Desde que vi pela primeira vez a apresentação desta produção conjunta entre a RTP e a Televisión de Galicia que fiquei com bastante vontade de ver a série. Talvez tenha deixado que as minhas expectativas se elevassem um bocadinho demasiado, mas a verdade é que acabo por sair deste primeiro episódio de Auga Seca um pouco sequiosa.
Sequiosa porque penso que estaria à espera de um pouco mais do que uma série que, talvez por não se conseguir desapegar da pesada cultura de telenovelas de ambos os países que a originam, tem mais de intrigas familiares (com uma grande empresa familiar por base, um qualquer acontecimento trágico e uma sacanice à mistura, neste caso a Galdón, a morte de Paulo e o tráfico de armas) do que de crime e mistério.
O ritmo bastante lento deste primeiro episódio talvez também não ajude à desconstrução desta perceção do “já vi esta premissa em 5 ou 6 novelas diferentes…”.
Apesar da realização que deixa um pouco a desejar e do ritmo deste episódio ser, como já mencionei, lento e dele ser exaustivamente introdutório a todos os ângulos do enredo, a história em si tem potencial. Que nem um esboço de um quadro, já nos deixa ver quais vão ser as engrenagens da série e revela os pontos de tensão entre os personagens. Se isto é bom ou mau, se tornou demasiado óbvio ou não os desenvolvimentos que irão acontecer daqui para a frente, só os próximos episódios dirão, mas para mim, este foi mais um ponto em que acho que a série peca por cair nos costumes das novelas e poderá acabar por perder no fator surpresa dos restantes episódios ao dar dicas de tudo neste. Claro que posso, e espero, estar enganada.
Não tão importante, mas outro ponto que me incomodou ligeiramente foi o excesso de caracterização à vilão do vilão português interpretado por Adriano Luz, com o seu olho de vidro, cicatriz e pala à pirata. Um pouco exagerado, mas ao mesmo tempo, até que dá aquele toque caricato à personagem.
Mas nem só de pontos negativos se faz este episódio. O argumento, embora um pouco batido, tem potencial para se demonstrar como algo refrescante, falta aguardar pela realização ou não desta potencialidade.
A performance dos protagonistas sobe a nota deste episódio. De destacar, claro, o papel de Victoria Guerra, como Teresa, e dos atores que dão vida ao Inspetor Viñas e a Mauro. Comecei a gostar bastante do trabalho de Victoria depois de a ver na série 3 Mulheres, também da RTP, e cuja review pode ser lida aqui, e foi também essa uma das razões por que fiquei entusiasmada com Auga Seca. Embora ela apareça bastante neste episódio, creio que este ainda não tenha dado oportunidade de vermos muito da atriz no seu melhor. Ainda assim, o que pudemos ver dela não desiludiu. Também creio que a personagem da Inspetora Ferreiro seja das que mais se irá revelar uma presença interessante e positiva para a série.
E claro, embora não tenha nada a ver com a história em si, não posso deixar de mencionar o quão divertido é ouvir o galego e as suas semelhanças com o português. Embora não tenha orelha treinada para a língua, parece-me também que os atores portugueses que aparecem a falar nesta língua também o fazem muito bem. Claro que, com a facilidade de adaptação dialética que temos, tinham que ser os tugas a fazer a ponte e falar tanto o português como o galego na série. Ainda tenho curiosidade para ver se algum dos atores espanhóis se vai aventurar a falar português ao longo dos próximos episódios.
Mélanie Costa