[Não contém spoilers]
Confesso que com o fim de temporada de Conta-me como foi fiquei a necessitar de outra série portuguesa para preencher a minha vida, e quando li a sinopse de Até que a Vida nos Separe percebi que poderia ser a substituta ideal. Temos novamente uma história de uma família, neste caso os Paixão, que nos contam três visões diferentes de viver o amor através de gerações distintas. Entre eles existe um compromisso com o amor, com o casamento e, em especial, com o negócio de família – a organização de casamentos. Portanto, é também uma série familiar, mas com um toque mais cru e fatalista, focando-se principalmente no amor e no desamor. A tese principal de Até que a Vida Nos Separe, percetível neste episódio piloto, é que muitas vezes, tal como o nome indica, não é a morte que separa os casais, mas sim a vida.
Considerei todo o elenco e representação ao mais alto nível, o que não é de admirar considerando os nomes já conhecidos como Rita Loureiro, Dinarte Branco, Madalena Almeida ou Albano Jerónimo. Ainda assim, com uma lista tão extensa de personagens, fica a dúvida sobre qual será o rumo que o enredo da série irá levar e se, realmente, irá fazer justiça a todas as personagens, ou se algumas ficarão mais à margem.
Onde, para mim, a série mais brilhou foi em três aspetos: realização, banda sonora e guião. Penso que a produção da RTP trouxe uma lufada de ar fresco à televisão no que respeita a cinematografia e o cuidado meticuloso com o planeamento das cenas. A nível sonoro temos direito a uma playlist variada que passa pela música portuguesa, música estrangeira, pela música mais conhecida e pela menos ouvida. Os diálogos são muito bem escritos, com uma pitada de humor e sempre atualizados e em concordância com a sociedade de hoje em dia. Não digo que fiquei chocada, mas pelo menos surpreendida por ver tantos tabus quebrados em horário nobre na RTP e de forma tão crua – seja a inclusão de um casal poliamoroso, seja a inclusão de uma personagem vegana. Espero que nos próximos episódios continuem a desconstruir novas temáticas, mas claro que estas desconstruções devem ser feitas com peso e medida para que não caiam no estereótipo e sejam sim plurais para surtir o efeito desejado. Refiro isto pelo facto de Marco ser vegan e, simultaneamente, contra o capitalismo. A personagem cai no estereótipo, provocando riso. Por acaso, olhei a cena com um tom de sátira, até porque depois Marco questiona o pai sobre ele gostar tanto do capitalismo, mas ainda não ser rico. Ainda assim, espero que Marco tenha um desenvolvimento que vá além desta descrição estereotipada para que não se prolongue a associação do veganismo ao extremismo e antissistema, por exemplo.
Em suma, durante o episódio piloto, Até que a Vida Nos Separe dá-nos a conhecer a família Paixão e vemos qual será o tom do resto da temporada: apostar num negócio de celebração de divórcios e, quem sabe, comemorar um divórcio também no próprio seio familiar. Ainda que não seja de todo o mesmo estilo de Conta-me Como Foi, parece-me sim uma produção à altura para ser grandiosa de forma independente no canal. Podem assistir à série todas as quartas-feiras na RTP e na RTP Play.
Ana Leandro