[Pode conter spoilers]
A maior parte das pessoas já ouviu falar da revolucionária Erin Brockovich, ativista e defensora de pessoas mais desfavorecidas, graças ao filme de 2000, onde foi protagonizada por Julia Roberts. A nova aposta da ABC, Rebel, é uma série dramática inspirada na vida e no trabalho de Erin Brockovich. Protagonizada por Katey Sagal, a personagem de Annie “Rebel” Bello é o coração da série. Sempre pronta a defender qualquer pessoa que se veja injustiçada ou indefesa, principalmente por corporações ou pessoas no topo do poder, Rebel faz tudo ao seu alcance para alcançar a justiça. Pode-se dizer que a vida profissional de Annie está acima de tudo o resto, o que faz com que a sua vida pessoal sofra as consequências.
Neste primeiro episódio, Rebel confronta o CEO de uma corporação fabricante de válvulas para o coração. O problema é que estas válvulas estão a ter efeitos secundários muito graves nos seus pacientes e ninguém da corporação está a fazer nada para resolver o problema, escolhendo mesmo ignorar todas as queixas. Rebel mostra bem o tipo de personagem que é, – confiante, persuasiva e determinada – , quando recolhe testemunhos de cada uma das vítimas para conseguir ter um caso para apresentar contra a corporação. É impossível não torcer por ela, uma personagem que não tem medo de ir contra tudo e todos para obter justiça.
Como referi, a sua vida pessoal fica sempre um passo (ou vários) atrás da sua vida profissional, mas é também o elemento catalisador de todo o drama mais íntimo da série. Rebel tem três filhos de três ex-maridos diferentes e está numa relação com outro homem, o futuro quarto marido. Gostei muito das diferentes dinâmicas a que somos expostos, pois Rebel tem uma relação diferente com cada um dos filhos, mas também com cada um dos ex-maridos. São relações, no entanto, menos caóticas do que se esperava de uma situação destas. Os filhos e os ex-maridos formam uma espécie de comunidade para a protagonista, organizando eventos em conjunto e apoiando Rebel, mesmo que relutantemente, em tudo o que a protagonista necessitar. É de notar que o elenco que representa a família está muito bem nos seus papéis. Gostei muito de ver Andy Garcia e Ariela Barer, dois atores que gosto muito, em papéis diferentes. Estou também interessada em descobrir como é que as suas histórias individuais, bem como as do resto da família, evoluem durante a temporada.
No geral, considero que foi um primeiro episódio interessante, com uma estrutura previsível, um drama com algumas pitadas de humor, uma protagonista forte e personagens secundárias com potencial para evolução. A maior crítica que tenho a apontar é a série não conseguir ir mais longe. Nota-se que é uma série destinada a um público mais casual, por isso tem uma estrutura muito fixa: um caso por episódio a resolver pela Rebel e um amontoar de dramas pessoais em cima. Atenção, não acho que isto seja uma opção má, necessariamente. O problema é que com temas tão fortes como violência doméstica e corporações malignas, havia espaço de manobra para criar uma história realmente marcante, que conseguisse deixar um impacto significativo no espectador. Em vez disso, temos uma resolução fácil, mais focada na forma como Rebel a resolveu, do que nas vítimas. Acredito que se esta série fosse da HBO, por exemplo, seria muito mais dark e consequentemente, uma série mais impactante.
Vou dar o benefício da dúvida e ver mais uns episódios de Rebel, a dramatização televisiva de Erin Brockovich, pois penso que esta forma leve de abordar certos temas também se possa dever a este ser o primeiro episódio e, portanto, os criadores estarem ansiosos por mostrar todos os detalhes da série em simultâneo. Espero que nos próximos episódios seja dado mais espaço para cada “caso da semana” ter tempo de respirar, ao mesmo tempo que a história mais geral da Rebel é desenvolvida. É um caso de esperar para ver, mas acredito que a série tem potencial para ser muito interessante.
Por cá, Rebel vai estrear no Disney+ a 28 de maio.
Ana Oliveira