[Pode conter spoilers]
Living the Dream é o primeiro episódio da nova série americana, Kevin Can F**k Himself. Infelizmente, para além de serem poucas (ou, sinceramente, nenhumas) as cenas cómicas, o protagonista, Kevin (Eric Petersen), é um homem de meia idade preguiçoso, machista, imaturo e egoísta, o que, para mim, torna a série, desde logo, desinteressante. Na prática, é um primeiro episódio pouco tolerável, e desconfortável de se ver. No entanto, é evidente, este pode ser um aspeto que, ao longo da temporada, vai melhorando.
A protagonista, Allison (Annie Murphy), mulher de Kevin, é, na verdade, a personagem principal. Toda a narrativa gira à volta do seu casamento, e da sua vontade e necessidade de mudar algo na rotina que leva (individualmente ou enquanto casal) e na vida. Pretende mudar de casa, quem sabe encontrar outro emprego, e sair do lugar onde vive há, pelo menos, dez anos. Reencontros e pequenas atitudes por parte dos vizinhos, do marido, e de amigos, fazem-na perceber que precisa de algo mais para ser feliz, e que essa felicidade parece estar fora do seu alcance.
Durante todo o episódio vamos percebendo que esta vontade de mudar e a esperança de uma vida e futuro melhor mantêm Allison relativamente sã, e capaz de continuar a levar para a frente o seu casamento. Contudo, também percebemos rapidamente que existem momentos em que uma espécie de fúria ou loucura momentânea se apoderam da jovem (ex. quando se imagina a matar o marido), pelo que é claro, desde início, que algo de grave se passa. Adicionalmente, existem também pequenos sonhos que vai tendo ao longo dos quarenta e poucos minutos de Living the Dream que nos fazem perceber que, gradualmente, o amor que nutre por Kevin e aquilo que mantém a relação estável, vai desaparecendo. O episódio termina num culminar de momentos que levam Allison a enlouquecer progressivamente.
Apesar de o foco não ser especificamente comédia, nos momentos em que Allison se encontra na presença de Kevin, a série ganha um tom e aspeto de sitcom. Isto acontece, possivelmente, porque a relação do casal (e, sobretudo, a personagem de Petersen) é tão estapafúrdia, que a forma que os criadores encontraram para conseguir demonstrar o cúmulo do “ridículo” foi através de planos e características de sitcoms, como é o caso dos risos de fundo. Pessoalmente, creio que esta foi a única parte que verdadeiramente gostei.
Kevin Can F**k Himself tenta ter piada, mas não tem. O diálogo é pobre, as personagens não são minimamente interessantes (à exceção de Allison) e o machismo inerente à história faz com que todo o potencial hipotético da narrativa vá pelo cano abaixo. A única coisa que salva a série são os sonhos de Allison, principalmente aqueles em que mata o marido, e as partes mais técnicas, que são bem pensadas, a nível da luz, do guarda-roupa, e dos planos. Enfim, nem sempre temos de gostar do que vemos. Esta série é um exemplo disso. No entanto, é claro, posso estar enganada.
Não percas a estreia de Kevin Can F**k Himself, no AMC Portugal, a 5 de julho.
Inês Ribeiro