[Contém spoilers]
Já estreou no AMC o penúltimo episódio de Soulmates, Break on Through, que acompanha Kurt (Charlie Heaton), que, após descobrir que a sua alma gémea morreu, fica desconcertado e acaba por se juntar a um culto religioso que promete reunir as pessoas com as suas almas gémeas.
Soulmates, ao longo dos episódios, tirando o primeiro, talvez, já tinha mostrado que conseguia ser imprevisível – ora pelo rumo que a história seguia, ora pelas questões abordadas, ora pelos finais – mas este quinto episódio, Break on Through, conseguiu ser o mais imprevisível de todos (ainda mais para mim que não sabia absolutamente nada sobre ele). Por mais que eu pensasse em possíveis histórias que podiam criar, nunca me passaria pela cabeça algo como o que vemos em Break on Through. Ainda estou fascinada com o episódio, juro-vos! Adorei-o do início ao fim, mesmo este sendo estranho, e sem dúvida que se tornou dos meus favoritos.
Primeiro, tocou numa questão que faz bastante sentido e é bastante plausível, mas que nunca me tinha passado pela cabeça, que é no facto de as almas gémeas poderem morrer antes se se conhecerem. É um ponto bastante importante e interessante de se abordar e acho que a série o fez de forma esplêndida e inesperada, optando por mostrar o quanto isso pode mexer com a cabeça de uma pessoa, a ponto de esta sofrer tanto por a morte de alguém que não conhece que chega a tentar tirar a própria vida. É muito estranho pensar nisso, não só na ideia de a alma gémea morrer, mas o impacto que isso pode ter na vida da outra pessoa, ainda para mais se nos tentarmos colocar no lugar do personagem. Se fosse eu como é que reagiria? Que impacto é que isso teria na minha vida?
Segundo, recorreu à existência de um culto creepy que conseguiu pegar na fragilidade das pessoas e convencê-las, com a promessa de que se iriam reunir com as suas almas gémeas e assim viver uma vida feliz, a cometer suicídio. Mais do que isso, eles puseram-nos a cavar a própria sepultura. Apesar de ser uma representação ficcionada daquilo que pode ser um culto, não deixo de ficar abismada com a capacidade que eles tiveram de manipular as pessoas, embelezando as suas verdadeiras intenções com passagens da Bíblia e palavras bonitas e de esperança, a ponto de as pessoas ficarem tão cegas que não veem para além disso. A certa altura entende-se bem qual é o objetivo final e mesmo assim as pessoas continuavam dispostas a isso. E essa ideia assusta-me e não está muito longe de algumas realidades. Considero que terem pegado nisso foi simplesmente genial.
Terceiro, apesar de existir o teste, Soulmates parece estar mais inclinada a mostrar-nos que é possível as pessoas apaixonarem-se e decidirem ficar com outra pessoa que não a alma gémea. E eu acho isso interessante, porque não limita o amor a um simples teste ou à existência de uma alma gémea. Tanto é que, no primeiro episódio, apesar de Nikki e Franklin decidirem ficar com as suas almas gémeas, eles pareciam sentir falta um do outro e pareciam não estar muito felizes. No terceiro episódio, Libby não era inteiramente feliz com a sua alma gémea porque sentia falta de Adam e então acabaram por ficar os três juntos e, no final, parecia que a relação dos três estava a resultar bastante bem. No quarto episódio, Mateo tinha decidido que ia encontrar a sua alma gémea, mas abdicou disso para ficar com Jonah. E neste quinto episódio, apesar de tanto a alma gémea de Kurt como a de Martha (Malin Åkerman) terem morrido, eles acabam por desistir da ideia de “ficarem com as suas almas gémeas”, porque se apaixonam.
Assim, acho que a série nos está a tentar mostrar que a alma gémea não determina nada. Podes tentar ter algo com essa pessoa e não resultar ou até mesmo resultar, mas não seres 100% feliz. Enquanto que podes tentar com outra pessoa, que não a tua alma gémea, e resultar. Depende sempre dos sentimentos e de cada um em específico e uma vez que estas “variáveis” não são estáticas, é difícil determinar realmente o que resultaria ou não. Já para não falar que não sabemos como é que efetivamente são determinadas as almas gémeas.
Posto isto, atrevo-me a dizer, ainda sem saber como vai ser o sexto e último episódio desta temporada, que tiro o chapéu a Soulmates. Aquele primeiro episódio não fazia prever a excelente série que iríamos ter ao nosso dispor. Está, sem dúvida, a valer bastante a pena ver cada um dos episódios porque são mesmo muito bons, então Break on Through nem se fala. Apesar da série não estar a seguir muito bem a direção que eu estava à espera que seguisse, a verdade é que me tenho vindo a surpreender de episódio para episódio e ainda bem que assim é. Conseguir surpreender nem sempre é fácil, mas conseguir fazê-lo de diversas formas e de maneira tão bem feita é simplesmente sensacional.
Cármen Silva