[Não contém spoilers]
A Netflix tem-se aventurado bastante nas adaptações nos últimos anos e tem-se saído bastante bem em certas apostas, como é o caso de The Witcher. Contudo, tenho de admitir que há algumas em que a gigante do streaming dá valentes tropeções. Através do BookTube, eu já conhecia a duologia de Sona Charaipotra e Dhonielle Clayton. Contudo, tinha lido algumas críticas aos livros e não eram propriamente as melhores, mas isto não queria dizer que a série fosse má. Aliás, há casos em que a adaptação para TV supera o conteúdo original (é raro, mas acontece). Foi o caso da série The Undoing, da HBO. No entanto, cheira-me que Tiny Pretty Things não vai seguir o mesmo caminho – confesso que só vi o primeiro episódio, Corps, mas este piloto mostrou bastante o que vai ser a série a partir daqui.
Tiny Pretty Things foi descrita como uma mistura entre a série Pretty Little Liars e o filme Black Swan. No entanto, também senti ali bastantes vibes de Gossip Girl. A série passa-se num colégio interno em Chicago, uma academia de elite de ballet em que se formam os melhores bailarinos e bailarinas. Como seria de esperar, a competição está ao rubro. Tudo começa quando um trágico acontecimento leva uma estudante para o hospital. Como tal, Neveah Stroyer consegue uma bolsa de estudos para a academia.
Comecemos pelos pontos positivos. Fiquei bem contente que a Netflix tenha ido buscar um elenco de desconhecidos. Eu, pessoalmente, apenas conhecia Lauren Holly (que entrou em séries como NCIS e Motive), que interpreta a diretora da escola, Monique Dubois. De resto, todos os atores escolhidos para os papéis de alunos ou eram estreantes ou muito fresquinhos nos mundos de Hollywood. Isso é bom. Chega a haver uma saturação de estrelas nas séries. A Netflix escolheu atores – parece-me – ligados ao mundo do ballet. Houve imensas cenas de dança e isso encantou-me porque adoro ballet. E pelo que me pareceu, nenhum dos atores usou um duplo para o papel; eram mesmo eles em todos os aspetos. Claro que não há nenhuma Amy Adams ou uma Viola Davis, mas pronto, uma pessoa não pode pedir tudo.
Também gostei do facto de terem introduzido temas que ainda não se veem muito nas séries, como é o caso da bulimia. E logo num rapaz. Sempre que este tipo de distúrbios alimentares aparece em cinema ou TV, 90% das vezes é com raparigas. Não faz sentido porque é uma doença sem género, mas já sabemos que a Netflix é pró em quebrar estereótipos. Depois temos vários vislumbres da vida dura de um bailarino/a. Não é um percurso fácil e, apesar de o piloto ter tocado nesse assunto ao de leve, já deu para entender (espero) que vão explorar mais esse mundo ao longo da temporada.
O resto foi, para não ser mais severa, bastante mediano. Eu estava a olhar para o relógio constantemente porque parecia que o episódio nunca mais acabava. Tiny Pretty Things estreou-se com Corps, num episódio de 58 minutos; depois fui ver e todos os episódios são quase de uma hora. Deus me livre! Cada vez que pensava que ia acabar, havia mais cenas e mais história. Custou-me bastante assistir ao episódio completo de seguida. Menos 15 ou 20 minutos não tinham feito mal e saberíamos o mesmo.
Apesar de o tema do ballet não ser muito comum nas séries, os outros temas estão mais gastos do que a sola dos meus chinelos (desde março que estou em teletrabalho, portanto podem entender o que quero dizer). Temos Neveah, a outsider que é mega talentosa e imediatamente desprezada pela maioria dos colegas, a menina rica que imediatamente odeia a outsider porque sente que pode ser ofuscada por ela. Temos aquela que quer agradar aos pais, que acham que ela devia seguir outra carreira “mais normal”, como médica ou advogada, e, como não podia deixar de ser em quase todos as séries de adolescentes, todos os pais dos personagens são péssimos. Ah, claro, e o mistério do que terá acontecido a Cassie. Aí sim estão as semelhanças com Pretty Little Liars. Cassie parece ser uma espécie de Alison DiLaurentis. Ela parecia ser bastante popular, mas, no fundo, ninguém gostava dela.
Resumidamente, como primeiro episódio, este Corps de Tiny Pretty Things veio bem fraquinho, bem genérico e com tudo o que já vimos em mil séries young adult. Mesmo nos pontos em que se destaca não consegue fazer-me esquecer que é apenas mais um peixe num oceano em que há tanto por onde escolher e esta pode passar bem ao lado.
Maria Sofia Santos