Avlu é uma série turca que teve bastante sucesso no país de origem e que agora nos é trazida pela Netflix com uma divisão de episódios diferente da original. Na Turquia, a série passava em episódios de cerca de duas horas, enquanto na Netflix teremos episódios de cerca de 40 minutos. Serão estes primeiros 40 minutos que irei analisar nesta review. Avlu passa-se numa prisão diferente de todas as outras, destinada apenas a mulheres, e retrata a vida das reclusas que nela habitam, tendo como personagem principal Deniz, uma mulher que é enviada para lá depois de ter dado um tiro no marido, de quem era vítima de violência doméstica.
O episódio começa com a imagem da filha do casal, Ecem, a chorar no seu quarto ao ouvir o pai a bater na mãe. Os gritos à distância são assustadores e toda a cena nos consegue puxar para aquele ambiente de medo e violência. Toda a sequência inicial é lenta e violenta, o realizador decidiu demorar o seu tempo a retratar o sucedido. Desde o episódio de violência doméstica, ao tiro, à chegada da Polícia, tudo isso nos é dado sem pressas, permitindo-nos entrar mais profundamente no clima de tensão e ansiedade que as personagens estão a viver. Com a panorâmica sobre a cidade, as sirenes da Polícia começam a ouvir-se à distância e vão aproximando-se cada vez mais, até que começamos a ter um vislumbre dos carros e vamos seguindo a comitiva até ao prédio onde Deniz vive. A fotografia está muito bonita nesta parte, mas, ao mesmo tempo, sentimos a aflição de quem está à espera, pois os carros da Polícia demoram a chegar, exatamente como se o incidente tivesse acontecido na vida real.
O episódio vai bem encaminhado, a cena perturbante de Deniz querer falar com a filha e a tentativa de fuga gravada juntando a câmara lenta e a velocidade normal da câmara dá um dramatismo extra a toda a cena. A dor daquela mulher é real e ela não merece estar ali.
A imagem que nos é dada da prisão é dura, há grupos, há líderes e os mais fracos têm muitas vezes de se rebaixar para sobreviverem. Já se percebeu toda a rivalidade que existe e que os dias de Deniz naquela prisão não serão fáceis. O mais interessante daqui para a frente será ver a evolução da personagem, que terá de ganhar outra força se quiser sobreviver naquele meio.
O realizador demora o seu tempo em todas as cenas, utilizando a imagem e a capacidade de os atores transmitirem emoções falar por si só. Esta é uma mais-valia para a série e não se torna aborrecido, nem o espectador fica impaciente à espera da cena seguinte.
O tema da violência doméstica é hoje em dia muito falado, mas numa sociedade, como a sociedade turca, penso que ainda existe muito machismo e a ideia de que a mulher tem de se submeter às ordens dos homens. Acho que ninguém sabe que Deniz sofria de violência doméstica e a reação da filha, que lutou anteriormente para proteger a mãe das agressões do pai, no quarto de hospital, vendo o pai a lutar pela vida, é ainda mais perturbadora. Ecem está a chorar pelo pai, a pedir que ele sobreviva, como se ele fosse a pessoa mais querida e bondosa do mundo, o mesmo pai que ameaçou matá-la horas antes. As vítimas têm sempre simpatia e gostam do agressor e pensam sempre que ele vai mudar e isso é aqui demonstrado. Estou com curiosidade para ver a sua reação em relação à situação em que a mãe se encontra, parte essa que não foi abordada no episódio.
Em suma, este episódio-piloto pareceu-me ser uma base sólida para uma história que pode ser contada e realizada de forma inteligente e interessante, ao mesmo tempo que nos mostra a dura realidade da vida nas prisões. Os desempenhos dos atores foram sólidos e só posso esperar que esta qualidade se mantenha no resto da série. Estou curiosa para ver os próximos episódios e a forma como vão conseguir manter a história interessante ao longo de toda a temporada.
Cláudia Bilé