Como Água para Chocolate é uma adaptação para minissérie do romance com o mesmo nome da autora mexicana Laura Esquivel. A produção da HBO, disponível em Portugal na Max, abre com a mãe Elena (Irene Azuela) a chorar por estar a cortar cebolas. Ela chora tanto, mas tanto, que acaba por induzir o próprio parto ali mesmo na cozinha da família e é neste caos que nasce a nossa protagonista, Tita de la Garza (Azul Guaita). Ela nasce literalmente do choro e toda a água que acaba no chão da cozinha acaba por se transformar em quilos de sal que são colhidos depois pela família.
Conto-vos esta cena inicial, pois encapsula tudo o que a série é, uma história de realismo mágico, muito metafórica, com uma ligação especial e mágica à culinária, que no fundo está no centro de toda a narrativa.
Em termos históricos, Como Água para Chocolate retrata o século XIX, principalmente a época da Revolução Mexicana. Conhecemos Pedro Múzquiz (Andrés Baida), o interesse amoroso de Tita, mas também alguém que pensa contra a corrente e quer plantar as sementes para uma revolução contra o regime autoritário do México.
O regime autoritário está presente não só na sociedade, mas na mentalidade das pessoas desta época, tal como é representado por Elena, uma mãe antiquada que nunca gostou verdadeiramente de Tita. Para ela, o papel da filha é ficar em casa a vida toda, sem casar, de forma a cuidar da mãe. Tita tem todos estes entraves na sua vida, sendo que a maneira dela de lidar com a situação é cozinhar, pois quando cozinha consegue entranhar na comida todas as suas emoções e pensamentos.
Como Água para Chocolate é como se fosse um refúgio acolhedor, perfeito para esta altura em que começa a ficar frio. O seu tom é de esperança, de grandes emoções, embora por vezes demasiado melodramático, mas que dá a mesma sensação de beber um chocolate quente no final de um dia de inverno.