Berlim (Pedro Alonso) é daquelas personagens que se ama odiar ou que se odeia amar, seja qual for destas realidades a mais acertada para te descrever, uma coisa é certa: não deixa ninguém indiferente e, por isso mesmo, estava bastante curioso para ver este primeiro episódio de Berlín que finalmente tem uma série a que chamar sua, como principal e não secundário, com o destaque merecido. É daquelas figuras tão impactantes que os próprios criadores da série mãe se arrependeram de o terem matado logo no fim da 1.ª temporada de La Casa de Papel, tendo congeminado as mais variadas e inventivas (umas melhores que outras convenhamos) artimanhas, artifícios e subterfúgios para o manter até ao último suspiro da série. Podiam ter logo investido nesta solução, pois por vezes os flashbacks que nos davam vislumbres dos vários assaltos levados a cabo por ele, pareciam mais interessantes do que o da linha temporal atual da série, mas se o objetivo era abrir caminho para esta prequela, e gerar expectativa, conseguiram, pois ficou a saber a pouco, logo abriu apetite para mais.
Foi precisamente com isto em mente que me sentei a ver Berlín e, também, com esperança de que o que nos mostrassem fosse mais como os trabalhos vistos no passado dele, do que como em La Casa de Papel: mais história, menos realidade, mais glamour, menos fatos de macaco, mais artefactos e menos, bom, papel… e assim foi, não desiludiu. Não vou entrar em detalhes do que está planeado, mas digamos que a minha veia de arqueólogo aprova, está numa onda mais Indiana Jones, do que Ocean’s Eleven, aventura, às vezes até a roçar no macabro, o que a distancia muito saudavelmente como prequela. Neste primeiro episódio de Berlín só ainda temos uma ideia geral do que está para vir, e como todos sabemos, nada vai ser como planeado, mas anseio ver os restantes episódios e verificar como tudo pode correr mal, pois neste cenário, duvido que mesmo o mau não vá ser bom.
Para além da idealização do plano, que é bastante audacioso e grandioso até geograficamente diga-se de passagem, somos também apresentados ao novo “bando”, como é habitual, personagens diferentes, cada um com a sua especialidade e o rol é bastante apelativo, embora ainda não se tenham aprofundado muito as suas nuances e características. A química entre os atores funciona, e as dinâmicas que constroem têm potencial para render bons plots. No entanto, aqui entramos no campo do que para mim foi o ponto fraco do episódio. Enquanto toda a trama à volta do assalto parece estar muito original e faz o melhor uso da história e mística que existe à volta de Paris e do seu “submundo”, abusaram no que diz respeito à parte do amor, c’est vraie, c’est lá cité de l’amour mais não precisava ser tanto sobre isso, com tão poucos personagens, não havia necessidade de tentar tanta conexão, em tão pouco tempo, não deixaram as personagens respirar. Aqui cometeram o mesmo erro que em La Casa de Papel, pois obviamente todos gostamos de uma boa história de amor no meio do caos, que pode deitar tudo a perder no último momento, decisões impossíveis, amor ou dinheiro, e sabemos que toda a ficção sobre assaltos tem a sua dose de sensualidade, tensão, que conjuga maravilhosamente com o perigo, mas precisavam mesmo de gastar tanto tempo nisso logo no primeiro episódio? Penso que não, embora não digo que seja totalmente incoerente, pois sabemos que era inevitável sendo Berlim um pinga amor irremediável como tantas vezes no foi mostrado, pelo menos é um personagem consistente.
Este primeiro episódio de Berlín é sólido, joga bem as suas cartas para nos prender e querer saber como tudo vai correr, introduz muito bem as linhas gerais do que esperar, tanto do planeado, que é bastante inteligente e refrescante, como planta já as sementes do que esperar que faça tudo correr mal. Sem grande surpresa, revelou-se positiva. Vou definitivamente ver até ao fim, et toi? Todos os episódios de Berlín já se encontram disponíveis, na Netflix.