[Contém spoilers]
Encabeçados por Ulysse, estrearam ontem no SyFy Portugal os primeiros quatro episódios da série francesa de 2017, Missions. A série passa-se num futuro próximo e segue um grupo de astronautas na primeira missão espacial tripulada a Marte. A missão é composta pelos melhores astronautas europeus de França, Alemanha e Itália e pela psicóloga Jeanne Renoir (Hélène Viviès). No entanto, a grande questão que se coloca é se esta é realmente a primeira missão tripulada ao Planeta Vermelho ou se houve alguém que lá tenha chegado primeiro.
Como entusiasta de ficção científica e de séries europeias, não podia deixar passar esta nova estreia em Portugal. Nunca tinha visto nenhuma série francesa deste género e, pelo trailer, parecia-me ter potencial. Cada episódio tem apenas 20 minutos, o que costuma ser mais típico de séries de comédia, mas que funciona bastante bem em Missions.
O primeiro episódio começa com um flashback de 1967, com uma missão russa falhada a Marte, em que o astronauta, supostamente, morre na entrada na atmosfera. Contudo, o final do flashback deixa antever que poderá não ser bem assim. Missions avança cerca de 50 anos no tempo, para uma altura em que vários astronautas se juntam para fazer parte da Ulysse, missão que fará uma viagem de dez meses e que deverá ser a primeira a pisar Marte.
Numa das primeiras cenas, em que todos se reúnem para o briefing, são-nos fornecidas informações sobre o estado mental da tripulação, que, compreensivelmente pela situação em que se encontram, já se deteriorou bastante, mas ao contrário do que costuma acontecer noutras séries de ficção científicas, em que estes ambientes são retratados através de discussões acesas e comportamentos violentos por parte das personagens, aqui, no que me parece ser um retrato mais próximo da realidade – realço o “parece”, pois obviamente nunca estive numa situação parecida – e não sensacionalista, os sentimentos e as sensações que seriam representadas através de reações físicas, são-nos aqui mostrados de forma mais subtil e através das análises da psicóloga da tripulação. É claro que com a permanência prolongada no Planeta Vermelho, os ânimos terão tendência a exaltar-se, mas esta subtileza inicial no tratamento deste aspeto confere à série um tom mais sério e que nos tira o ceticismo com que possamos olhar para ela.
A trama parece simples ao início, mas depressa se começa a complicar. A tripulação tem de lidar com problemas na aterragem (ou seria melhor dizer “amartagem”?), perde um dos seus tripulantes, tem de lidar com um sistema de Inteligência Artificial aparentemente inofensivo e ainda encontra alguém que se pensava estar morto há muito tempo. Os episódios vão-se desenrolando a um ritmo médio, não demasiado lento, permitindo-nos ir acompanhado a história e mantendo a curiosidade sobre o que irá acontecer a seguir, sem sentirmos que a história não está a avançar. Já o enredo em si está muito bem pensado e estruturado, apesar de conter uma falha ou outra que poderão passar despercebidas aos telespectadores menos atentos: parte da tripulação sai em busca de baterias num rover elétrico completamente funcional? Não teria sido mais fácil tirar uma das baterias do rover?
O elenco está à altura do que lhes é pedido, não havendo a destacar, até agora, nenhuma personagem ou cena que tenha surpreendido por aí além.
O som é uma parte importante da série, com a aterragem (ou “amartagem”) e toda a tecnologia envolvida e penso que é neste campo que se destaca. É também tendo em conta este aspeto que dou 9 pontos à banda sonora.
Em suma, Missions apresenta-nos uma série de ficção científica que não precisa de recorrer a dramatismos exagerados para conseguir prender o público, concentrando-se na narrativa e em contar a história como ela é, sem recursos a grandes artifícios. Vou, sem dúvida, acompanhar os restantes episódios e mais uma vez se prova que não é preciso um grande orçamento nem uma grande produção para se conseguir fazer televisão de qualidade, mesmo dentro de um género como a ficção científica. Os episódios são emitidos todas as segundas-feiras, às 22h15, no SyFy Portugal.
Cláudia Bilé