The End – 01×01 – Do Not Resuscitate
| 23 Jul, 2021

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[Não contém spoilers]

Revolta e personalidade dominam o piloto de The End, onde somos envolvidos na luta da personagem principal para acabar com a sua vida. Eddie Henley (Harriet Walter) é consumida pela descoberta de uma chocante informação, sobre o seu casamento, que sucedeu a morte do seu marido após uma longa batalha contra a doença. Após estes eventos, Eddie entra numa espiral de rejeição da sua própria existência e após colocar em causa todas as suas decisões e percurso, decide tentar terminar a vida nos seus próprios termos.

A inabalável crença de Eddie na sua ideia contrasta com o choque da sua família, em especial da sua filha e médica, Kate Brennan (Frances O’Connor), que decide tomar uma atitude radical para impedir um ato extremo. Eddie torna-se assim o principal projecto da família, que tenta a todo o custo mostrar que ainda há a possibilidade de recuperar a vontade de viver, acabando por se tornar um escape e distração dos problemas que os próprios têm e escolhem ignorar.

Esta sensação de falta de pertença é algo com que todos nos conseguimos identificar e que em algum momento já sentimos e é aí que a série mais nos impacta. Sem um conflito explosivo ou grandes altercações, é nos silêncios e solidão das personagens na defesa das suas posições, direta ou indiretamente, que nascem os seus momentos mais marcantes.

A parte mais interessante do piloto de The End foi conseguir mostrar o ponto de vista de cada uma das personagens em relação a estes temas de uma forma natural e maioritariamente cómica. É fácil percebermos as razões de cada um de querer ou ter de romper o atual estado de coisas e a certeza da necessidade de uma atitude fraturante, em contraste com o medo que consume até os que parecem mais certos e resolutos.

Na sua irreverência, o piloto de The End acaba por ser surpreendentemente real: um reflexo dos dilemas e dificuldades associados ao envelhecimento, sobretudo quando conjugado com a perda, e os extremos que por vezes se criam entre os dois polos opostos: idosos e família. The End é uma produção australiana e britânica com uma abordagem existencialista profunda, encarando temas como o arrependimento, a morte e a doença com uma crueldade e frieza invulgares.

Diogo Gouveia

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