[Não contém spoilers]
Na senda do humor clássico das produções da Showtime, o piloto de Flatbush Misdemeanors, Leanin’, é sádico e sem limites. Desta feita a aposta recaiu numa série que retrata um pequeno bairro em Brooklyn, onde desponta a cena artística, mas também o tráfico de droga e os problemas de segregação racial.
Há um estilo claro quando falamos da Showtime. Normalmente pauta-se pelos episódios curtos, personagens extremamente humanas, desbocadas e com claras tendências para o abismo. O drama anda de mãos dadas com o humor, pois a tragédia das histórias chega a ser ridícula, potenciando exponencialmente a comédia. Logo, e tal como já havia feito, por exemplo, com Californication e The Affair, a produtora volta a mostrar-nos uma série onde é feita uma caracterização precisa dos estereótipos existentes na cidade em que se insere. Dan (Dan Perlman) e o seu melhor amigo Kevin Iso (Kevin Iso) são 2 artistas falhados que tentam sobreviver no bairro de Flatsbush, tentando aguentar os seus trabalhos e vida rotineira enquanto procuram (passivamente) a sua grande oportunidade de carreira.
Dan é um elemento estranho em todos os locais onde passa, dado a sua apatia e falta de iniciativa seja qual for o evento ou situação que suceda, fazendo um evidente esforço para passar despercebido por todos. Por outro lado, Kevin é o oposto. Não só faz a sua presença ser sentida, como o azar parece persegui-lo em cada canto, vivendo numa constante luta pela sobrevivência, e tentando passar entre os estilhaços das explosões que ele próprio cria.
O piloto de Flatbush Misdemeanors fala de alguns dos grandes temas da geração millennial como a depressão, o desemprego e a dependência. Dentro dos extremos que são as suas vidas, os dois amigos encontram os pontos comuns que os unem, ancorando-se na falta de sentido de pertença e de objetivos pessoais. Apesar de não ser uma série particularmente impactante no seu diálogo e enredo, destaca-se pela simplicidade e naturalidade com que os eventos se sucedem e a história se entrelaça. Ainda que fiquemos com a sensação, ao acabar o episódio, que muito pouco foi revelado e que há muito potencial cómico/trágico no delírio que é o universo destas personagens.
Diogo Gouveia