The Big Cigar, a nova minissérie que estreou hoje na Apple TV+, surge como um tributo ao cinema e à contracultura ao explorar o poder transformador de ambos.
No primeiro episódio, intitulado Panther/Producer, somos convocados a presenciar o início da história real e improvável de Huey P. Newton (André Holland), cofundador do Partido dos Panteras Negras, que se une a um produtor de Hollywood, Bert Schneider (Alessandro Nivola), para escapar do FBI e arquitetar a sua fuga para Cuba.
Para entendermos a magnitude da história de Newton e do Partido dos Panteras Negras, é fundamental mergulhar no contexto histórico da época. A década de 1970 nos Estados Unidos foi marcada pelo Movimento dos Direitos Civis, que lutava pela igualdade racial e contra a segregação. Nesse cenário, o Partido dos Panteras Negras surgiu como um movimento radical, ao defender a autodefesa armada e programas sociais para a comunidade negra.
Desde os primeiros minutos, somos imersos num rico cenário da década de 70, com inúmeros elementos que fazem referência à cultura pop da época. A dinâmica da apresentação inicial dos factos prende a atenção do espectador ao utilizar recursos como flashbacks e uma estrutura não linear. A escolha de planos mais fechados, por sua vez, gera uma sensação claustrofóbica e de proximidade com as angústias do protagonista.
A banda sonora e o humor sarcástico presentes no episódio conferem leveza à narrativa, enquanto aprofundam as motivações e relações entre os personagens. A sensação de movimento constante ocorre como se estivéssemos numa verdadeira revolução. Cada detalhe, por mais subtil que seja, contribui para a construção da atmosfera realista que figura a Newton o papel de líder do Partido dos Panteras Negras e dos movimentos sociais naquela altura.
As performances de Holland e Nivola são consistentes, enquanto os personagens secundários ocasionalmente adotam uma abordagem estereotipada que demanda cautela para não ultrapassar limites sensíveis. É crucial destacar que a escolha de uma abordagem humorística, ainda que ácida, é uma linha ténue entre o humor e o potencial de ofensa. Preocupa-me o risco em desviar o foco da narrativa principal e, inadvertidamente, ridicularizar alguns personagens.
The Big Cigar é claramente uma aposta na importância de contar uma boa história. O primeiro episódio é promissor e destaca-se ao abraçar com coragem uma posição bem definida, dando voz e validação a um movimento social extremamente relevante na história contemporânea.