The Power da Prime Video é a adaptação para televisão do livro homónimo, escrito por Naomi Alderman e lançado em 2016. Imagina um mundo onde mulheres adolescentes desenvolvem eletricidade e conseguem produzir choques elétricos a partir dos seus dedos. A partir desta premissa são exploradas questões como o poder social, feminismo e sexismo.
Os primeiros três episódios estrearam em simultâneo na Prime Video e esta foi sem dúvida a decisão acertada. Ver só o primeiro episódio não chega para compreender o estilo da série e a escala desta história. Nestes episódios, somos introduzidos a várias raparigas adolescentes de todos os cantos do mundo, no momento em que descobrem este poder estranho. Entre todas as personagens adolescentes, destacam-se Jos (Auli’i Cravalho), Allie (Halle Bush), Roxy (Ria Zmitrowicz) e Tatiana (Zrinka Cvitešić).
Jos é a filha rebelde de Margot, interpretada pela maravilhosa Toni Collette, a mayor de Seattle, que terá que lidar em primeira mão com esta situação, enquanto tenta também balançar a relação tumultuosa com a sua filha. Allie descobre uma nova comunidade, que mais parece um culto, onde se junta a mais raparigas que foram afastadas de casa por serem consideradas perigosas. Já Roxy é uma londrina com uma história de vida muito atribulada, com um pai ausente e uma mãe com alguns problemas. A jovem beneficiará do seu novo poder para escapar desta vida. Por fim, Tatiana é filha de um ditador e toda a sua vida é menosprezada…até que se vê munida com esta nova arma na ponta dos dedos.
Li o livro quando saiu e é um livro que retrata de forma muito interessante o que aconteceria se o poder social que é atribuído aos homens fosse revertido para as mulheres. Começamos por ver as mulheres a terem armas de defesa para crimes físicos, como ataques e violações, mas também mais poder político e de influência na sociedade. As coisas não acabam de forma feliz, pois o objetivo desta história é mostrar que o problema não é os homens estarem no poder mas sim, as complicações que surgem da disparidade entre grupos sociais, seja qual for o seu género.
A adaptação consegue introduzir as várias personagens e os seus backgrounds, saltando entre perspetivas e dando espaço a cada uma para se desenvolver. Daí achar que ver só um episódio não é suficiente, pois é muito introdutório, enquanto que no 3.º já temos uma ideia mais formada do que vai ser realmente a série e da sua trajetória. Gostei da representação e da fotografia, mas acho que a história foi suavizada para uma audiência televisiva. Por exemplo, a Roxy no livro é muito mais agressiva e a Margot não é tão simpática e cuidadosa com a filha. Além disso, as partes mais negras são mesmo muito mais intensas e gráficas. A série consegue ser fiel aos diversos temas abordados no livro, mas tenho receio que algumas das histórias sejam demasiado romantizadas para apelar à empatia do público, não sendo este o objetivo, em muitos dos casos. Algumas personagens estão simplesmente lá para mostrar a sede de poder que o ser humano tem, independentemente do seu género.
No geral, The Power é uma boa aposta da Prime Video e a história apocalítica é capaz de nos envolver completamente, já que ficamos com curiosidade em saber como cada uma das personagens vai usar o seu novo poder e como isto vai afetar as suas vidas. Se viste o primeiro episódio e não te convenceu completamente, aconselho a veres mais alguns, pois a história demora um pouco a arrancar. Do meu lado, vou continuar a ver e esperar que a série me surpreenda e não tenha medo de ser mais visceral.