Chegou, através do Disney+, a série da personagem mais misterioso do universo Star Wars. The Book of Boba Fett vem dar à personagem criada por George Lucas um protagonismo há muito merecido e mostrar-nos como o eterno caçador de recompensas se torna no rei do crime em Tatooine. Boba Fett assume agora o papel de protagonista em mais uma aposta do Disney+ em levar a galáxia de Star Wars para o pequeno ecrã.
Antes de falar do episódio em si, vou relembrar um pouco o contexto da personagem. Boba Fett é um clone, filho de Jango Fett, que se tornou no melhor caçador de recompensas da galáxia. Pode parecer estranho pela sua imensa popularidade, mas Boba apenas apareceu como personagem muito secundária no filme Episode V: The Empire Strikes Back. Na altura, foram-lhe dadas poucas falas (três, se não estou em erro) e o seu trabalho era ajudar Darth Vader em troca de levar Han Solo, de modo a que o entregasse ao famoso Jabba The Hutt. O seu estilo inconfundível e o mistério criado pelo maneirismo da personagem fizeram com que Boba fosse uma espécie de xerife do espaço, cuja cara ficava escondida atrás de uma máscara velha e danificada. No filme seguinte, Boba acabaria por “morrer” ao ser engolido pelo monstro das areias de Tatooine, o famoso Sarlacc, e assim foi durante mais de quarenta anos. Boba estava morto até que regressa de forma surpreendente no primeiro episódio da 2.ª temporada de The Mandalorian. Soubemos então, no final da temporada, que teríamos um spin-off do famoso caçador de recompensas.
Este primeiro episódio de The Book of Boba Fett, Stranger in a Strange Land, serve sobretudo como introdução. Não é um episódio longo, tem pouco mais de meia hora, e ajuda a explicar o que aconteceu nestes cinco anos em que Boba supostamente estava morto. Vemos como Boba fugiu das entranhas do Sarlacc e como teve de batalhar para sobreviver. Vemos também como ele perdeu a armadura para os Jawas, como soubemos em The Mandalorian, e a forma como ele começou a conquistar a confiança do povo da areia. Pelo menos um povo da areia, sendo que estes vestem essencialmente preto, ao contrário dos que conhecemos do passado que vestiam de branco. Talvez esteja aqui uma pista do que vamos ver no resto da série.
Em tempo real, isto é, após o que vimos na série de Mando, Boba tenta apresentar-se como novo rei do crime, uma vez que este assumiu o trono que outrora foi de Jabba. É curioso ver que Boba quer governar através do respeito e da proximidade com o povo, ao contrário do que acontecia com os Hutt que governavam pelo medo. Sendo Tattoine um planeta onde o crime é substancialmente alto e todos querem enganar todos, certo é que Boba terá uma governação difícil pela frente. Nota ainda para o regresso, também já sabido, de Fennec Shand como braço direito do agora rei do crime. A química entre as duas personagens é brutal e encaixa perfeitamente naquilo que é a sua natureza. Boba é uma personagem de poucas palavras, assim como Fennec, daí haver a dúvida de como é que duas personagens que pouco falam iam encaixar com tantas cenas juntos. A verdade é que funcionou na perfeição. Mérito do argumento, mais uma vez a cargo de Jon Favreau, e claro, dos atores Temuera Morrison e Ming-Na Wen que encorparam de forma perfeita a alma das personagens.
No que toca à realização, Robert Rodriguez fez um trabalho excelente. Já tinha sido ele a realizar o episódio onde Boba Fett regressa em The Madalolian e agora volta para este Stranger in a Strange Land da série a solo da personagem. Gostei de ver alguns planos que vão demonstrando o crescimento de Boba, como, por exemplo, quando ele salva o jovem do monstro gigante da areia vemos um plano de baixo para cima com Boba a pisar o monstro derrotado quase como a dizer que é mais forte do que ele. Isto contrasta com um plano igual, minutos antes, onde víamos o monstro superior e maior do que Boba. São dois exemplos de como as imagens podem comunicar e funcionou muito bem.
Para fechar, serei sempre suspeito a falar do universo Star Wars. O meu entusiasmo e gosto de falar sobre este mundo fazem com que tudo pareça mágico. Por isso, convém dizer que o episódio foi incrível, mas não propriamente uma obra de arte. Foi um trabalho muito bem feito que tinha um objetivo – apresentar a história da personagem e mostrar os perigos que ele vai encontrar. Tudo funcionou na perfeição, mas existe espaço para melhorar e sobretudo mostrar mais história que é isso que todos queremos ver. Mas, claro, o entusiasmo é grande e estou em pulgas para ver mais capítulos desta história e de como esta galáxia mágica se vai expandido cada vez mais.
Carlos Real