Sendo grande apaixonado pela história da Idade Média e principalmente pela mitologia e lendas desta época, obviamente estava curioso para ver qual a abordagem deste primeiro episódio de The Winter King ao tema. Não tendo lido a coleção de livros homónimos, de Bernard Cornwell, que serviram como base na qual a série assenta, era uma tela em branco pronto para ser surpreendido.
Percebe-se desde a cena inicial que The Winter King vem com a missão de ser uma lufada de ar fresco numa história já contada muitas vezes, pois seja através de livros, filmes ou séries, as lendas arturianas estão no nosso imaginário há décadas.
Neste primeiro episódio começamos a ter um vislumbre de quem é quem, qual o lugar e papel de cada personagem, relações entre eles, e começam a desenhar-se as linhas do que será o arco desta 1.ª temporada. Sente-se como se tivéssemos entrado a meio da narrativa, de uma história já a ser contada, mas que na realidade é a génese do que viria a ser celebrado como o grande Rei Artur, interpretado por Ian de Caestecker, que deixa longe o seu Fitz de Agents of S.H.I.E.L.D., atuando aqui num registo completamente diferente, mais maduro e mais recatado, antevendo a sua evolução e consequente mudança para o herói que todos conhecemos.
Para quem não esteja tão ambientado com as lendas arturianas, a sua mitologia e variantes da mesma, pode ser um pouco confuso ligar os nomes, que são familiares, Merlin (Nathaniel Martello-White), Morgana (Valene Kane), Nimue (Ellie James), à timeline da história, ou seja em que ponto nos encontramos e qual das suas inúmeras variáveis está a ser usada como suporte. No entanto, são bem plantadas as sementes do que podemos esperar das respetivas storylines: muitas lutas de poder entre personagens e, num panorama mais geral, batalhas sangrentas entre as várias tribos e destas contra os Saxões. Sente-se no ar a tensão em algumas cenas, muito bem conseguidas através dos bons diálogos.
O tom é mais sóbrio e mais cru do que nas últimas incursões da televisão neste mundo. Enquanto Merlin se focava mais na parte da comédia e aventura, recheada de momentos mágicos e dragões falantes, ou Camelot tinha uma aura mais escura, mais gótica, o estilo deste primeiro episódio, pelo menos, aproxima-se mais de uma narrativa à la Game of Thrones ou Vikings (primeiras temporadas, em ambos os casos), focada nas intrigas políticas com mais conversa e menos ação, mais realidade e menos magia. Aliás, neste último ponto só somos transportados para o lado mais místico das histórias através de pequenas e escassas visões e vaticínios experienciados por algumas personagens. Nada de caldeirões fumegantes, brumas misteriosas ou dragões voadores.
O elenco de The Winter King é de modo geral competente. Convence com o pouco material que lhe é dado, pois com tanta trama paralela a despontar e um óbvio foco na história principal, é evidente que, em apenas uma hora de episódio, alguns saem como personagens unidimensionais, sem muita profundidade. Ficamos com a sensação de que estão as bases lançadas para se tornar numa série épica, mas sem ainda o ter sido neste primeiro episódio, o que é ótimo. Cria expectativa e antecipação para o que aí vem. Irei acompanhar a restante temporada e conferir em que jornada afinal vamos ser levados.
The Winter King estreou no passado dia 20 de agosto na MGM+, rede de televisão americana conhecida por, nos últimos tempos, nos trazer grandes séries originais como From ou Domina. Esperemos que tenham outro sucesso em mãos! Ainda não há previsão de data de estreia da série em Portugal.