Estreou no dia 17 de novembro, na Prime Video, em parceria com a Pródigo Filmes, a série Amar é para os Fortes. A série brasileira é baseada no sétimo álbum do artista Marcelo D2 e aborda temas como o racismo, a violência policial e a luta contra as injustiças nas comunidades mais empobrecidas do Brasil.

Resumindo a história e tentando não dar muitos spoilers, neste primeiro episódio de Amar é para os Fortes, vemos como é a dificuldade da vida num bairro pobre do Brasil. No entanto, a falta de dinheiro não é o grande problema, mas sim o nível de violência e de discriminação racial que existe por parte da polícia para com a comunidade. Esta questão não é nova. A luta da polícia, maioritariamente composta por elementos de raça branca, contra as comunidades negras tem sido um flagelo da humanidade que infelizmente teima em não desaparecer. Em Amar é para os Fortes temos uma crua, mas sincera, pintura da realidade, em que uma criança é baleada e assassinada por um polícia que perseguia um bandido. A criança não estava envolvida em nada, apenas estava na rua, mas o comportamento da polícia foi primeiro disparar e depois averiguar.

Este retrato é chocante e acredito que o resto da série também o será. O ponto curioso nesta trama é que o polícia que disparou contra a criança também é negro e viu-se forçado a cometer aquela ação por pressão do parceiro. No entanto, o que vamos ver daqui para a frente são duas mães a lutar pelos filhos. Uma perdeu o seu sem que nada tenha feito para merecer tal fatalidade e a outra vai tentar defender o filho, que cometeu um crime grave e que vive num arrependimento que o consome. No fundo, mãe é mãe e este episódio, assim como a série, vai tentar mostrar as duas perspetivas.

Tecnicamente, achei este episódio muito bem realizado. A narrativa desenrola-se muito bem e rapidamente estamos familiarizados com as personagens e com o mundo onde vivem. Sendo um homem caucasiano e que vive numa realidade muito mais pacata, não posso dizer que sei o que os personagens estão a sentir, mas posso garantir que a sensação de medo e de falta de segurança é extremamente bem mostrada e, claro, a isto junta-se um leque de atores muito bons. O ponto de que não gostei tanto foi que, nas cenas iniciais, os personagens falam muitas vezes uns por cima dos outros. Curiosamente é algo que tenho reparado que está a acontecer em várias séries e filmes recentemente. Entendo a perspetiva de dar mais realidade à cena, porque estas coisas acontecem na vida real, mas neste contexto faz com que alguns diálogos fiquem impercetíveis e isso não é positivo para quem está a ver.

Concluo dizendo que gostei do primeiro episódio pela sua realidade e pelo seu sentido humanitário. A série tem um propósito e defende-o muito bem. A arte também é isto: é o choque e a crueldade da vida real e acredito que muitos se vão identificar com os personagens e os acontecimentos. Dito isto, Amar é para os Fortes é realmente para os fortes e acredito plenamente que terá o seu papel educativo e ilustrativo de uma realidade que infelizmente continua a acontecer.