[Pode conter spoilers]
Criado e escrito por Channing Powell, de The Walking Dead, este thriller psicológico de ficção científica passa-se alguns anos no futuro, quando toda a gente tem implantado o The Feed (ou será que não?).
Através de um implante no cérebro, o Feed permite que as pessoas compartilhem informações, emoções e memórias instantaneamente. A realidade pode ser aumentada em tempo real, é possível alterar a aparência dos ambientes, ouvir música ou assistir a um vídeo no canto do olho enquanto se está a fazer as mais variadas tarefas, tais como cortar legumes, por exemplo, e/ou gravar um clip e revivê-lo repetidamente a partir do cérebro.
Só esta descrição deixou-me logo entusiasmado com esta série que inevitavelmente me fez lembrar do episódio The Entire History of You de Black Mirror. Depois de ver o piloto, continuo a achar o conceito da série bastante parecido com o episódio referido atrás. Assim como ele, The Feed faz-nos questionar os limites da tecnologia e os benefícios e armadilhas de estar sempre conectado, o que é especialmente oportuno nesta nossa era de obsessão pelas redes sociais. A escolha e a liberdade são reais ou é apenas uma construção social criada para apaziguar as massas? O que se pode fazer quando a tecnologia foi criada inicialmente para fazer o bem, mas acaba causando mais danos? A tecnologia passou dos limites? Estas são algumas das questões com as quais a nossa sociedade já está a lidar em 2019, fazendo de The Feed uma oferta bastante oportuna.
É tão fácil perder-se neste mundo e tornar-se tão viciado que perdemos completamente a noção do que realmente se passa à nossa volta e no mundo real; esta é a imagem que os autores querem passar. Os habitantes deste futuro mundo trocaram privacidade por conveniência e o Feed é tão enredado na sociedade que mal se pode existir offline. O futuro é realmente distópico – quais serão a consequências finais que esta tecnologia trará para a humanidade?
Como é uma série de dez episódios, a história vai-se aprofundar muito mais do que acontece num simples episódio de Black Mirror, que apesar de conseguir num episódio mostrar consequências relacionadas com a tecnologia realmente assustadoras, viscerais e brilhantes, estes são únicos e acabam sem dar grande profundidade às personagens e seguimento à parte das consequências. Estou realmente curioso para ver o que irá resultar daqui e a direção que esta série irá seguir.
Neste piloto as performances foram exemplares e credíveis com personagens profundas e relacionáveis, destacando-se Nina Toussaint-White e Guy Burnet, e muito disto também se deve aos escritores e criadores que tornaram a série real e relacionável o suficiente para todos nós percebermos os problemas que os personagens estão a enfrentar, ao invés de se perder nas ervas daninhas da tecnologia, tornando-a em algo que não conseguimos entender.
Tema interessante, enredo e personagens também, mas como nem tudo é um mar de rosas, existem pontos negativos, claro. Um deles, a meu ver, foi que o episódio, apesar de ser de uma hora, pareceu mais longo do que isso, o que significa que houve algumas cenas desnecessárias que diminuíram o ritmo da história. Veremos como serão os episódios daqui para a frente, mas acho que uma temporada de oito episódios teria sido talvez o ideal para tirar estas cenas mais enfadonhas e que não acrescentam nada de novo. Para além disto, houve muitas questões que também não ficaram claras, tal como por exemplo ‘O The Feed é algo que as pessoas se voluntariam para implantar ou tornou-se obrigatório?’. Talvez sejam respondidas mais tarde… não sei.
Concluindo, acontecendo num futuro que se pode avizinhar muito próximo, esta série é instigante por causa da sua plausibilidade assustadora em que os espectadores definitivamente vão querer assistir até ao fim para ter uma ideia do destino da sociedade.
Filipe Tavares