Em 2029, um misterioso apagão global levou a décadas de caos e anarquia. Como consequência, as velhas nações desapareceram e, em vez disso, incontáveis microestados emergiram com as suas próprias identidades, crenças e costumes, sendo conhecidos como Tribos. Assim é a nova série da Netflix que habita em 2079 e se denomina Tribes of Europa.
Conceito familiar, certo? Ultimamente, por alguma razão, neste tipo de história parece que há sempre um grupo de pessoas que vive do que a terra lhes dá, usa capas e outras roupas de aparência primitiva e evita qualquer tipo de tecnologia. E, muitas vezes, por esse motivo, estes grupos são massacrados pelas pessoas que realmente possuem tecnologia (que possuem o poder). Será que o mesmo aconteceu aqui?
Confesso que nos primeiros minutos do episódio piloto de Tribes of Europa me senti um pouco sem vontade de ver o resto do episódio. Parecia ser apenas mais um episódio de uma série num universo pós-apocalíptico. Mas fui vendo e no fim acho que valeu a pena o tempo perdido. Mais que não seja por ser uma série europeia que sempre tem visões diferentes das que nos são apresentadas do outro lado do Atlântico e assim traz algo de novo e diferente ao modo como nos habituámos a ver este registo.
Houve então um crescendo no episódio, começando a um ritmo lento e desabrochando num interessante enredo que nos deixa a querer saber mais do que se está a passar e de como as coisas se irão desenvolver. Mas com apenas seis episódios, há pouco espaço para desenvolvimento e há sempre o risco de estes episódios serem efetivamente os últimos. Dito isto, não sei, sinceramente, se a série vale a pena ou não. Acho que depende muito do estado de espírito de cada um e do quanto gostam deste género.
Já que estamos numa série sobre a Europa, teria sido interessante haver mais interseção de línguas. Houve uma mistura de inglês e alemão, mas e porque não um bom holandês ou um bom português? Acho que podiam ter desenvolvido mais este aspeto, mas pronto. Há também outras perguntas que ficam no ar: o mesmo está a acontecer no resto do mundo? O que realmente aconteceu para que as coisas chegassem a este ponto? Está tudo muito nublado e não sei se a névoa alguma vez se dissipará.
Apesar dos atores (Emilio Sakraya, Henriette Confurius, entre outros) terem estado relativamente bem, sinto que não conseguiram criar com o público (definitivamente comigo não) uma empatia que nos faça realmente importarmo-nos com eles e com o seu futuro. Os ambientes são também bastante agradáveis à vista e fazem-nos querer dar lá um saltinho para explorar (ainda para mais agora que estamos em confinamento).
Por fim, quero só deixar aqui uma dúvida no ar, será que esta série também tem o propósito de ser uma alegoria sobre a atual política complicada da Europa? Talvez… Brexit e outros problemas podem acabar por ser a razão para que tudo isto aconteça.
Filipe Tavares