Temporada: 1
Nº de episódios: 10
Baseada num famoso podcast, Homecoming centra-se em Heidi (Julia Roberts), uma terapeuta numa instituição na Florida, que ajuda militares a transitarem para a vida civil. Anos mais tarde, Heidi trabalha como empregada num restaurante, quando é abordada por um auditor do Departamento da Defesa, que a questiona sobre o seu trabalho em Homecoming, após uma denúncia contra a instituição.
Confesso que depois de ver o 1.º episódio cheguei a pensar não continuar a ver a série, pois não me cativou o suficiente. Resolvi ver o segundo, devido à curta duração dos episódios (menos de 30 minutos) e pelo facto de a Amazon ter lançado a temporada completa no mesmo dia. E ainda bem que dei uma oportunidade, porque a partir daí a minha opinião mudou completamente e vi a temporada toda numa assentada.
A temporada tem um começo lento e enigmático, sem dar a entender o rumo da história, que é contada em dois espaços de tempo diferentes, bem delineados durante toda a temporada, com momentos chave que nos permitem juntar as peças do puzzle. Cada episódio vai alternando entre o passado, em Homecoming, e quatro anos mais tarde, no presente, onde acompanhamos Thomas Carrasco (Shea Whigham), um auditor do Departamento de Defesa e a sua investigação, mostrando também, detalhes sobre a vida atual de Heidi e o porquê de ter abandonado o trabalho de terapeuta.
O tema da Perturbação de Stress Pós-Traumático (PTSD) está bem fincado na história, uma perturbação que afeta grande parte dos militares americanos após os horrores vividos no campo de batalha. No passado, Heidi é uma mulher rígida, mas simpática e empática para com os seus pacientes. No presente, Heidi é uma mulher diferente, menos confiante, até que percebemos o motivo desta mudança e tudo faz sentido. É notável a interpretação de Julia Roberts nestas duas versões de Heidi.
Durante o seu trabalho em Homecoming, Heidi encontra Walter Cruz (Stephen James), um dos militares com quem cria uma ligação especial. É esta relação e as alterações que começa a notar em Walter, que fazem com que Heidi tome consciência da verdadeira missão da instituição e que a levam a tomar uma decisão, que vai alterar a sua vida e a de Walter por completo, bem como o futuro de Homecoming.
Há uma cena em particular que gostei bastante, quando um dos militares, Shrier (Jeremy Allen White), está convencido que há algo de errado na instituição, incluindo o facto de estarem num local que não a Florida. Achei esta cena tão bem conseguida que até me fez duvidar se realmente estão na Florida. A verdade é que estão na Florida, mas Shrier tem toda a razão em desconfiar de Homecoming, principalmente à medida que vamos conhecendo o chefe maníaco de Heidi, Colin (Bobby Cannavalle), constantemente a telefonar para saber o progresso do tratamento, sem se importar com as consequências.
Com uma banda sonora sinistra e bem enquadrada, Julia Roberts não desilude no seu primeiro papel de protagonista do pequeno ecrã e está acompanhada por um elenco igualmente bem escolhido. No entanto, a minha grande surpresa é Stephen James, que é a alma de Homecoming. Também não posso deixar de mencionar a mãe de Heidi, brilhantemente interpretada por Sissy Spacek (Bloodline), que apenas aparece nas cenas do presente e tem uma química fantástica com Julia Roberts.
Não tenho muitos pontos negativos a apontar, para além do 1.º episódio, como já mencionei. Pessoalmente, custou-me a habituar aos diferentes formatos da filmagem, uma opção de realização de Sam Esmail (Mr. Robot), também o criador da série, e que até acaba por ser uma forma de descortinar entre cenas do passado e o do presente, mas que achei desnecessárias.
Resumindo, esta temporada vê-se muito bem, com episódios curtos e com pequenos pormenores que incentivam a ver o episódio seguinte. E apesar de apresentar um ritmo lento, com longos diálogos e momentos de silêncio, a história avança rapidamente e consegue aumentar exponencialmente a curiosidade sobre o desfecho, de episódio para episódio. Apesar desta temporada ter um início e um fim, gostava de ver a continuação da história de Heidi e Walter numa 2.ª temporada.
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Melhor episódio:
Episódio 5 – Achei este episódio uma delícia. Não por desvendar o mistério da história, mas sim por se focar na cumplicidade que existe entre Heidi e Walter. Neste episódio, Heidi perde a compostura rígida e entra nas brincadeiras de Walter, depois de ele colar os objetos todos da sua secretária. Heidi retribui colando Walter a uma cadeira durante um exercício de improvisação. Walter, não se dando por vencido, e com a ajuda dos companheiros, coloca um pelicano (uma ave que emite um som que Heidi detesta) dentro gabinete de Heidi. O mais interessante, é ser um pelicano que acaba por brindar Heidi com uma enorme revelação, no futuro.
Personagem de destaque:
Walter Cruz – Walter é um jovem soldado, ansioso por voltar à sua vida pacata, longe de guerras e conflitos. Genuíno, humilde e carismático, Walter tem uma boa disposição contagiante, apesar do trauma que viveu no Médio Oriente, no qual perdeu um companheiro da sua unidade e a qual era responsável. Walter tem planos para o futuro que não envolvem o exército e espera que Homecoming o ajude a concretiza-los.
Ana Velosa