[Não contém spoilers]
Confesso que após ver Shadow and Bone, não estava preparado para mais uma série em que um misterioso comboio serve de escape à escuridão do mundo que o rodeia. Em Chapter 1: Georgia, The Underground Railroad prova que os humanos podem mesmo ser os piores monstros.
A série chamou-me bastante à atenção aquando do trailer. A temática e os atores chamaram à atenção, mas foi principalmente a originalidade do visual aliado à série de época que me deixou com a pulga atrás da orelha. Mas confesso que não estava preparado para o peso que se iria abater sobre a minha alma. Não contava ser chocado de maneira tão crua e – permitam-me a palavra – bela.
Os momentos iniciais catapultam-nos para uma possível viagem alucinogénica; são planos e efeitos que estamos mais habituados a ver na ficção científica e não no Sul da América em ambiente pré-Guerra Civil. Logo aí destaco o que a série faz com mestria: a mistura entre o “mostrar e não dizer” e depois usar o diálogo para vincar no coração. O trabalho dos atores é para lá de fantástico e faltam-me palavras para descrever o que Thuso Mbedu faz no ecrã. Ainda vamos ouvir falar muito dela!
William Jackson Harper, que anseio reencontrar desde The Good Place, não marca presença neste episódio, mas tanto Aaron Pierre como o talentoso Benjamin Walker dão o ar de sua graça. O principal antagonista destes dez episódios parece ser o sempre incrível Joel Edgerton.
Esta não é uma série fácil, nem sequer uma série que deva ser vista em modo “circunstância”. Primeiro porque é demasiado boa para não lhe darmos total atenção, e depois porque a violência não será para todos os estômagos. Não será também para aqueles que pensam que a pandemia já é deprimente o suficiente para terem de presenciar um dos piores crimes que a humanidade pode provocar a si mesma, a escravidão.
É certo que me refiro apenas ao piloto, mas penso estarmos na presença de um fantástico produto televisivo. Quando vemos o resumo de temporada no final do piloto, há algo de “antologia” que faz antever que cada episódio diferirá dos restantes. Talvez a violência mais física se cinja a este piloto, talvez não. O que é certo é que o realizador de Moonlight, Barry Jenkins, trouxe consigo todos os planos do cinema para dar um ambiente de fantasia e magia a uma realidade muito triste e real. The Underground Railroad é uma série que não mede os socos que dá a quem a vê, mas, em simultâneo, oferece ao espectador tudo o que de melhor se pode ver nesta arte.
Vítor Rodrigues