Wir sind die Welle, Nós somos a Onda, em português, é mais uma série original Netflix alemã, que se inspira no filme Die Welle, A Onda, baseado em factos reais, e que segue um grupo de jovens que se revoltam e formam um movimento revolucionário que se alastra rapidamente e toma um rumo assustador.
Para começar, quero apenas frisar que gostei bastante do filme que serviu como base para esta série e estava muito reticente quanto a este piloto. Como é que vão conseguir fazer uma produção que mantenha a qualidade do filme original? Era esta a pergunta que me fazia variadas vezes. Estava à espera de uma história igual à original, mas não foi isso que este episódio nos deu. O que vimos no primeiro episódio foi uma adaptação da história aos dias de hoje, sem tentar imitar o original. Fiquei bastante satisfeita com esta escolha, pois fazer uma versão alargada do filme não teria sido uma opção muito inteligente. Uma das diferenças mais notórias é que a “a Onda” não nasce na sala de aula, mas sim fora dela, e foi (será) criada por um aluno e não um professor, como no filme. As motivações são também elas diferente e adaptadas à realidade em que vivemos.
O episódio apresenta-nos a um grupo de personagens todas diferentes, mas com uma coisa em comum, cada um é alienado à sua maneira, não estão satisfeitos com a sua vida e estão suscetíveis à sugestão. Entre estas personagens, está o novo aluno da escola, Tristan (Ludwig Simon), que chega e ninguém sabe muito bem quem ele é. Tristan passa uma imagem desleixada e descontraída, mas, por outro lado, parece ser um jovem bastante inteligente. Esta personagem misteriosa vai-nos sendo revelada ao longo do episódio através dos seus atos. É óbvio que Tristan anda a rondar os alunos e a ver quais são os mais desfavorecidos para começar a ganhar a sua confiança, tudo isto com um objetivo subjacente que é juntá-los ao grupo “a Onda” ou então criá-lo, no fim deste episódio não sabemos bem se o o grupo já existe ou não. Esta sensação de que Tristan anda a rondar os alunos é-nos dada através dos planos da câmara, que se movimenta como se fosse os olhos dele na procura dos seus eleitos.
Vivemos tempos incertos em relação ao futuro do planeta, o tema do bullying tem estado na ordem do dia em todos os noticiários, o racismo e o preconceito em relação aos refugiados continua, os partidos de extrema-direita têm vindo a ganhar cada vez mais representação nos parlamentos por todo o mundo e há cada vez mais pessoas a optarem por um estilo de vida minimalista, não deixando o capitalismo levar a melhor. São estes os temas que foram abordados no primeiro episódio e que serão certamente desenvolvidos nos próximos. O ponto de partida da experiência do Prof. Wenger em Die Welle era: “Seria possível a Alemanha voltar a viver numa ditadura?”, e agora pergunto-me se será possível utilizar o mesmo mote para esta série. Eu penso que sim, porque, de certa forma, o que os partidos de extrema-direita querem fazer é controlar e restringir cada vez mais os direitos das pessoas, mas não podemos descurar todos os outros temas já enumerados acima. O capitalismo e o consumismo são, também eles, uma espécie de ditadura. Apesar de não estarmos (sempre) cientes disso, a verdade é que estamos a viver de acordo com aquilo que as marcas e as grandes empresas querem, obrigando-nos a comprar aquilo de que supostamente precisamos para ser mais felizes e aceites. O que a série me parece ir fazer é consciencializar o público para os problemas acima enunciados e isso é premente, ainda mais nas gerações mais novas, que poderão ver a série e identificar-se com as personagens.
A série conta com duas caras já conhecidas de outras séries da Netflix: Mohamed Issa (Dogs of Berlin), que dá vida a Rahim, e Béla Gabor Lenz (Dark), que interpreta Marvin, ambos com desempenhos muito bons, assim como todo o elenco, maioritariamente jovem.
Além de nos apresentarem as personagens e o contexto, o episódio já nos deixou com vontade de ver mais e de querer saber como se vão desenrolar os acontecimentos. A única coisa que tenho a apontar é que achei a mudança de Lea (Luise Befort) demasiado rápida e irrealista, podiam ter esperado, pelo menos, até ao próximo episódio para mostrar os resultados da influência de Tristan nela. Percebo que só têm seis episódios, mas não acredito que alguém vá mudar o seu pensamento por ter tido dois dedos de conversa com um desconhecido.
Resumindo, Wir sind die Welle pega no que considero um dos melhores filmes alemães do século XXI e dá-lhe um toque moderno, abordando temas que precisam de ser discutidos na sociedade, ao mesmo tempo que nos presenteia com uma narrativa que nos prende ao ecrã. O piloto não desiludiu e continuo com as expectativas altas para os restantes cinco episódios desta série alemã.
Cláudia Bilé