The Last of Us – 01×01 – When You’re Lost in the Darkness
| 16 Jan, 2023
9.15

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O que esperar de um jogo de topo, num canal de topo, com artistas de topo? The Last of Us, a nova aposta da HBO, é tudo o que poderíamos esperar.

Caso estejas com curiosidade em saber como é o jogo em que se baseia, este When You’re Lost in the Darkness de The Last of Us é quase uma fotocópia do início da história. Normalmente até poderia ser um mau sinal, mas é daqueles casos em que se está bem, não vale a pena mexer.

O produto original não tem uma história fantasiosa, superpoderes, magia ou aliens. É uma história de pessoas. Claro, temos um cataclismo mundial provocado por um fungo que torna toda a gente num parente veloz de zombies, que nos faz questionar se de hoje em diante queremos cogumelos na pizza, mas a história nunca foi sobre isso. É um jogo em que os acordes de uma guitarra provocam mais emoção do que qualquer monstro e em que o silêncio vale contos. A primeira parte (e a segunda cimentou a ideia anos depois) é considerada por muitos como um dos melhores videojogos de sempre. Sabes o quão difícil é unir a malta dos jogos com uma generalidade?

Goste-se do gameplay ou não, é dogma de que se trata de um jogo fantasticamente bem escrito, com personagens multidimensionais, uma atmosfera com um papel fulcral e marcada por tragédias pessoais que deixam marcas reais. A série só tinha de pegar nisso e migrar para a televisão.

O ambiente do jogo/série é bastante pesado e cinzento, como uma cozinha sem sal nem cozinheiros com alegria de viver. Os monstros são apenas uma muleta catalisadora da ação, mas os efeitos da tragédia são o verdadeiro foco a explorar. Estes ingredientes fazem com que apreciemos ainda mais o trabalho dos atores e desfrutemos sempre que a história nos dá alguma luz. Neste When You’re Lost in the Darkness de The Last of Us tivemos a backstory de Joel, noutros momentos serão as paisagens incríveis do midwest americano, um diálogo aqui, um tiroteio ali. Em tempos de catástrofe, cada mimo vale por mil e o espectador aprende a apreciar quando aparece. Os mais atentos vão reparar ainda que o episódio não desperdiça diálogo, preferindo sempre o “show, don’t tell”. Algo que Craig Mazin (criador da melhor minissérie dos últimos anos, Chernobyl) já mostrou fazer tão bem.

Muito se diz sobre a maldição na adaptação dos videojogos. Não há maldição nenhuma, o que há é incompetência. Pega-se num jogo que pouco ou nada tem de história adaptável e entrega-se à pessoa que menos ondas cria. Se pegarmos num material desta qualidade, a colocarmos na HBO, adicionarmos o criador do jogo e adicionarmos um dos melhores atores da sua geração, em parceria com uma das melhores jovens estrelas em ascensão não há como falhar.

Pedro Pascal não consegue falhar. Tudo em que toca transforma-se em ouro e o mesmo acontece aqui. Joel é daquelas personagens que, qualquer que fosse a escolha, seria incrivelmente difícil de agradar, tal é a impressão que existe nos amantes do jogo. No entanto, Pascal pega em Joel, copia-o e faz dele seu. O mesmo se aplica a Ellie, com a formidável Bella Ramsey (ambos os atores favoritos dos fãs de Game of Thrones, em temporadas diferentes) a agarrar todos os momentos que merece. Esta é uma Ellie ainda inocente, mas à medida que Bella crescer, também a sua personagem vai ganhar camadas. Anna Torv (Fringe, e mais recentemente Mindhunter) é outro pilar em que se pode construir uma ponte sem medos. Ashley Johnson e Troy Baker (vozes de Ellie e Joel no videojogo) vão aparecer mais tarde. Nick Offerman e Melanie Lynskey farão parte do elenco. Como falhar?

Qual é então o maior problema de The Last of Us? O problema é chegar em 2023. O problema é tudo o que aconteceu depois da 1.ª temporada de The Walking Dead e suas variantes. O problema é uma fatiga por zombies que pode dar origem a uma falta de incentivo para ver o que acontece no ecrã para lá dos monstros. O problema desta série é o mesmo que para os protagonistas: o mundo lá fora.

Não te deixes intimidar com os múltiplos nomes e conceitos (Fireflies, FEDRA, etc), que a série atira inicialmente sobre este mundo. Haverá momentos para respirar e interiorizar à medida que a história avança. Esta é uma história sobre os efeitos da violência e do mundo nas pessoas, mais do que é sobre a violência e o mundo em si. 

Já tenho idade para ter juízo e não meter os berlindes todos num saco de uma série (Game of Thrones, estou a olhar para ti), mas todo o entusiasmo que tinha por The Last of Us só é alimentado por um When You’re Lost in the Darkness lúcido, bem realizado, bem escrito e bem interpretado. Eu já sei o que acontece, mas adoraria não saber para melhor saborear o que promete ser uma das séries do ano.

Podes acompanhar um novo episódio todas as segundas-feiras, na HBO Max.

9.15
9.5
Interpretação
9
Argumento
9
Realização
9
Banda Sonora

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