Pelo que consigo apurar, as reviews a esta 4.ª temporada de Fargo são bastante divisórias. Há quem eleve o ambiente e escrita característicos da série, lamentando os três anos que esteve fora do ar. Assim como há quem lamente que mergulhe cada vez mais na sua presunção e pouco haja para espremer ao final do dia. Permitam-me expor um destes pontos…
Chris Rock é a escolha invulgar para dar vida a um dos lados neste confronto intemporal entre famílias mafiosas. Um ciclo vicioso em que se troca filhos dos líderes para serem educados pelo gangue rival. Uma espécie de apólice de seguro contra a violência, mas cuja eficácia há muito foi desmascarada (o que nos faz questionar porque raio continuam a fazê-lo!). O estilo narrativo, a cinematografia e ritmo deverão ser imediatamente reconhecíveis para os fãs mais fincados. Também reconhecível é o modo como os arcos prometem cruzar-se entre si, mas com cruzamentos tão fortuitos quanto o desejo da história e de maneira tudo menos orgânica. Também não orgânicas são as conversas entre personagens, em que há uma preocupação maior em fazer monólogos ou realizar um setup do que propriamente algo que pareça, vá, uma conversa.
Após Welcome to the Alternate Economy, o primeiro episódio desta temporada de Fargo, não é propriamente percetível porque é que Loy Cannon (Chris Rock) é um líder respeitado (o seu “poder” é prever o futuro do sistema bancário?!), ou que tipo de personagem é Oraetta Mayflower (Jessie Buckley) além de conseguir fazer o máximo de barulho possível a matar alguém sem que o segurança com o sono mais pesado de sempre acorde. De que modo é que Josto Fadda (Jason Schwartzman) será mais do que a tradicional caricatura do filho do mafioso arrogante que só quer mandar ou como é que o negócio de família da jovem Ethelrida Pearl Smutney (E’myri Crutchfield) irá entrelaçar com Oraetta. Acima de tudo não se percebe que drogas rolaram na cabeça de Noah Hawley para dar estes nomes às personagens (uma delas chama-se Doctor Senator!!!).
Outro ponto que convém salientar é a contemporaneidade de uma história com 70 anos. Os temas raciais são claramente um foco nesta temporada e a história mais recente dos EUA tornam a sua abordagem relevante. O problema é que a série não é de modo algum subliminar com esta mensagem e, entretanto (Fargo era suposto estrear em Março), muitas outras séries que passaram/passam pelos ecrãs atualmente focam-se no mesmo assunto.
Acredito nas vozes críticas (normalmente não me costumam enganar!) que dizem que a temporada vai ficar melhor à medida que se desenvolve. A verdade é que para já, Welcome to the Alternate Economy não me convenceu. O ritmo, a sensação de que é mais “fogo de vista” do que conteúdo e que o criador queria contar uma história de mafiosos e “Fargo” já é um branding conhecido… faz com que pelo menos a vontade em devorar os episódios seja diminuta.
Espero no final estar a engolir as minhas palavras. Chris Rock e um elenco estelar fazem com que tudo seja muito mais tolerável e a cinematografia única transporta-nos para um universo característico e quase único na televisão. Veremos é se no fim não é só isso que vai valer a pena.
Por cá, a 4.ª temporada de Fargo estreia nos Canais TVCine a 5 de outubro.
Vítor Rodrigues