[Não contém spoilers]
The Mosquito Coast, a nova série da Apple TV+, é uma produção indubitavelmente de qualidade, com uma cinematografia incrível e um elenco que não fica nada atrás. Apesar de todos os elementos para uma grande série estarem presentes, não consigo deixar de pensar que lhe faltou qualquer coisa.
A série é uma adaptação do livro de Paul Theroux, de 1981, situando-o na época contemporânea. Conta a história de Allie (Justin Theroux) e da sua família, que vivem off the grid, longe de todas as comodidades da civilização moderna. Por isso, Allie inventa uma panóplia de instrumentos e máquinas, de forma a ter acesso aos seus próprios recursos, como biogasolina feita a partir de óleo usado ou uma máquina que faz gelo sem acesso a um congelador. No entanto, a família não vive sem comunicação com o mundo apenas por decisão própria. Allie e a família estão a ser perseguidos pela polícia, ainda não sabemos porquê, criando um mistério que acompanhará toda a temporada.
Como referi, a primeira coisa que sobressai na série é a sua cinematografia e imagem. Com uma atenção aos detalhes, a equipa de imagem consegue realmente criar, de maneira brilhante, um ambiente único, tanto pelas cores amareladas utilizadas, que lembram o deserto, um sítio remoto, como pela forma como a câmara se movimenta, lentamente e com atenção aos pormenores da vida familiar.
A questão que me dividiu mais na visualização deste primeiro episódio foi o ritmo. O início do episódio, diria até aos 30 minutos, é de um ritmo muito lento. Eu nem sou pessoa para me aborrecer com episódios lentos, mas confesso que estava quase a desistir de ver. No entanto, nos últimos 20 minutos o ritmo acelera bastante e acaba com um twist que me fez querer ver o próximo.
Agora que já tive algum tempo para digerir o que vi, acho que não vou continuar. Isto porque, apesar de todas as qualidades interessantes a nível da imagem e mesmo do mistério, não há nada nas personagens que me tenha entusiasmado. Vi alguns comentários a comparar esta série a uma história alternativa da família de Walter White de Breaking Bad se vivessem num sítio remoto. E esta comparação fez bastante sentido para mim, pois o mais interessante de Breaking Bad é o que acontece com a personagem de Walter, tal como aqui a personagem mais interessante é Allie, e não a família, similar a tantas outras famílias brancas americanas. O resto não é capaz de me motivar, apesar do mistério ser intrigante, pois acho que já vi demasiadas vezes a história de uma família complicada, em televisão, e nenhuma das personalidades das personagens foi interessante o suficiente para mim. E como nem as personagens se destacaram, nem o enredo, apesar da sua qualidade excecional, não há nada que me prenda ao ecrã, nem mesmo o mistério.
Neste caso, acho que foi um problema de gosto pessoal e não da série, pois é, sem dúvida, de qualidade. Acredito assim que The Mosquito Coast seja capaz de encontrar o seu nicho de audiência na Apple TV+ e proporcionar umas boas horas de entretenimento.
Ana Oliveira