Miracle Workers: End Times – 04×01 – Welcome to Boomtown
| 23 Fev, 2023
7.35

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Miracle Workers: End Times é a 4.ª e mais recente temporada da série de antologia, começando com este primeiro episódio, Welcome to Boomtown. É também já a segunda sem o criador Simon Rich, substituído entusiasticamente pela dupla Dan Mirk e Robert Padnick. Conta ainda, como já era esperado, com o mesmo elenco central de sempre: Daniel Radcliffe, Geraldine Viswanathan, Karan Soni, Jon Bass e Steve Buscemi. A série é emitida no canal TBS nos Estados Unidos e na HBO Max em Portugal. 

Desconhecia o facto de estarmos a precisar que Miracle Workers nos levasse a um mundo pós-apocalíptico reminiscente de Mad Max, mas confesso que, agora que esse cenário existe, é extremamente bem-vindo. 

Minimizando os spoilers, mas aguçando o apetite, são diversos os detalhes deliciosos a apreciar neste episódio: desde a esposa holograma aos créditos inescapavelmente esculpidos pelos anos 80. Quase que se espera que Mel Gibson apareça como Rockatansky para um pequeno cameo, vestido a rigor. Logicamente, a influência da década não acaba aí: temos direito a um Terminator cheio de atitude – cujas subtilezas ficam incrivelmente bem inseridas no enredo e são vestidas na perfeição por Soni.

À semelhança das temporadas anteriores, Miracle Workers exibe um humor rápido e inteiramente sarcástico, genialmente interpretado pelo (praticamente) mesmo grupo de atores que, de resto, já habituou o espectador a uma química artística sem esforço aparente. É inegável assumir que a escolha de colocar os mesmos cinco atores em cenários diferentes tem sido uma das razões de maior sucesso da série. É um feito admirável que as personagens mantenham algumas dinâmicas de temporadas anteriores, tornando-se ainda assim versões completamente diferentes de si mesmas. 

É criminosamente hilariante o quanto o estilo steampunk nasceu para ser envergado por Steve Buscemi e vê-lo neste projeto é, invariavelmente, um regalo. A bem da verdade, as cenas entre Buscemi e Radcliffe são tão fascinantes quanto descomplicadas e a admiração mútua parece ser ainda mais evidente neste episódio. Um dos meus receios é que não existam mais momentos desta esgrima de representação entre ambos na presente temporada.

Apesar de, no geral, o marketing para a série ser quase inexistente em Portugal, é indubitável que o maior trunfo de Miracle Workers nesse sentido seja, naturalmente, Daniel Radcliffe (que é também um dos produtores executivos, tal como Buscemi). O ator é um fã confesso de dark comedies e sátiras que não agradam ao espectador comum e são frequentes os momentos em que promove e defende afincadamente argumentistas e criadores (para quem tiver tempo e/ou curiosidade, esta entrevista no The Late Show é exemplo perfeito). A paixão visível de Radcliffe por Miracle Workers faz com que não nos lembramos d’Aquele Cujo Nome Não Deve Ser Pronunciado, mas sim do seu compromisso com projetos que lhe dão gozo, nomeadamente comédias absurdas. 

De resto, as premissas no enredo também me parecem, para já, apelativas e que qualquer de nós reconhecerá enquanto indivíduo e cidadão num mundo em progressão decadente. O que acontece quando repentinamente não somos a mesma pessoa por quem o nosso parceiro se apaixonou? Ou quando uma parte do casal evolui e a outra não?

Efetivamente, não é necessário que o espectador veja as temporadas anteriores de Miracle Workers; no entanto, é uma pena se não o fizer. Perde a ligação do ensemble de atores, a transformação de cada cenário e o fantástico paralelismo de cada personagem nas histórias precedentes.

É um bom episódio – e antologia – para quem já se habituou ao humor particular da série e para fãs de sátira de forma geral. Foi, pelo menos para mim, particularmente curioso, entre crânios esmagados e ratos empratados, ser recordada de que mesmo em cenário pós-apocalíptico, a sociedade encontra maneiras doentias de permanecer igual a si mesma.

7.35
7.5
Interpretação
7.5
Argumento
7
Realização
7.5
Banda Sonora

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