Them: Covenant – 01×01 – Day 1
| 12 Abr, 2021

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Them: Covenant, de Little Marvin, a nova aposta da Prime Video, não é apenas mais uma série de terror à semelhança das outras. O que o primeiro episódio de Them: Covenant nos oferece é muito mais do que meros sustos ou efeitos sonoros de arrepiar. É uma ilustração daquilo que é sofrer com a discriminação racial, a verdadeira sensação de exclusão, de não aceitação e de opressão. Através de elementos sobrenaturais e acontecimentos que nenhum dos personagens parece conseguir explicar logicamente, Them conta-nos a história dos Emory, uma família afro-americana, composta por um casal e duas filhas, que se muda para um bairro em Los Angeles, nos anos 50.

O primeiro episódio de Them: Covenant, que relata os primeiros dois dias da família na nova casa, somos inicialmente brindados com um sonho de Lucky Emory (Deborah Ayorinde) em que esta é abordada por uma senhora de idade que lhe coloca perguntas pouco usuais e lhe canta Old Black Joe, uma canção originalmente interpretada por Stephen Foster. Este sonho acaba por se mostrar como um presságio do episódio, ou até da temporada, visto que traduz a forma como Lucky se sente deslocada e com medo daquilo que o novo passo que está a dar poderá reservar-lhe a si, Henry (Ashley Thomas), Gracie (Melody Hurd) e Ruby (Shahadi Wright Joseph). A simplicidade da cena, do cenário e da música torna mais reais os sentimentos de Lucky, o que permite aos espectadores uma sensação constante de preocupação e ânsia.

É na chegada a Compton, a nova morada, que se apercebem de que os receios que tinham se estão efetivamente a concretizar: é notório o descontentamento dos vizinhos quando se apercebem da diferença do tom de pele dos novos inquilinos. A banda sonora faz um excelente trabalho em demonstrar este descontentamento, assim como a ansiedade e o pânico que, aos poucos, se vão instaurando no casal: além de tomar um tom mais grave, torna-se nitidamente mais pesada. À medida que vão conduzindo pela rua, aparentemente perfeita, repleta de casas em tons pastel e famílias que passeiam alegremente pela rua, apercebem-se de que estão a ser observados por todos aqueles por quem passam.

As sensações inquietantes têm início no momento em que a família chega à casa, contando sempre com uma peça comum: a cave. Estas sensações serão maioritariamente provenientes da mesma, o componente assombrado mais comum em todas as histórias de suspense, com vários acontecimentos que se irão posteriormente suceder. A esta fonte de medo no interior da casa, podemos também somar o elemento externo mais impactante: os vizinhos e os seus olhares propositadamente duradouros e críticos. Este elemento da série é especialmente bem conseguido – a sensação de terror e de ânsia de que algo está prestes a acontecer encontra-se sempre presente, ainda que no nosso inconsciente. 

A estética dos planos e da arquitetura e a personalidade das roupas e das cores são assombrosamente perturbadoras e contrastantes – num momento o céu está azul, as casas pintadas em cores claras e primaveris, e no momento seguinte a música torna-se mais intensa, pesada e grave e o ecrã ganha tons avermelhados e escuros. A forma que os criadores de Them encontraram para demonstrar os momentos sobrenaturais, apesar de perturbadora e original, é simples e eficaz. 

O que nos agarra nesta história, e a razão pela qual é tão inquietante, é o seu realismo. Um tópico claro, atual e assustadoramente real é-nos apresentado de forma fervente, genuína e aterrorizadora. A originalidade na abordagem ao tema da discriminação racial em Them está no facto de a série se inserir na categoria de terror. Sempre marcado por uma violência psicológica extrema, o tom sobrenatural da narrativa acaba por ser uma metáfora para o sofrimento e amargura daqueles que convivem com este problema diariamente. Além de original, esta série é crua, inteligente e arrepiante. Ninguém ficará indiferente.

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