[Não contém spoilers]
Betty é uma série da HBO, criada por Crystal Moselle, que se foca num grupo de jovens raparigas skaters que tentam encontrar o seu espaço no mundo do skate, em Nova Iorque, dominado maioritariamente por rapazes. Esta série é uma espécie de spin-off do filme da mesma realizadora, intitulado Skate Kitchen (2018), contando com o mesmo elenco e passada no mesmo universo.
É interessante começar por dizer que o filme em que a série se baseia começou como uma espécie de documentário ficcionado. A realizadora conheceu este grupo de raparigas skaters em Nova Iorque e, quando percebeu os seus problemas de integração neste desporto, decidiu fazer um filme sobre o tema. As atrizes do filme são realmente o grupo de skaters a representar personagens ficcionais, mas baseadas nelas próprias. Esta sensação de estarmos a ver um documentário transparece muito na série, tanto por opções de realização, como pela química óbvia entre as personagens. Depois de ler sobre esta situação é que percebi que esta química se devia às atrizes serem realmente amigas e aquilo ser mesmo o mundo delas.
Se por um lado este lado documental traz um fator de autenticidade à série, por outro faz com que o enredo seja muito fraquinho. No primeiro episódio há um pequeno conflito, que é facilmente resolvido, mas não nos deixa à espera de mais. Percebo que o ponto alto da série seja a relação entre este grupo, mas preciso de algum tipo de conflito ou objetivo que me faça continuar a ver.
Gosto imenso de ver televisão pela possibilidade de conhecer de perto outras realidades, completamente diferentes da minha. Acho que neste caso, esse ponto acabou por não estar a meu favor. O episódio acaba por apenas abordar dois tópicos: skate e drogas e, um pouco por isso, acabou por me passar completamente ao lado. As conversas entre as personagens eram-me completamente indiferentes e sinto que não consegui conectar-me com nenhuma delas. A certo ponto, senti que estava a observar uma história que já toda a gente conhecia, menos eu. Essa sensação de familiaridade do documentário é boa e má, ao mesmo tempo. Senti que não se esforçaram o suficiente para introduzir as personagens e para fazer com que o espectador sentisse empatia. Aquelas personagens apenas estão ali, e existem, e nós estamos a ver. O que por vezes pode resultar, mas neste caso não senti que fizesse sentido.
Acho que é uma série com um tópico importante, as vidas e os conflitos deste grupo de raparigas devem ser representados em televisão, mas talvez tivesse resultado melhor em formato documentário, numa minissérie documental. Os problemas que tive com o episódio acabam por ir todos ter à parte ficcional: a representação, o enredo e as opções de realização. No entanto, acho que a série pode ter a sua audiência, com pessoas que não se importem tanto com a falta de enredo e/ou pessoas que se identifiquem mais com este ambiente.
Ana Oliveira