A minha relação com Suburra, a série “mãe”, foi engraçada: a 1.ª temporada foi lançada e, visto passar-se numa Roma contemporânea, não me despertou particular interesse, mas, entretanto, numa visita à cidade eterna, e à boleia do meu fascínio por história e arqueologia, decidi conferir e ir assim identificando (revivendo) os sítios por onde passei, pelos quais me apaixonei, devido à sua malha urbana atípica, a mescla vibrante de novo e velho. Começou aí a nossa história de amor, mesmo não tendo como pano de fundo Paris. Ao fim das três temporadas, e não tendo morrido de amores pelo modo como encerrou a história, pensava que tinha ficado por ali. Finito. Tinha a série fechada na minha cabeça. Daí a minha relutância em embrenhar-me nesta nova iteração naquele universo. No entanto, o coração falou mais alto, e embarquei no visionamento deste primeiro episódio de Suburræterna (Suburra Eterna).
Três anos se passaram desde o final de Suburra. Estamos em 2011, no auge da crise económica que assolou grande parte do mundo e que foi bastante castigadora principalmente para os países do sul da Europa, onde Portugal e Itália se inseriram, claro. Tumultos, manifestações, desordem social vêm aferir uma camada extra à já complicada e complexa vida do crime de Roma. Pois essa parte, obviamente, continua a ser central na trama, o motor que está no ADN daquele mundo, mas contextualizarem com os acontecimentos reais da época foi certeiro. Já não parece que seja apenas uma questão de ganhar poder e território e passou a ser uma questão de sobrevivência, o que leva inevitavelmente a ações mais desesperadas, menos pensadas e mais viscerais. Matar ou morrer. E isso, quando bem executado, rende entretenimento de qualidade e momentos surpreendentes e – neste caso específico – de extrema violência, mesmo em comparação com os padrões estabelecidos pela série precedente.
A curiosidade estava ao rubro para saber que personagens iriam regressar, o que lhes teria acontecido e em que momento das suas vidas se encontravam volvidos três anos e, muito importante, como estavam a lidar com o desaparecimento de um personagem fulcral. Essa parte foi sem dúvida o ponto alto deste primeiro episódio de Suburræterna: voltar a ver Spadino (Giacomo Ferrera), Angelica (Carlotta Antonelli), Nadia (Federica Sabatini), Cinaglia (Filippo Nigro), a matriarca Adelaide (Paola Sotgiu), fez-me perceber que tinha saudades mesmo sem saber que as tinha tido e, ao mesmo tempo, ao reviver aquele malogrado último episódio e o porquê de ter enterrado tão rápido a série nas minhas memórias, senti-me mais um personagem da trama.
Como seria de esperar, muita coisa aconteceu neste tempo de hiato. O ritmo de acontecimentos é rápido e tudo muda depressa, confirmando que há coisas que nesta série não mudam de facto. Novos aliados, velhos inimigos, relações forjadas a sangue, ferro e fogo. Mas aqui, neste ponto, é que se encerra também a pior fraqueza da série, que vive destes personagens, com os novos a serem apenas ecos de outros que, de uma maneira ou de outra, não sobreviveram a esta transição. Tirando Damiano (Marlon Joubert), embora seja também ele uma cópia do personagem cuja falta mais se sente (por nós e por eles), que traz algo de diferente. Todos os outros são uma eterna repetição do que já houve.
No geral, foi um bom episódio. Acabou com uma reviravolta inesperada que, por si só, já fazia valer a pena continuar, pois é mesmo um game changer. No entanto, sendo justo, e num panorama geral, é uma tentativa competente e bem executada que merece a pena ser acompanhada até ao fim e conferir que mais surpresas nos reserva. Numa história que pensava acabada, afinal ainda há mais para contar. Se és fã de Suburra, vê este primeiro episódio de Suburræterna. Se não, começa pelo início e decide, no fim, se continuas a saga. Não recomendo começar-se por esta série, pois perde-se muito contexto. O facto de ser uma continuação direta pode dificultar a compreensão de atitudes ou de momentos chave.
Podes ver a 1.ª temporada completa, constituída por oito episódios, na Netflix.