[Pode conter spoilers]
As vidas de Alex Levy (Jennifer Anniston) e Bradley Jackson (Reese Witherspoon) colidem quando o co-apresentador de Alex (Steve Carrell) se vê envolvido num escândalo sexual, e Jackson dá inadvertidamente origem a um viral video. Um inside look às vidas pessoais e profissionais de quem nos traz as notícias todas as manhãs.
Todos nós sabemos que se há coisa que os americanos fazem bem é o patriotismo. Não há nada nada mais brilhante e inerentemente americano do que um filme sobre todo e qualquer tipo de situação patriota. Os americanos são donos e senhores do patriotismo em câmera, são campeões do processo de transformar qualquer situação em algo bigger than life, porque compreendem com uma força e genuinidade bélicas que as coisas são assim: realmente grandes. Pode ser estranho falar de patriotismo no contexto de The Morning Show, mas não é. Aliás, é estritamente necessário. The Morning Show eleva as notícias da manhã ao idealismo patriota duma campanha eleitoral. The Morning Show concentra todas as qualidades que fazem da América a potência [problemática] que é. The Morning Show é a representação da cultura americana para televisão, da forma mais humana e na sua melhor faceta, que vi nos últimos. No atual clima político, The Morning Show é um verdadeiro feito de entretenimento, porque nos convence de superioridade moral das pessoas que ainda se importam.
As personagens basilares desta série, na pele de Jennifer Anniston e Reese Witherspoon, são completamente distintas exceto num ponto. A sua integridade. Digo integridade não só no sentido moral. A sua integridade pessoal, a força com que acreditam nos valores que as definem. A força com que acreditam no poder da verdade. A força com que acreditam na importância da notícia, de fazer chegar a informação a um público que cada vez mais se mostra desinteressado, de educar uma população que cada vez mais dispensa ser educada, porque acreditam que essa é a única maneira de chegar verdadeiramente às pessoas. Tanto Alex como Bradley são, à sua maneira, o epítome do jornalista. O verdadeiro jornalista, o que não é guiado por likes, por números de audiências, mas pela procura da verdade. O jornalista idílico, o idealista, que é, no sue fundo, inerentemente americano.
Através das suas personagens humanas, com falhas, genuínas, intensas, The Morning Show concentra em si todas as idiossincrasias da cultura americana, que fazem dos Estado Unidos uma super-potência. Não quer isto dizer que tudo seja positivo, pelo contrário. Mas é tudo feito com uma força, com um investimento que noção no desespero. Porque nesta cultura, tudo é uma questão de vida ou de morte. Arriscaria-me a dizer que é isso que nos interessa tanto nas séries americanas e que é por isso que a indústria do entretenimento lá tenha mais força que noutros países. Ainda que se façam coisas muito interessantes noutros sítios. Mas isso seria uma discussão para outra altura. O importante frisar agora é a qualidade inegável de The Morning Show. Uma série sobre perda, sobre amor (em todas as suas facetas), sobre uma ambição enraizada na paixão e na pura crença da necessidade de mostrar a verdade, de dar a conhecer o mundo às pessoas que vivem nele. É uma história de pessoas que dedicam tudo a fazer aquilo que consideram o seu dever, seja qual for o custo.
Não querendo dar muitos spoilers acho importante deixar-vos algumas imagens que achei maravilhosas. Em primeiro lugar, a maneira como Alex lida com a família. Muitas vezes estas personagens femininas fortes são apresentadas como duras e inflexíveis, mas Anniston consegue transmitir-nos com um olhar o carinho que tem por eles. Vemos no seu olhar o quanto lhe custa abdicar de passar tempo com a filha para trabalhar, ao mesmo tempo que percebemos que ela não seria capaz de abdicar do trabalho e apesar de breve, é um momento brilhante da parte de Anniston que faz com que a cena fique connosco. Do outro lado do duo, temos um momento também incrível da parte de Witherspoon em que a mãe a acusa de arruinar um jantar de família e nós assistimos a uma mudança essencial da parte de Bradley (qualquer tipo de clique interno) sem que Witherspoon tenha de mexer um músculo. E finalmente, a título de conclusão, o momento em que Alex e Mitch (Carrell) finalmente se confrontam. O momento que, em muito, deverá definir a plot line desta temporada e que, em menos de 5 minutos, condensa uma relação e uma parceria de mais de 15 anos que contextualiza tudo o que se passou até agora.
Brilhante, intensa, mas surpreendentemente leve, The Morning Show é uma série a não perder e que tem todo o ar de quem só virá a melhorar. Quem já viu de certeza que não se arrepende, e a quem não viu um conselho: vão ver.