[Contém spoilers]
No verão, a RTP2 emitiu Atlantic Crossing, mas o canal está a passar novamente a minissérie, pelo que aproveitei para ver, já que gosto bastante de dramas históricos.
A trama inspira-se, portanto, em acontecimentos reais do período da Segunda Guerra Mundial, centrando-se na relação entre Franklin Roosevelt, o Presidente americano, que morreria poucos meses antes do fim do conflito, e a princesa Märtha da Noruega. No entanto, este episódio introdutório apresenta muito pouco da relação entre estas duas figuras da História e foca-se antes na invasão da Alemanha nazi ao país nórdico. Ainda bem, porque penso que esta abordagem à questão da guerra tem muito mais interesse e a verdade é que passei quase todo o episódio numa grande tensão, com receio do que ia acontecer.
O mundo tinha entrado em guerra e na Noruega, tal como certamente em muitos outros países, pairava no ar a grande dúvida: estamos em segurança? O país gozava da proteção da sua neutralidade, mas não significa isso tão pouco quando o mundo parece estar louco? Claro que sim. Vemos então a família real a lidar com a incerteza e o medo, querendo proteger o seu país, mas também a família. A Noruega, tal como a Dinamarca, demorou pouco tempo a cair sob o jugo nazi, portanto restou escapar para a Suécia, que se manteria livre até ao fim da guerra.
Nos 50 e poucos minutos que o episódio durou, estive colada ao ecrã, vivendo momentos de ansiedade que não é frequente sentir numa série que é nova para mim. Não conhecia os personagens, não tinha ainda construído uma ligação com estas pessoas, mas isso pouco importa quando se trata de algo com esta dimensão. As pessoas não estavam em segurança nas suas camas, nas ruas, e mesmo quando tentavam escapar para um lugar seguro, arriscavam-se a morrer na travessia (aliás, A Travessia é o nome português desta série), pois os comboios e outros transportes eram muitas vezes atacados. Tudo isto contribuiu para um episódio repleto de coisas a acontecer, muito dinâmico, mas também angustiante.
Pode ter parecido que foi uma guerra que aconteceu há muito tempo, mas a verdade é que isto se passou na época dos nossos avós. Nem preciso de ir tão longe: basta pensar que a guerra acabou apenas seis anos antes de o meu pai nascer. Acho que o facto de ter sido um conflito tão sangrento, tão abominável e tão próximo dos dias de hoje é particularmente assustador e não consegui abstrair-me de tudo o que sei que aconteceu na realidade enquanto via a série. No entanto, apesar de ter um grande interesse pela temática da Segunda Guerra Mundial, estava completamente às escuras no que dizia respeito a este aspeto do conflito e nem sequer tinha a certeza dos países nórdicos que tinham escapado à Ocupação.
O elenco é muito bom e todos os seus elementos são responsáveis por conferir à série esta sensação de medo, de perigo, de insegurança. É impossível não o sentir do lado de cá. Os cenários são lindíssimos, com aquelas paisagens nórdicas repletas de neve, e a banda sonora é poderosa nos momentos certos. Se gostas de séries passadas nesta época, tens que espreitar Atlantic Crossing. No entanto, não posso dar garantias, porque creio que a série poderá sofrer uma grande mudança de rumo em breve, a julgar pela sua premissa. No entanto, este episódio deixou-me mais do que convencida a continuar a ver. Agora, vou navegar pela internet para descobrir mais um pouco sobre os acontecimentos reais à volta desta trama.
Mais uma ressalva, fiquei incrivelmente intrigada com Eleanor Roosevelt (interpretada por Harriet Sansom Harris), que parece uma mulher fascinante, fazendo jus à sua fama. Podes acompanhar a série na RTP2, de segunda a sexta-feira, por volta do meio-dia ou então na RTP Play, à hora que quiseres.
Diana Sampaio