Raising Hope (ou podia ter sido antes Raising Princess Beyoncé?)
| 28 Fev, 2021

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[Não contém spoilers]

O lado positivo de ser uma pessoa cuja memória deixa muito a desejar, é que posso voltar a ver séries e ter aquela sensação de deslumbramento ou insatisfação quase como se fosse a primeira vez. Não acontece com todas, há algumas que estão muito presentes na minha cabeça, mas com uma boa maioria sim. Portanto, recebi com bastante entusiasmo a notícia de que Raising Hope passaria a integrar o catálogo do Disney+ e decidi rever o episódio piloto desta que é uma das minhas comédias preferidas de sempre.

Como muitas outras comédias, Raising Hope passa-se num ambiente familiar, mas é um bocadinho diferente de tudo o que já vi. Ora, Jimmy é um jovem de 23 anos que trabalha com o pai num negócio de limpeza de piscinas, juntamente com o primo. No entanto, ao fartar-se de passar os dias a fazer sempre a mesma coisa, ele decide despedir-se e quer focar-se em arranjar um plano para a sua vida. E não é que o plano lhe vai bater à porta? Ou melhor, cruza-se com a carrinha dele, na estrada. Jimmy salva uma rapariga em apuros, ela vê-o como um herói e Jimmy acredita que encontrou o amor e que este é o seu propósito na vida. Pois, certo! Só que a “donzela em apuros” era, afinal, uma assassina procurada pela polícia e que acaba no Corredor da Morte. Nada disto é spoiler, faz parte da sinopse conhecida da série. Só que, surpresa das surpresas, Lucy engravidou de Jimmy e, com a sua condenação, ele não tem outra alternativa que não seja ficar com a bebé. Bem, a mãe de Jimmy deu-lhe algumas sugestões, mas ele não quis ouvir e é aqui que a história verdadeiramente começa: com aquela família a ficar com a menina e a ter de a criar.

A família de Jimmy é bastante doida, mas são exatamente o tipo de doido que faz falta numa série destas. A avó tem uma demência e portanto perde a completa noção das coisas, o que suscita uns momentos muito caricatos, incluindo beijar o neto na boca a pensar que é o marido. Os pais de Jimmy foram muito precoces e tiveram-no quando ainda eram adolescentes. Não tinham a menor noção do que estavam a fazer e a surpresa é que ele tenha sobrevivido até à idade adulta, ainda por cima incólume. A verdade é que Burt e Virginia continuam a parecer não saber o que estão a fazer, mesmo com o filho já adulto, mas Jimmy está tão ou menos preparado do que eles para enfrentar esta nova fase.

O elenco é bastante pequeno, e resume-se essencialmente ao núcleo familiar, mas é muito bom. Destaque para a estupenda Cloris Leachman, recentemente falecida, e Martha Plimpton, que também poderás conhecer de The Real O’Neals. A rapariga que trabalha no supermercado também é uma personagem bastante interessante, mas há que dar os devidos louvores à verdadeira estrela desta série: a bebé Hope. A sério, é muito fofa! Só que, pelos vistos, o conteúdo da sua fralda é pior do que radioativo. Boa sorte a quem tiver que tratar disso!

Este episódio piloto de Raising Hope fez-me sorrir várias vezes e, melhor do que isso, também me fez rir com vontade em algumas situações. Aqueles flashbacks da altura em que Jimmy era pequeno foram uma verdadeira preciosidade, mas esta série tem uma vantagem que penso que muitas do género não têm: uma história para contar. As comédias vivem muito das situações, simplesmente desfruta-se do que está ali à frente, mas esta, muito desde o início, fez-me agarrar à trama.

A série recebeu algumas nomeações para os prémios Emmy, em categorias de interpretação, mas achei que nunca recebeu muita atenção do público em Portugal. Já lá vão alguns anos, Raising Hope passava num dos canais FOX de cá, mas eram poucas ou nenhumas as pessoas que eu conhecia que viam a série. Sinto-me na obrigação de avisar que a última temporada desiludiu imenso, mas as outras foram muito, mas muito, divertidas. Houve uma altura em que a única comédia de que gostava mais do que desta era Friends e mais não digo!

Diana Sampaio

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