[Pode conter spoilers]
Protagonizado por Brittany O’Grady (Star), Little Voice explora as complexidades do início da idade adulta. Pelos olhos e através da música de Bess, tentamos navegar por aquela altura esquisita em que o mundo começa a exigir de nós que sejamos adultos antes de termos tido tempo de descobrir quem somos.
Little Voice é uma série peculiar. Não posso dizer que seja original ou particularmente brilhante, tanto no que toca ao enredo como em termos de performance. No entanto, o resultado final é, qual maravilha matemática, muito superior à junção dos seus elementos. É uma das poucas séries para as quais, nos últimos tempos, o nosso sistema numérico de classificação não é benéfico.
Não sei explicar que tipo de magia está aqui a funcionar, mas suspeito que tenha a ver com uma coisa que a própria Bess refere quando fala da sua música. Bess refere-se à sua música como earnest (genuína, sincera, honesta) e fá-lo com uma simplicidade e de tal forma desprovida de ego que vemos também nela essa qualidade. De um modo geral, é isso que define Little Voice.
Esta série, que parece ter sido feita com base na banda sonora (o que faria bastante sentido visto que é uma criação de Sara Bareilles), assemelha-se a uma representação visual de um estilo muito particular, mas meio indefinível de música de que pessoalmente gosto muito. É algo de muito ténue entre o sensível (o romântico) e o lamechas, que para mim resulta muito bem.
Claro que tem as suas falhas. O piloto é um pouco vago e não nos dá grande enquadramento; só serve realmente para que criemos empatia com Bess. O início do arco romântico é muito óbvio e até a reviravolta que leva é relativamente previsível. A própria Bess é uma protagonista cada vez mais comum.
Mas sei lá… resulta tão bem. Talvez porque a música é linda, ou porque O’Grady tem de facto uma qualidade earnest que acaba por salvar aqueles momentos mais a descair para a banalidade sentimental, mas a verdade é que, terminado o episódio, nenhuma das falhas me saltou à vista. O que ficou foi uma sensação semelhante à de ouvir na rádio uma música que não conhecemos, mas que parece ter sido escrita para nós.
Raquel David