[Não contém spoilers]
Estreou uma nova série na RTP1, desta feita mais uma coprodução internacional que junta Portugal à Galiza. Chegar a Casa mistura o português, o espanhol e o portunhol numa narrativa leve, pesada, cómica e dramática que tem tudo para agarrar o espectador até ao segundo final do último episódio.
A premissa desta série parte de um conceito banal: o divórcio de um casal junto há quase 20 anos, que agora tem de lidar com todas as mudanças que advêm da separação. Contudo, a forma como o produto final chega ao pequeno ecrã, seja pelas interpretações, seja pela realização, fazem com que a história de Marta, Cayetano e todos aqueles à sua volta pareça algo diferente de tudo o que já foi feito por cá neste género de ficção. A comparação mais fácil e que melhor dá a entender esta sensação é com as séries da BBC, que têm aquele ambiente mais frio, mas ainda assim caloroso e engraçado.
A mistura de géneros naquilo que o elenco da série apelidou de “dramédia” tem sempre os seus riscos inerentes – o drama pode ser demasiado vincado e a comédia demasiado forçada -, mas neste episódio de estreia as medidas foram adicionadas na quantidade certa. As cenas desenrolam-se com leveza e, acima de tudo, naturalidade. Os diálogos e as situações passadas nestes primeiros 40 minutos de Chegar a Casa poderiam acontecer, e provavelmente já aconteceram, a inúmeras pessoas que viram ou irão ver este episódio.
Outro fator com o qual é sempre arriscado jogar são os sotaques. Os exemplos de como pode correr mal colocar atores que não são de determinadas localidades a fazer as pronúncias e sotaques são variados (um deles é A Espia), mas, uma vez mais, esse não parece ser o caso nesta produção luso-espanhola. O espanhol de Joana Seixas está muito bom, opinião confirmada pelo próprio Miguel Ángel Blanco, que dá vida a Cayetano, o marido de Marta, na apresentação de Chegar a Casa. Por sua vez, também Blanco não fica nada atrás com o portunhol. E no que toca à pronúncia do Norte, parece que a opinião geral que já circula pelos internautas é a de que está bastante fiel também.
Chegar a Casa é, sem dúvida, algo único e com um estilo muito próprio que traz novidade à televisão portuguesa. Com apenas oito episódios, não há margem para grandes desvios na trama e com toda a certeza que se vai chegar ao último episódio com a sensação de que sempre se conheceram estas personagens, estas casas, estas localidades e todas as linhas que se cruzam entre elas.
Beatriz Caetano