Transatlantic é uma das mais recentes apostas da Netflix, dos mesmos criadores da série alemã Unorthodox (2020), e esta nova história tem início com o episódio Hiding Hand Principle.
Adaptada a partir do romance histórico The Flight Portfolio, de Julie Orringer, por sua vez vagamente baseado na história de Varian Fly, um jornalista americano que, durante o Holocausto, ajudou milhares de judeus a fugir da guerra, Transatlantic brinda-nos com um episódio de estreia repleto de ação, drama e emoção.
No ano de 1940, Varian Flyn (Cory Michael Smith), membro do Comité de Resgate de Emergência (Emergency Rescue Committee) é enviado para Marselha, com o objetivo de ajudar a resgatar vítimas do Holocausto. Mary Jayne Gold (Gillian Jacobs), uma jovem herdeira americana com uma enorme vontade de ajudar, acompanha-o, ficando encarregue de toda a parte financeira e logística da missão.
Em plena Segunda Guerra Mundial, a Europa estava repleta de judeus, artistas e intelectuais que, perseguidos, zangados e inconformados com as novas crenças e valores que pareciam inundar o continente, procuravam refúgio e exílio em países mais seguros e despidos de preconceitos.
Mary Jayne, numa das suas missões de resgate, conhece Albert (Lucas Englander) e Ursula Hirschmann (Morgane Ferru), dois irmãos judeus à procura da primeira oportunidade para fugir do país. Sem pensar duas vezes, a jovem oferece-lhes uma passagem direta para os Estados Unidos através de um barco que sairia de Marselha na manhã seguinte. No entanto, fugir da Europa era uma tarefa complicada na altura, com rusgas policiais e militares, regimes autoritários e perseguição aos judeus e o plano não correu como tinha inicialmente sido idealizado. Albert e Ursula são presos e, na prisão, conhecem Lisa Fittko (Deleila Piasko), uma jovem fugitiva com o plano de escapar para Espanha.
Paralelamente, Mary Jayne não se conforma com a captura dos dois irmãos e acaba por pagar à polícia para que os liberte. O efeito deste suborno é quase imediato e uma das melhores cenas do episódio ocorre quando Albert está prestes a ser libertado, mas fica retido com a polícia, que o questiona sobre a quantidade de passaportes que possui em seu nome. O curto monólogo de Albert é arrepiante e soa quase como poesia.
Depois disso, os irmãos reúnem-se e, com a ajuda de Mary Jayne e Lisa Fittko, o sonho de fugir parece estar gradualmente mais próximo. No entanto, Albert decide ficar para trás, no país que tão mal o tratou e recebeu, para ajudar mais pessoas na sua situação.
Transatlantic, apesar da luz tendenciosa com que acaba sempre por pintar os Estados Unidos e os americanos, é uma história sobre esperança, sobre família, humildade e, acima de tudo, sobre humanidade – sobre o que nos torna humanos, o que fazemos para sobreviver e para que aqueles que amamos sobrevivam também. É uma lição sobre sacrifício, altruísmo e amor.