora está com 8.9. Não é grave, mas se formos ver as pontuações dos episódios, nesta temporada o melhor episódio atinge um mísero 4.7. E terminando esta crítica da maneira como comecei, no primeiro episódio o Frank mata um cão em sofrimento enquanto diz que não tem paciência para coisas inúteis. Ao menos temos o conforto da Netflix não prolongar mais o nosso sofrimento e terminar a série. Com uma temporada muito má, é certo, mas isso não apaga as memórias e toda a qualidade que ficou para trás. Relembro mais uma vez que não estou a dizer que o que foi feito não foi merecido ou justificado, apenas refleti como é que isso teve impacto na temporada. Iremos sempre lembrar todos os passos que levaram Frank onde chegou, todos os jogos de poder e chantagem. A adrenalina que era ver Frank a obrigar outra pessoa a mudar a sua opinião ou abdicar de um voto. Termino de vez com “The road to power is paved with hypocrisy, and casualties”.
O que é que vocês acharam?
Raul Araújo