Das três series do Universo Marvel a que o Disney+ deu palco, Loki acaba por ter a personagem mais popular. Tanto Wanda, como Sam ou Bucky nunca chegaram a estatuto de principal, enquanto Tom Hiddleston foi a certo ponto pivot da história, o principal vilão. Dez anos volvidos da primeira aparição, quem é Loki agora e de que maneira é que Glorious Purpose lança a nova aventura?
A série esconde um desafio subliminar, o de redescobrir Loki. A personagem foi antagonista mor, passou a subjugado, tornou-se sidekick e, na reta final, um comic relief. Podemos argumentar que à medida que o Universo Marvel cresceu, o “velho” deus perdeu potência e teve de se reinventar. O que esta nova série exige do espectador é que este “esqueça” essa evolução gradual e redefina o deus pré-queda do pedestal. Ainda assim, as ameaças que Loki pragueja neste piloto não são perigosas, apenas humorísticas, porque sabemos o que sabemos. A minha “reação alérgica” a este primeiro episódio prende-se com isto mesmo: passamos 50 minutos a saber mais que o protagonista e temos de aturar muitos “o que é isto?” e os “cala-te e venera-me, seu insignificante”. Hiddleston mantém todo o seu charme e carisma e, só por isso, toleramos e desfrutamos a repetição constante.
É introduzida uma ameaça a explorar nos restantes cinco episódios, que servirá para dar emprego a Loki e Mobius (não confundir com Morbius!), do também bastante carismático Owen Wilson. No entanto, não é percetível que tipo de série Loki pretende ser, o que pretende contar ou o tom de agora em diante. O que me parece certo é que uma história com seis capítulos é muito pouco para uma personagem do tamanho do mundo como esta. A necessidade de martelar informação, até recorrendo a animações, prova isso mesmo.
Este piloto, num problema relacionado com o parágrafo anterior, carrega também de vontade própria o problema de querer puxar público fora do MCU. O que sobra então do episódio, para além de explicações sobre o que é o TVA e o passado do protagonista? Não muito. Fosse Loki uma personagem menos interessante, que estamos a ver pela primeira vez, e no máximo diria que este piloto quer lançar um procedural de casos semanais, em que um ex-deus se junta a um detetive para resolverem o monstro da semana que salta na timeline sagrada.
A análise soa mais pesada do que tencionava inicialmente, mas em verdade digo que não fiquei espetacularmente entusiasmado por mais episódios. Não fosse Tom/Loki uma personagem/ator que me dissesse tanto, se calhar não via mais. Será que os produtores contaram com o facto de ninguém conseguir dar só uma dentada em Loki e largar? Talvez. A verdade é que pelo menos eu vou ver a temporada toda, aconteça o que acontecer.
Glorious Purpose é um episódio obrigatoriamente explicativo, mas com humor suficiente para não ser aborrecido. Tudo o resto, é demasiado cedo para criticar, elogiar ou até mesmo fazer ideia do que se trata. A temporada de seis episódios (lançados semanalmente, às quartas-feiras), podem ser vistos no Disney+.
Melhor: Além da química entre Hiddleston e Owen, há a destacar o momento em que Loki vê o seu futuro e reage às imagens. Mistura entre sorrisos, choro e choque que só um ator competente seria capaz de fazer bem. Em Iron Man, Tony cai no deserto, o seu protótipo de armadura é destruída e aí nasce um herói. Em Loki, a queda no deserto dita a morte de um vilão e o nascimento de um novo capítulo para a personagem; a ambição de explorar um tema que até agora ainda não foi abordado na MCU. A banalização das gemas tem piada e coloca as coisas numa perspetiva interessante.
Pior: Falha em lançar uma história central de temporada. Perde-se demasiado tempo com a teimosia de Loki em aceitar as suas circunstâncias. É absolutamente normal ele duvidar do que está a acontecer, o problema é que nós sabemos. Porque é que sempre que há uma agência fora das leis do tempo; esta usa computadores e tecnologia retro?
Vítor Rodrigues