Lockwood & Co é uma das mais recentes apostas da Netflix no mundo de thrillers para adolescentes e jovens adultos, numa nova era que trará o fim de Locke & Key e, naturalmente, do fenómeno mundial Stranger Things. A série é baseada na saga de livros com o mesmo nome, sendo que a 1.ª temporada traz-nos oito episódios inspirados nas primeiras duas obras.
A mão mágica por trás de Lockwood & Co é do britânico Joe Cornish, que escreve, realiza e produz a série. Tendo tido a sensação de familiariedade, uma pesquisa rápida confirmou que se trata da mesma mente que escreveu Ant-Man e The Kid Who Would be King – o que, por si só, revela o humor e a versatilidade de Cornish. É de referir, nesse sentido, que apesar de desconhecer os livros, parece-me evidente que o espírito da saga está vivo e de boa saúde no episódio piloto, This Will Be Us.
O diálogo é eficaz; a comunicação entre as personagens é de uma inteligência ágil e o ambiente torna-se rapidamente natural para o espectador. O tom é reminiscente de séries de detetives da década de 80, reimaginando o futuro com influências próprias da época – e se as tonalidades e a realização de Cornish não nos convencem disso, basta ouvirmos os primeiros acordes de Bela Lugosi, dos Bauhaus (que, de resto, estão bem presentes no primeiro episódio). Além disso, o episódio é um regalo para os fãs de britishness – no humor, no sotaque e no chá, o tempero britânico é a cereja no topo do bolo.
É preciso também mencionar o quão bem escolhidos foram todos os atores – mas, em particular, a jovem protagonista Ruby Stokes (Lucy Carlyle), cuja semelhança com a fenomenal Florence Pugh só pode augurar sucesso. A química natural entre Lucy e o misterioso Lockwood (Cameron Chapman) não é pintada de forma evidente ao espectador, mas sim com a subtileza e delicadeza chave de quem não pretende desviar a nossa atenção da mitologia da série.
A realidade fantasmagórica do futuro próximo é-nos dada a conhecer através dos créditos iniciais, pelo que se és daqueles que aproveitas os mesmos para dar uma olhadela ao Instagram, vais perder pepitas de conhecimento importantes sobre a sociedade em que vivem as personagens. Talvez tenha sido esta a única hesitação relativa ao primeiro episódio: será que os eventos que precedem a atualidade da história são referidos em pouco detalhe para quem não leu os livros? Pode ser, no entanto, um fator irrelevante para os restantes episódios. Cornish tem vindo a revelar-se um storyteller exímio, cujas raízes no humor dão vida ao que é tecnicamente competente.
Lockwood & Co traz-nos um episódio piloto cheio de personalidade, como não tinha o prazer de ver há algum tempo. Tanto o início como o final do episódio são cativantes e constatei com agrado que, afinal, o que seria uma série de adolescentes tem todo o poder narrativo para conquistar millennials com um fraco pelos GhostBusters.