[Pode conter spoilers]
A RTP2 estreou no passado domingo a 3.ª temporada da série alemã Charité, com o piloto “Eiserne Lunge”, anunciando-a como sendo a 2.ª temporada, pois nunca transmitiram a primeira. Esta temporada passa-se no ano de 1961, uma data marcante por ser o ano da construção do Muro de Berlim e de revolução e muita agitação. O mundialmente famoso Hospital Charité fica próximo da fronteira e irá também ele ser afetado por este acontecimento.
Antes de mais, um pequeno aviso: eu não considero os acontecimentos que descrevo na review spoilers, mas se, como eu, não gostam de saber pormenores da narrativa antes de verem os episódios, então prossigam com cautela.
“Eiserne Lunge”, (Pulmão de Aço, em português), é o primeiro dos seis episódios que fazem parte desta temporada. Tendo começado com uma 1.ª temporada muito boa, passada em 1888, época da ascensão do nacionalismo, e seguida por outra, que pouco lhe ficou atrás, com a trama a desenrolar-se na Segunda Guerra Mundial, esta temporada também se desenrola durante uma época importante, a da construção do muro que viria a dividir Berlim Ocidental e Berlim Oriental.
Como já referi na review do piloto da 2.ª temporada, ao longo das temporadas é interessante observar como o mesmo local se vai adaptando e modernizando à época em questão. E não só o cenário, mas também as mentalidades. Na 1.ª temporada tínhamos uma jovem que queria vingar num mundo de homens, enquanto na segunda já vemos as mulheres a terem um papel de maior destaque. Nesta temos uma personagem que me parece que irá ser uma peça importante no seu campo de estudo. Observa-se também uma grande mudança de comportamentos em relação às temporadas anteriores, com as personagens, principalmente as femininas, a poderem ter mais liberdade na escolha daquilo que querem vestir, a ser mais livres e a terem posições de maior destaque dentro do hospital. Há também uma personagem que poderá ser interessante para o desenvolvimento da narrativa, uma vez que se vai integrar num povo que, muito pela antiga liderança de Hitler, se via como uma raça superior e também porque a personagem vem também de um país com políticas bastante repressoras, chegando a fazer um comentário onde dizia que Cuba estava pior do que a Alemanha.
Desde logo, é-nos mostrado as discrepâncias existentes entre as duas Alemanhas através do caso de um jovem com poliomielite. Situado na zona leste de Berlim, o hospital recebe um jovem da zona ocidental que sofre desta paralisia, porque lá, simplesmente, não são vacinados. As mentalidades são diferentes e isso pode levar a conflitos. Será interessante ver como é que a série se vai desenvolver nos próximos episódios e se continuará a lidar com estas questões das diferenças entre os dois lados.
Um problema que não era um problema nas temporadas anteriores é a escassez de pessoal e de material. Os médicos do hospital são obrigados a fazer escolhas ou a reutilizar materiais que deveriam ser descartáveis, pondo em risco a vida dos pacientes. Se pensarmos na época em questão, são poucas as séries que abordam a área da saúde da altura, e para que se interessa pela temática, e não só, esta será uma boa oportunidade para termos uma noção do que se passava nas instituições médicas.
Claro que não podia faltar o médico que se acha melhor do que todos e que, se ele não descobriu a cura para determinada doença, não vale a pena continuar a investigar. O Professor Doutor Otto Prokop (Philipp Hochmair) será o maior entrave ao trabalho da Dra. Ella Wendt (Nina Gummich), que deverá ter um papel importante na investigação do cancro. Pego nestas duas personagens para dizer que, não apenas elas, mas todo o elenco, mais uma vez, fez um excelente trabalho. Mesmo o rapaz que sofre de poliomielite me pareceu bastante convincente na sua atuação, mesmo nas cenas em que tinha de deixar cair os membros ou a cabeça, como se não tivesse controlo sobre eles.
Para adensar a trama, uma das últimas cenas deixa-nos antever que o hospital poderá vir a ser palco de “negócios” ilícitos, uma vez que os militares entram no edifício e pedem para guardar vários litros de sangue secretamente.
Em suma, o piloto da 3.ª temporada de Charité deixou-nos, mais uma vez, entrever o que deverá ser uma temporada com um bom elenco, personagens interessantes e histórias que nos levarão a entender melhor a sociedade da época. O episódio está disponível na RTP Play ou nas Gravações Automáticas da vossa box até domingo. Se ainda não viram, ainda vão a tempo!
Cláudia Bilé